"Eu não acredito muito em milagres. Uma mangueira não há de produzir laranjas, há de produzir mangas. João Lourenço chega a Presidente, mas tem a sombra de José Eduardo dos Santos", que sai do poder ao fim de 38 anos, considerou, em entrevista à Lusa, o responsável da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA).
Danda acredita que haverá "dificuldades no desempenho", considerando que a recente indicação, pelo chefe de Estado cessante, dos membros das forças de defesa e segurança "é um indicador de que o outro [João Lourenço] não vai ter vida fácil".
O vice-presidente do partido do "Galo Negro" deixa uma mensagem ao futuro chefe de Estado angolano: "Se diminuir a arrogância, se conseguir fazer uma luta interior para se libertar de alguns vícios e se tiver coragem, sobretudo, para poder impor essa mudança nos seus camaradas, talvez consiga fazer alguma coisa".
"Eu desejo-lhe toda a sorte do mundo, só não gostaria de me chamar João Lourenço", acrescenta.
Na campanha eleitoral, o candidato do MPLA (partido no poder) apontou como principal tarefa o combate à corrupção, mas o vice-presidente da UNITA pergunta: "Como é que alguém vai fazer isso, se é filho da corrupção?", acusando o futuro Presidente de cometer "corrupção eleitoral" ao distribuir bens à população durante a campanha eleitoral.
Além disso, "toda a gente estava à espera que [João Lourenço] dissesse que património é que tem", o que não aconteceu.
"Durante toda a pré-campanha e campanha eleitoral, João Lourenço não foi capaz de dizer como é que iria corrigir o que estava mal nem era capaz de dizer o que estava mal", criticou.
Angola está "muito endividada", mas "seguramente João Lourenço não conhece a dívida, que tem níveis assustadores", acredita.
Para a UNITA, o novo Presidente foi "mais nomeado do que eleito", chegando ao poder graças a "votos roubados".
"Infelizmente, o MPLA consegue roubar tudo, rouba o dinheiro do povo, rouba os votos. Enfim, está-lhes no sangue", criticou.
Raúl Danda avisa que "os angolanos ganharam muita consciência nos últimos anos, a sociedade é exigente".
"Infelizmente, continuamos a viver num país onde se prioriza o militantismo em vez da cidadania, o que é grave", sublinhou.
João Lourenço foi confirmado como novo Presidente de Angola no dia 06 de setembro, data em que a Comissão Nacional de Eleições divulgou os resultados definitivos das eleições gerais de 23 de agosto, que deram a vitória com 61% ao Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA).
A União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) foi a segunda força política mais votada, com 26,67% dos votos, seguindo-se a coligação de partidos Convergência Ampla de Salvação de Angola - Coligação Eleitoral (CASA-CE), com 9,44%.
A oposição contestou os resultados junto do Tribunal Constitucional, mas os recursos foram chumbados.