Jonas Savimbi olharia hoje para Angola com “muita tristeza e desgosto” – dirigentes da UNITA

Post by: 21 Fevereiro, 2022

Políticos históricos da UNITA e familiares dizem que Jonas Savimbi, morto há 20 anos, olharia hoje para Angola com “muita tristeza e desgosto” depois de contribuir “ativamente” para a independência e democracia do país, como “reconhece a nova geração”.

Jonas Malheiro Savimbi, fundador da União Nacional para Independência Total de Angola (UNITA, maior partido na oposição), morreu em combate em 22 de fevereiro de 2002, na região de Lucusse, província do Moxico, leste de Angola, onde esteve enterrado até 2019, ocasião em que o corpo foi inumado na sua terra natal, Lopitanga.

Os 20 anos passados desde a sua morte assinalam-se na terça-feira com uma romagem ao seu túmulo em Lopitanga e um ato de massas no Andulo, província do Bié, presidido pelo presidente do partido, Adalberto da Costa Junior.

Para Alcides Sakala, deputado da UNITA, o fundador Jonas Savimbi deixou um “grande legado histórico para Angola, África e o mundo”.

Jonas Savimbi “é uma referência incontornável” na história de Angola, de África e do mundo, considerou: “Com a contribuição que deu para esta luta que terminou, praticamente, com a União Soviética. Dr. Savimbi contribuiu para o fim da União Soviética na luta que ele fez aqui em Angola”.

“Legou os fundamentos da democracia, portanto havia dois atores que se degladiaram durante anos em Angola, uns que defendiam um sistema de partido único e a UNITA que defendia a democratização do país”, disse Alcides Sakala em entrevista à Lusa.

Segundo o ex-secretário da UNITA para as relações exteriores, “venceu” a visão de Jonas Savimbi sobre a democratização de Angola, reconhecendo, no entanto, que “também houve bom senso da outra parte (do MPLA) em assumir o processo de democratização”.

“Portanto, vencemos todos, considerando que a democracia, ainda entre os vários sistemas, é o melhor sistema que permite esta aproximação, o debate contraditório entre os diferentes atores da nossa sociedade”, sublinhou.

O político da UNITA assegura que o legado de Jonas Savimbi é hoje reconhecido pela nova geração, referindo que o partido, fundado em 1966, constitui um dos seus legados e "se fortalece todos os dias” visando assumir a alternância do poder em Angola.

“Há também uma nova tomada de consciência no nosso país, há uma geração que sofre imenso hoje, significa que, de um lado, existem os fatores sociais que determinam também esta mudança de consciência, portanto e a UNITA surge como esta força de vanguarda”, afirmou.

Passados 20 anos após a sua morte, Sakala acredita que se o líder fundador do seu partido estivesse vivo olharia hoje para Angola com “sentimento de muito desgosto”, por “ter lutado contra as injustiças sociais que infelizmente prevalecem” nas últimas duas décadas.

"Ele preferiu morrer aqui para combater estas injustiças sociais, porque Angola continua cada vez pior, infelizmente, temos estado a regredir e isso é constatação de toda a gente”, frisou.

“Infelizmente, nesses últimos 20 anos da parte do Governo angolano, não houve vontade política suficiente para darmos passos concretos, com João Lourenço iniciou-se o processo de reconciliação, se quisermos, nos primeiros anos do seu mandato”, realçou.

“Mas, infelizmente, depois as coisas começaram a retroceder, no momento em que fizemos a inumação dos restos mortais do Dr. Savimbi no cemitério da Lopintanga teria sido um momento de continuarmos, mas depois a coisa parou”, lamentou.

Sakala disse desconhecer a razão das coisas “atualmente regredirem” e deplorou igualmente a falta de diálogo entre a UNITA e o MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola, no poder desde 1975).

“Não há diálogo hoje entre as duas forças políticas e é uma questão que tem que ser encorajada, porque há questões de interesses nacionais que têm que ser abordadas neste quadro da bipolarização”, defendeu.

