Adalberto da Costa Júnior falava na abertura da 6.ª reunião ordinária do comité permanente da comissão política da UNITA (União Nacional para a Independência Total de Angola), hoje em Luanda, e anunciou que o partido está a compilar um dossier sobre estes incidentes que pretende dar a conhecer a instâncias nacionais e internacionais.
Numa “conjuntura económica do país bastante delicada e grave”, dez meses após as eleições, o governo angolano “dá sinais de distanciamento” das necessidades da população e “incapacidade de governação”, dando apenas mensagens de limitação das liberdades e alguma “repressão excessiva”, acusou o presidente do partido do “Galo Negro”.
A “política atingiu um nível muito baixo”, continuou, lamentando os angolanos que perdem vida em consequência destes atos, num contexto de paz em que nada o justifica e em que os órgãos de justiça demitiram-se das suas responsabilidades.
Num discurso muito crítico, Adalberto da Costa Júnior fez um exercício estatístico da perda de vidas que ocorreram desde 2017, ano em que o atual Presidente angolano, João Lourenço, chegou ao poder, e 2023, e convidou a uma “reflexão “sobre os comportamentos atuais.
Entre os incidentes, citou, a morte de 21 cidadãos durante a “Operação Transparência” direcionada às províncias diamantíferas da Lunda Norte e Lunda Sul, em 2108; de pelo, menos 14 cidadãos, em 2019, na “Operação Resgate”, incluindo vendedora ambulante e um adolescente de 14 anos; de 19 pessoas em 2019, em manifestações e no âmbito de protestos contra as medidas de combate à covid-19; o “massacre” de 55 cidadãos na vila diamantífera de Cafunfo, em 2021; de três operários angolanos de uma barragem e três motoqueiros na campanha eleitoral, em 2022; cerca de 20 membros de uma seita religiosa e um agente da polícia morreram em confrontos e, mais recentemente, oito pessoas que protestavam contra o aumento de gasolina foram mortas no Huambo.
Estes números divergem dos que têm sido apresentados oficialmente pelas autoridades angolanas.
Adalberto da Costa Júnior disse que o governo utiliza a Polícia Nacional “de forma desproporcional” contra os cidadãos, permitindo que se dispare a queima-roupa “na maior das impunidades” e criticou a imprensa pública “totalmente submissa que manipula a realidade do país” e os ataques dos serviços de inteligência contra líderes de partidos políticos
“Até quando vamos continuar a assistir a estes tristes espetáculos, quando o próprio Presidente da Republica diz ser normal perseguir os adversários políticos”, questionou.
O líder da UNITA sublinhou que quando o cidadão se manifesta cumpre “um direito constitucional” e disse que a falta de diálogo com que se lida com as questões sociais e políticas “resulta na desgraça e no caos com grande número das famílias angolanas a pagar com o preço da vida dos seus entes a incompetência do governo”.
“São muitas mortes que não podem continuar a ocorrer”, vincou, apontando ainda vários casos de execuções extrajudiciais praticadas este ano em Luanda.
“Este é o quadro das trágicas arbitrariedades”, em que às “matanças indiscriminadas” se juntam perseguições políticas e desalojamento de populações.
A UNITA em contacto com a sociedade civil vai organizar um exaustivo dossiê sobre este assunto que vai ser encaminhado para instâncias de justiça nacionais e internacionais, assegurou o dirigente.
Adalberto da Costa Júnior abordou ainda a eliminação da subvenção aos combustíveis, que considerou “uma medida necessária”, que pecou na escolha do timing e métodos para a sua implementação, questionando o aumento de 87% do preço da gasolina, uma decisão de um “governo insensível” com consequências diretas e indiretas na economia angolana.
O presidente da UNITA aproveitou também para falar da exoneração do governador do Banco Nacional de Angola na quinta-feira “por conveniência de serviço”, o que constituiu uma violação da lei.
Seguiu-se um novo comunicado algumas horas depois, dizendo que a saída de José Lima Massano foi a pedido do próprio, sendo este o novo ministro de Estado da Coordenação Económica.
Adalberto da Costa Júnior afirmou que a presidência “violou a lei de forma leviana” e reiterou que “está fora de questão” um terceiro mandato de Joao Lourenço, sublinhando que “devemos permanecer atentos”.