Tulinabo Mushingi nasceu na República Democrática do Congo e depois emigrou para os Estados Unidos com a família. Depois de servir no Departamento de Estado, exerceu funções diplomáticas em vários países africanos, designadamente Marrocos, Tanzânia, Moçambique, Guiné Bissau e Senegal.
A nomeação de um embaixador de origem africana para Angola a poucos meses de eleições que eram antecipadamente tidas como muito difíceis para o MPLA suscitou inquietações em alguns círculos políticos.
Em Angola, diplomatas de origem africana são geralmente considerados como muito vulneráveis a certos “apelos”, nomeadamente de malas de peixe seco e de outra natureza. Tulinabo Mushingi não tardou a dar razão àqueles que não viram com bons olhos a sua nomeação para Angola.
Em Julho de 2022, a apenas um mês das eleições, o embaixador norte-americano “derreteu-se” em elogios ao Presidente João Lourenço, que concorria para a sua reeleição.
À saída de uma audiência que lhe foi concedida no palácio presidencial, o novel embaixador dos EUA atribuiu ao Presidente-candidato “reformas políticas, democráticas e sociais”, que, na sua opinião, têm “produzido resultados positivos”.
“Sou novo, mas posso dizer que só não vê quem não quer ver, porque há uma diferença, que se pode sentir”, disse.
Em Luanda e em Washington, as declarações de Mushingi foram acolhidas com inquietação, uma vez que sugeriam uma clara inclinação a favor do Presidente-candidato.
Os Estados Unidos foram o primeiro país ocidental que reconheceu as controversas eleições de Agosto de 2022, ganhas, segundo a Comissão Nacional de Eleições, pelo MPLA por uma apertada margem.
Exactamente um decorrido das suas controversas declarações, o embaixador norte-americano em Angola voltou a fazer um pronunciamento muito lisonjeiro ao Presidente João Lourenço.
Em entrevista à Voz da América, emitida no dia 4, Tulinabo Mushingi disse-se “orgulhoso de apoiar o compromisso de Angola de erradicar a corrupção”, uma empreitada que o Presidente da República tem reivindicado exclusivamente para o seu Governo.
Na entrevista, o diplomata estado-unidense disse que as “prioridades na construção um futuro sem barreiras (com) em Angola são: fortalecer a diplomacia comercial, a segurança e a boa governação; melhorar o clima de negócios; promover intercâmbios bidireccionais povo a povo; apoiar os esforços na promoção da transparência para combater a corrupção; promover a liberdade de imprensa e apoiar a democracia de Angola, incluindo as eleições autárquicas”.
O embaixador não foi capaz de identificar uma única área em que as relações dos Estados Unidos com Angola já estejam em “velocidade cruzeiro”, porque assentes em alguma das quase 10 prioridades que estabeleceu.
A antecessora de Tulinabo Mushingi, Nina Maria Fite, deixou Luanda com sérias reservas quanto às liberdades de expressão e de imprensa prometidas pelo Presidente João Lourenço no discurso de tomada de posse do seu primeiro mandato.
Na entrevista à VOA, o embaixador Tulinabo Mushing não deixou claro se o “orgulho” que tem de apoiar a “erradicação da corrupção em Angola” é extensivo ao apoio do Presidente da República ao presidente do Tribunal Supremo, actualmente associado a múltiplos casos de corrupção, extorsão e chantagem.
Tulinabo Mushing também nada disse sobre a falta de compromisso do Presidente João Lourenço com a realização de eleições autárquicas e com a promoção da transparência, uma matéria em que o consulado do Titular do Poder Executivo é marcado por muita opacidade na adjudicação de empreitadas públicas.
De igual modo, nada disse sobre as crescentes restrições às liberdades de expressão e de imprensa e ao aberto combate ao direito constitucionalmente protegido de reunião e manifestação.
Dir-se-ia que, na avaliação do embaixador Mushingi, o Governo do Presidente João Lourenço é aprovado com distinção em todas as matérias. Correio Angolense