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A corrupção afasta a visita do Ministro das Relações Exteriores do Brasil a Angola

24 Mai, 2017
Chanceler brasileiro Aloysio Nunes Ferreira Filho Chanceler brasileiro Aloysio Nunes Ferreira Filho

Entre os dias 8 e 15 de maio deste ano (2017), o Ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes, esteve pela primeira vez na África com a função ministerial. Ele visitou cinco países: África do Sul, Botsuana, Malawi, Moçambique e Namíbia.

Segundo nota à imprensa, o Itamaraty afirma que a visita objetivou tratar das agendas de cooperação, comércio e investimentos com os respectivos países. De acordo com o próprio Ministro, a viagem serviu para sinalizar a importância da África às relações exteriores do país. 

Houve envolvimento do presidente angolano José Eduardo dos Santos no esquema de corrupção que Operação Lava-Jato investiga.        

Surpreendeu, contudo, o fato de Angola não estar entre os destinos desta primeira viagem. Os dois países, que possuíam maior proximidade diplomática nos dois governos brasileiros anteriores, assinaram acordos de Parceria Estratégica e de Cooperação e Facilitação de Investimento entre 2010 e 2015.

Além disso, Angola recebeu ou recebe auxílio de cerca de 70 projetos de cooperação técnica supervisionados pela Agência Brasileira de Cooperação (ABC), é o país com maior concentração de Investimento Externo Direto (IED) brasileiro na África e o quinto que mais importa do Brasil. Portanto, a questão da sua ausência na agenda de visitas se ressalta, pois, em termos estratégicos, Angola deveria estar presente na primeira viagem à África realizada por Aloysio Nunes e a razão para esta ausência na agenda diplomática do Ministro pode estar na Operação Lava-Jato.

Conforme disseminado pela mídia, no final do ano passado (2016), o ex-presidente Lula e o empreiteiro Marcelo Odebrecht foram denunciados pelo Ministério Público Federal (MPF) pela criação de um suposto esquema de favorecimentos em empréstimos do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para obras executadas pela construtora Odebrecht em Angola.

Segundo denunciado, esse esquema teria o envolvimento do presidente angolano José Eduardo dos Santos, que está no poder há quase 40 anos e possui outras denúncias de corrupção.

Sabe-se que, entre 2003-2010, o Banco Estatal concedeu cerca de US$ 3 bilhões para operações de comércio e investimento de empresas brasileiras em Angola. Deste montante, parte expressiva foi destinada a Odebrecht, que está há quase 30 anos operando em Angola e é considerada a maior empregadora privada do país.

Ademais, anteriormente, o atual Ministro já demonstrou certa desconfiança com as ilicitudes sob investigação. Em 2013, quando ainda era Senador, o ministro Aloysio Nunes protocolou na Procuradoria-Geral da República pedido de instauração de inquérito para investigar possível ilegalidade na ação do então ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, de tornar secretas as informações relativas aos empréstimos do BNDES em Angola.  

Diante disso, resta saber como ficarão as relações diplomáticas entre ambos os países. O último encontro diplomático relevante ocorreu em outubro de 2016, quando o ex-ministro José Serra recebeu, no Palácio do Itamaraty, os ministros das relações  exteriores de Angola e de outros países africanos pertencentes à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), para discussões multilaterais.

CEIRI NEWSPAPER

Last modified on Quarta, 24 Mai 2017 00:56
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