"O Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), cuja popularidade tem estado a esmorecer entre a tradicional base de apoio, está claramente a fazer uma jogada para manter os eleitores do seu lado nas eleições", lê-se num comentário ao aumento de 10% decidido para os funcionários públicos em Angola.
Na análise, enviada aos investidores e a que a Lusa teve acesso, os peritos da unidade de análise económica da revista britânica The Economist escrevem que "o 'timing' do anúncio, apenas dois meses antes das eleições, não é uma coincidência" e vincam que a estratégia tem um prazo de validade curto.
"Este tipo de despesa motivada politicamente, numa altura em que as receitas do Governo continuam baixas devido aos preços do petróleo e ao crescimento limitado, pode apenas dar ganhos de curto prazo ao partido", que depois terá de compensar o aumento da despesa.
"A despesa adicional vai ter de ser compensada ou por mais cortes nos serviços ou por mais endividamento, e ambos vão custar mais à economia a longo prazo", concluem os analistas da Economist, que admitem que "apesar de o aumento estar bem abaixo da taxa de inflação, vai oferecer algum conforto aos angolanos mais desfavorecidos".
O salário mínimo angolano por grupos de atividade vai aumentar 10%, em média, o equivalente a 2.000 kwanzas (10 euros) mensais, passando a cifrar-se entre 16.500 e 24.754 kwanzas (88 a 148 euros), muito abaixo da inflação só de 2016.
De acordo com o decreto presidencial 91/17, de 07 de junho, o salário mínimo nacional referente aos setores do comércio e da indústria extrativa aumenta para 24.754,95 kwanzas mensais, face aos anteriores 22.504,50 kwanzas (121 euros), fixados há precisamente três anos.
Contudo, devido à crise financeira, económica e cambial que o país atravessa, só entre janeiro e dezembro de 2016 a inflação oficial em Angola foi superior a 40%.