"É o Presidente da República (João Loureço) que tem de pedir desculpas aos angolanos porque ele não cumpriu com as suas palavras, prometeu 500.000 empregos e não vimos, prometeu transformar Benguela em Califórnia e não aconteceu, então é ele que tem de pedir desculpas e não eu", respondeu hoje "Tanaice Neutro" à Lusa.
Falando em conferência de imprensa, em Luanda, sobre as circunstâncias da sua detenção, prisão e a sua libertação, o ativista reafirmou que, tal como diz numa das suas músicas gravadas no pós prisão, não vai pedir desculpas ao Presidente angolano.
A necessidade de um pedido de desculpas públicas ao Presidente angolano, João Lourenço, foi apresentada em 12 outubro de 2022, pelo Tribunal da Comarca de Luanda, após "Tanaice" ter sido condenado a uma pena de prisão suspensa de um ano e três meses pela prática do crime ao ultraje ao Estado, seus símbolos e órgãos.
Segundo o tribunal, ficou provado que o ativista, de 36 anos, cometeu o crime de ultraje contra o Estado, seus símbolos e órgãos por ter chamado o Presidente angolano de "bandido e palhaço" e ter atribuído a mesma denominação aos efetivos da polícia nacional, nos vídeos que o ativista gravou e partilhou nas redes sociais.
Hoje, o ativista, em liberdade desde 23 de junho passado, recusou fazer qualquer pedido de desculpas ao chefe de Estado angolano, garantindo que vai "continuar a criticar as injustiças" e a "elogiar as boas ações dos governantes".
"Tanaice", que lamentou as peripécias por que passou na prisão, onde esteve durante um ano e seis meses, agradeceu a onda de solidariedade do povo angolano, da Igreja Católica, ativistas, Amnistia Internacional, jornalistas.
Disse que foi apenas solto por "ordens superiores", mas que sem a solidariedade da sociedade ainda estaria encarcerado.
"O povo angolano é solidário, vi a força, as manifestações a favor da minha libertação e vim aqui também para agradecer", salientou, recusando, ao mesmo tempo, o título de herói.
"O que eu faço é para o bem da nação, fizemos uma luta não para sermos heróis, todos os que fazem uma luta para o país são heróis, todos têm um bem que deve ser despertado", frisou.
Considerou que neste momento os angolanos vivem em "pobreza extrema" e pediu a conjugação de esforços dos cidadãos para "ajudar o país a sair desta situação".
"Devemos denunciar as injustiças e elogiar as coisas certas, vamos continuar na mesma luta, todos devemos lutar para o país ter um novo rumo. Neste momento as coisas não estão fáceis e só venceremos se estivermos unidos", observou.
O ativista criticou também as atuais condições das penitenciárias angolanas, particularmente o Hospital Prisão São Paulo e a Comarca de Viana onde esteve, referindo ter registado casos de "tortura física e psicológica, mortes, péssimas condições de alojamento e de alimentação dos presos".
Angola "tem as piores prisões do mundo", disse "Tanaice Neutro" dando conta ainda ter sido visitado, antes e depois do julgamento, pelo ministro do Interior angolano, Eugénio Laborinho, alegando que o governante lhe terá apresentado "propostas para deixar o ativismo".