Em declarações à Lusa, o jornalista Coque Mukuta afirmou que se encontrava a filmar junto ao cemitério de Santa Ana, local onde iria ter lugar a concentração, quando foi abordado pela polícia, cerca das 09:30 locais.
“Estava a captar imagens do local onde não havia propriamente uma manifestação, apenas algumas pessoas espalhadas. A polícia interpelou-me e disse que eu não tinha de fazer filmagens ali, porque não tinha autorização”, relatou.
Mesmo após se ter identificado como jornalista e ter mostrado a carteira profissional, Coque Mukuta foi obrigado a entrar numa carrinha policial e a entregar os seus passes de serviço, bem como o telemóvel, à polícia.
O jornalista disse que na carrinha estavam já dois jovens que tinham comparecido para participar na marcha convocada pela sociedade civil e que pretendia chamar a atenção do Tribunal Constitucional para as alegadas irregularidades que estão a ser cometidas durante o processo eleitoral em Angola.
Segundo Coque Mukuta, a carrinha dirigiu-se inicialmente para uma esquadra, mas acabou por regressar ao cemitério de Santa Ana onde o jornalista foi libertado, após passar algumas horas detido.
Laurinda Gouveia, uma das promotoras da marcha, disse à Lusa que há pelo menos 13 ativistas detidos, incluindo um dos subscritores do manifesto que as organizações da sociedade civil pretendiam entregar na Comissão Nacional Eleitoral (CNE).
“Prenderam os nossos companheiros, tão logo as pessoas passavam pelo cemitério de Santa Ana estavam a ser revistadas, não poderiam avançar, todos os jovens. Os nossos manos estiveram no local, mas a polícia acabou por levá-los. Estão detidos mais de 13 manos”, revelou.
Explicou também que a marcha não chegou a acontecer porque os ativistas “que já sabem do comportamento da polícia” optaram por dividir-se em grupos, alguns dos quais permaneceram no cemitério e outros encaminharam-se para a CNE, que seria o ponto de chegada da marcha, para entregar o manifesto.
“Infelizmente foram reprimidos, foram espancados, não sabemos onde eles estão, mas nós viemos trazer a nossa documentação à CNE”, salientou, à saída da antiga sede do órgão, embora admita a desconfiança face às instituições, “porque estão ao serviço do partido do poder”.
“A nossa marcha era para exigir sobretudo isso, que o Tribunal Constitucional se posicione, nos dê uma resposta”, acrescentou.
O manifesto, já entregue no Tribunal Constitucional, aponta uma série de violações à lei e irregularidades, entre as quais a contratação da empresa espanhola Indra para gerir o processo eleitoral, a constituição da CNE, composta maioritariamente, por membros do partido no poder, instrumentalização dos meios de comunicação social públicos e forças de seguranças, e nomes de pessoas mortas nos cadernos eleitorais.
As eleições gerais decorrem em 24 de agosto e são disputadas por oito formações políticas, contando com a participação de mais de 14 milhões de eleitores.
Contactado pela Lusa, o porta-voz da polícia de Luanda, Nestor Goubel, confirmou a "tentativa de manifestação" e disse que iria inteirar-se sobre as detenções, remetendo esclarecimentos para mais tarde.