Raul Tati, deputado da UNITA, respondia desta forma aos jornalistas sobre a manifestação de “zungueiras” que, na segunda-feira, quiseram marchar até à Cidade Alta, centro do poder, para contestar o Plano de Reordenamento do Comércio que visa mitigar a venda desordenada em Luanda.
“É o género de situações que se encontra quando o Estado não garante o dia de amanhã aos cidadãos”, disse o político, primeiro-ministro do “governo-sombra” da UNITA, apontando “os erros acumulados de má governação” como origem do problema.
“Querem ordenar a cidade, querem pôr ordem na cidade, mas aí já entram os chamados conflitos sociais. Com o nível de pobreza e indigência que temos é complicado vir com normas de meter a cidade naqueles critérios das cidades que conhecemos no mundo, onde não se encontra estes fenómenos”, afirmou.
Raul Tati admitiu que vender em todo o lado “não é bom” e dá “mau aspeto à cidade”, mas, realçou, “a culpa é de quem governa, e não de quem está a fazer isso”.
“Para mudar as coisas vai levar o seu tempo, é uma questão de cultura, nem toda a gente tem noção do que é construir a cidade”, disse o deputado, prevendo: “Estas situações vão ocorrer muito mais tempo, mesmo com bastonadas”.
O dirigente da UNITA disse que os vendedores vão continuar a lutar porque “têm de sobreviver” e frisou que a autoridade do Estado não deve ser só repressiva, mas também pedagógica.
Os partidos políticos na oposição, acrescentou, também apresentam contributos para o bem da nação e gostaria que quem governa tivesse ouvidos para esses atores políticos, lamentando não terem tido conhecimento prévio da Estratégia de Longo Prazo- Angola 2050, atualmente em consulta pública.
Segundo Raul Tati, a UNITA só foi convocada na véspera da apresentação do documento, à noite, pelo que preferiu não se pronunciar sobre o seu conteúdo.
A estratégia, lançada na semana passada, apresenta a visão para Angola nos próximos 27 anos em várias áreas.
“Ficámos perplexos. Essa gente fez um trabalho fechado dentro do sistema partidário - o MPLA e agora vem apresentar à nação (…). Não é assim que as coisas funcionam, é como se o MPLA viesse para ficar eternamente e isto não foi feito nem nos tempos do partido único”, criticou.
Para o deputado, tendo em conta a multiplicidade de partidos, este tipo de documentos devia passar por um trabalho mais abrangente, para que servisse mesmo havendo alternância de poder, salientando que a UNITA teria participado, se fosse convocada, para fazer uma estratégia de longo prazo para o país.