A UNITA, no entender do general Samuel Chiwale, ex-comandante geral das Forças Armadas de Libertação de Angola (FALA), extinto braço armado do partido, foi um dos “principais legados” de Jonas Savimbi que “existe e continuará a existir até às gerações vindouras”.

“Não termina hoje e nem amanhã. Com a morte de Jonas Savimbi perdemos um chefe, mas o nome dele continua nas nossas almas até a vitória final”, disse à Lusa o general e deputado Samuel Chiwale.

A “independência, a democracia e o exemplo de coragem e patriotismo” constituem os três eixos do legado de Jonas Savimbi para Angola, na perspetiva de Rafael Massanga Savimbi, um dos seus filhos, “um caminho que está a ser trilhado pela nova geração”.

Jonas Savimbi “contribuiu para que Angola fosse independente, fez parte dos três grandes (movimentos de libertação de Angola) e o segundo legado que deixou para Angola é o da democracia”.

“Queiramos ou não, gostemos de Savimbi ou não, mas foi no seu tempo em que a sua organização lutou para a introdução do princípio da democracia em Angola”, frisou.

O “exemplo de patriotismo e coragem” foi para Rafael Massanga Savimbi o terceiro grande contributo do pai para o país: ”Jonas Savimbi foi um homem formado na Suíça, mas por amor à sua pátria, com muita coragem ele decidiu dedicar toda a sua vida para o bem da maioria”.

A nova geração, sublinhou, “está a trilhar este caminho, a nova geração de angolanos inspira-se em Jonas Savimbi e até é impressionante porque é, sobretudo, a geração mais nova do que a minha, cuja fonte de inspiração é Jonas Savimbi”.

“E neste quadro todo é fundamental repetir que nós somos todos angolanos, somos todos irmãos e nunca mais partamos para a violência”, defendeu.

Massanga acredita igualmente que se Jonas Savimbi estivesse vivo olharia hoje para o país “com muita tristeza, porque o que se vê hoje em Angola, a injustiça, a falta de oportunidades, o défice em si da democracia, penso que seriam coisas que iriam magoá-lo”.

“Porque ele deu a vida toda para que isso fosse efetivo”, atirou.

Angola celebra 20 anos de paz, que se assinala em 04 de abril próximo, data em que foram assinados os acordos de paz entre o governo do MPLA e UNITA, pouco mais de um mês depois da morte de Savimbi.

Para Alcides Sakala não foi a morte de Jonas Savimbi que contribuiu para a pacificação do país, pois ambas as partes desejavam um acordo: “Não, pensamos que perdemos um combate, mas não perdemos a guerra naquele tempo. Naquela altura, tanto uma como outra parte ansiavam por um acordo, por uma saída para este conflito, Dr. Savimbi morreu em combate, a UNITA continuou, Dr. Savimbi formou quadros que deram continuidade ao seu projeto e ideias”.

“Eu não penso assim (que a morte de Jonas Savimbi pacificou Angola), penso que o que houve foi um constituir de circunstâncias infelizes, porque não se faz paz matando adversários, mais uma vez podia se encontrar um caminho, mas infelizmente foi a circunstância”, comentou Rafael Massanga Savimbi.

“Convém dizer que antes da sua morte, os que estiveram com Jonas Savimbi confirmam e reconfirmam que já mesmo em dezembro (de 2001), Jonas Savimbi queria declarar um cessar-fogo para dizer que chega (…)”, recordou.

Alcides Sakala, Samuel Chiwale e Rafael Massanga Savimbi acreditam igualmente que a UNITA mantém a sua matriz e cultura organizacional desde a sua fundação em Muangai, adaptando-se, no entanto às novas circunstâncias.

Os políticos acreditam ainda que Adalberto Costa Júnior, atual presidente do partido, vai liderar a UNITA para a primeira vitória eleitoral em agosto próximo porque “há uma série de indicadores que nos levam a estas conclusões”.

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