O diplomata hebreu falou aos jornalistas em conferência de imprensa em Luanda, destacando a firme vontade de Israel em destruir o movimento islamita palestiniano Hamas, bem como a solidariedade manifestada pelos países ocidentais, asiáticos e africanos, lamentando que Angola não tenha tomado posição.
O presidente angolano, João Lourenço, na sua qualidade de presidente em exercício da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC, na sigla em inglês) condenou, na quarta-feira os atos de violência no conflito entre Israel e o Hamas e apelou às partes envolvidas para que pautem pela contenção, mas não o fez enquanto chefe de Estado de Angola.
"Somos bons amigos de Angola, lamentamos que não tenha havido condenação deste ataque", criticou Shimon Solomon, salientando que outros países africanos como o Gana, o Quénia ou a Republica Democrática do Congo já o fizeram, "mas em Angola, infelizmente ainda não vimos isso".
"A nossa expectativa, como somos amigos, era que Angola condenasse o ataque. Vemos quem são os amigos em tempos difíceis", reforçou, afirmando que o comunicado da SADC é apenas uma condenação da violência, em termos gerais e diplomáticos, sem tomar posição
Questionado sobre de que forma isso irá afetar as relações entre os dois países, que têm sido próximas, disse que é preciso "esperar para ver o que vai acontecer" para saber quais serão os passos futuros.
"Claro que estamos profundamente desapontados", reiterou, salientando que a reação de Angola "foi uma grande surpresa".
O conflito foi desencadeado pelo ataque surpresa, sábado, do grupo Hamas, que além de mortos fez reféns de diferentes nacionalidades, seguindo-se novos ataques e resposta israelita com um cerco ao enclave palestiniano, e já provocou pelo menos 1.300 mortes em Israel e 1.354 na Faixa de Gaza, segundo fontes oficiais das duas partes.
O embaixador abordou ainda os acontecimento de sábado, 07 de outubro, dia de feriado judaico, em que Israel sofreu "um ataque terrorista do Hamas", entidade que comparou ao Estado Islâmico, com o qual partilha "a mesma ideologia"
Uma ideologia que "não é pela Palestina, nem pelos territórios, nem pelos direitos humanos" e que é contra judeus, cristão e todos os não-muçulmanos, frisou.
"Não foi um combate soldado a soldado, chacinaram mulheres e crianças, comportaram-se como animais", lamentou, sublinhando que a decisão do Governo é "destruir totalmente o Hamas".
Em resposta ao ataque, Israel tem bombardeado, nos últimos seis dias, várias instalações do Hamas na Faixa de Gaza, numa operação denominada "Espadas de Ferro", e impôs um cerco total, cortando o abastecimento de água, combustível e eletricidade.
Shimon Solomon lembrou que do ataque resultaram mais de 1.200 mortos, israelitas e estrangeiros, e afirmou que os israelitas valorizam os direitos humanos e não quiseram anteriormente exercer a força contra os palestinianos que estão a ser usados como escudo pelos militantes do Hamas, infiltrados entre a população.
"O Hamas não representa o povo palestiniano", vincou o diplomata, apresentando Israel como "libertador" dos palestinianos que são também vítimas do Hamas.
O Hamas controla a Faixa de Gaza desde 2007 e é classificado como "grupo terrorista" pela União Europeia (UE), Estados Unidos e Israel.
O embaixador israelita defendeu que os países se devem apoiar mutuamente como forma de vencer o terror e que Israel está a desenvolver "ações muito radicais" porque está em guerra.
"Quem atacou quem? Foi o Hamas que atacou Israel e não foi contra o exército, foi contra inocentes (...) o que pedimos é que condenem o ataque", exortou, acrescentando: "quem sofreu foi Israel".
Sobre a situação dos civis na Faixa de Gaza assinalou que Israel visa alvos do Hamas e não mesquitas ou hospitais, mas admitiu que pode haver "erros", pois, disse, os militantes islamitas estão misturados com a população.
Garantiu ainda que Israel tenta avisar os inocentes "para que saiam das casas" através de panfletos e mensagens, mas salientou que "vai ser uma longa e intensa guerra em Gaza".
Questionado sobre a ajuda humanitária aos civis que se encontram naquele território, disse que "agora é guerra" e "só Deus sabe" o que virá a seguir.
Quanto aos que defendem a causa palestiniana e se manifestam contra Israel, considerou que são "antissemitas".
As relações diplomáticas entre o Estado de Israel e a República de Angola datam da década de 70, tendo sido interrompidas após a guerra de outubro de 1973, e renovadas em 1993, após a assinatura dos Acordos de Oslo.
Em 1995, a embaixada de Israel abriu em Luanda e, em 2000, Angola abriu uma embaixada em Telavive.
Em 2006, o então Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, realizou a primeira visita oficial a Israel, durante a qual foram discutidas as possibilidades de expandir o comércio recíproco entre os dois países.
Mais recentemente, em fevereiro deste ano, Angola enviou a Israel uma delegação de alto nível liderada pela ministra do Ensino Superior, Ciência, Tecnologia e Inovação, Maria do Rosário Bragança, para explorar novas oportunidades de cooperação.
Atualmente, a cooperação incide, sobretudo, em atividades nas áreas da Agricultura, Saúde, Educação, Aviação, Construção Civil, Pescas, Diamantes, Segurança e Telecomunicações.
Angola tem também recebido milhões de euros em financiamento israelita canalizado para projetos de infraestrutura através do grupo Mitrelli, que integra o conglomerado Menomaddin, liderado por Haim Taib.
O grupo MitrelIi está presente em seis países, incluindo Angola, Costa de Marfim, Senegal e Israel, sendo a sua principal operação no mercado angolano, onde o portefólio de empresas inclui, entre outras, a Kora (imobiliário), Owin (eletricidade, gás, água), Promed (saúde), New Cognito (Tecnologias de Informação), Focus Education (educação), etc.