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Eleições 2017: O dia em que João Lourenço não levantou os quatro dedos

Post by: 23 Agosto, 2017

João Lourenço tinha acabado de votar e mostrava o indicador direito marcado com tinta indelével azul quando se ouviu um apelo - que o candidato do MPLA recusou - para que levantasse quatro dedos, o sinal da posição do partido no boletim de voto.

O cabeça de lista do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA, no poder desde a independência) votou cerca das 9:30 na faculdade de Direito da Universidade Agostinho Neto, no bairro Mártires do Kifangondo, em Luanda.

Surgiu - como habitualmente - rodeado de fortes medidas de segurança, muita polícia e elementos do corpo de segurança pessoal. Ao longo da avenida Ho Chi Minh, em intervalos regulares, vários militares armados controlavam com o olhar, de longe.

O número de jornalistas que se acotovelava para captar a imagem do homem mais bem posicionado para se tornar o próximo presidente de Angola mais do triplicava o número de pessoas na fila de espera para votar na Assembleia de Voto n.º 1160.

No andar das mesas de voto, mesmo cenário. Câmaras, holofotes e microfones rodearam o candidato do MPLA, um general na reserva que é também ministro da Defesa.

João Lourenço tem gestos pausados, mas votou rápido. Deu o nome, mostrou o cartão e, após breve passagem pela cabina, fez uma pausa para a fotografia do depósito do voto na urna.

Depois marcou o indicador direito com tinta indelével, um dos vários procedimentos nas eleições angolanas para impedir que alguém vote mais do que uma vez.

De entre o amontoado de gente surgiu então uma voz para que João Lourenço levantasse "o quatro", o sinal com quatro dedos levantados que surge nas imagens do candidato em milhares de cartazes espalhados um pouco por todo o país, mas com mais intensidade na capital.

O MPLA surge na quarta posição no boletim de voto e é hábito os partidos terem um slogan baseado no número: "vota no quatro" ou "no dia 23 escolha o número um" [a posição que calhou em sorteio à UNITA].

De pé em frente aos jornalistas, ao lado da mesa de voto, João Lourenço manteve - e repetiu para vários planos - um só dedo levantado, o indicador direito manchado de azul.

A mesma imagem - incluindo o azul no dedo - dos momentos pós-voto do cabeça de lista da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), Isaías Samakuva, uma hora antes, em Talatona (arredores de Luanda). No caso de Samakuva destoava menos da campanha, um mês a levantar o indicador levantado para os militantes e simpatizantes, a apelar ao voto no "um".

A voz a pedir "quatro dedos" calou-se - fez um único apelo - e o candidato do MPLA saiu. Um "batalhão" de jornalistas seguiu-o, engarrafando as escadas até ao átrio, tanto as usadas para descer como as usadas para subir.

À entrada do edifício, Lourenço manteve o mesmo tom contido: apelou ao voto hoje de todos os angolanos, mostrou-se agradado, mas não entusiasta, com a forma como está a decorrer ato eleitoral.

"Gostamos da organização. Não tem grandes filas e o ato foi simples e rápido. Acredito que é assim em todas as assembleias de voto em Angola", disse João Lourenço à porta da faculdade de Direito.

Na fila para votar - com não mais de uma vintena de pessoas - João Paulo, bancário de 29 anos, concorda: a eleição deste ano está mais fácil do que em 2012.

"Em relação a 2012 nota-se uma maior organização. A CNE [Comissão Nacional Eleitoral] fez melhor e está de parabéns. Em 2012 foi notório: houve muita desorganização e as pessoas não sabiam onde o poderiam fazer", disse o jovem angolano.

João Paulo destaca-se dos demais por ter vindo votar de verde e branco. Não a cor de algum partido, mas sim as cores da camisola do Sporting Clube de Portugal, que hoje até joga uma eliminatória da Liga dos Campeões.

Então é participar nas eleições e esperar pelo jogo de logo, na televisão? Nada disso.

"Não sou propriamente adepto do Sporting. Gosto do Sporting, mas sou adepto de outro clube: sou do FC Porto", contou, entre risos de quem estava por perto a ouvir.

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