Conflitos, instabilidades, golpes de Estados, fome e miséria são fatores que ainda persistem no continente africano, como disseram hoje à Lusa alguns analistas políticos angolanos, acreditando também numa grande projeção da imagem de Angola.

O politólogo angolano David Sambongo considerou a assunção da presidência da Comissão da UA por João Lourenço uma conquista da diplomacia angolana, mas ressalvou que esta missão, ratificada por unanimidade pela Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), não tem apenas vantagens.

“Naturalmente, Angola vai encontrar não só vantagens, mas também um conjunto de desafios, porque África infelizmente ainda é assolada por questões muito básicas como a questão do saneamento básico, acesso à água, infraestruturas, pobreza extrema”, apontou. África é um continente que, apesar do seu potencial, “ainda tem vários problemas sociais, está assolado por um conjunto de conflitos civis, (...) problemas concretos estaduais”, realçou.

Para David Sambongo, a UA ainda é uma instituição “por consolidar” e João Lourenço terá também a responsabilidade de “cimentar as bases para a credibilidade” da União Africana enquanto instituição de âmbito continental. Elencou igualmente a maximização do Corredor do Lobito, importante infraestrutura de conexão regional e a necessidade de tornar de “tornar África mais democrática”, como outros desafios da presidência angolana na UA.

O Presidente angolano vai assumir a partir de fevereiro a presidência rotativa da União Africana, durante a 38.ª sessão ordinária da Conferência dos Chefes de Estado e de Governo da UA, prevista para 15 e 16 de fevereiro. O especialista em relações internacionais Almeida Henriques sinalizou, em declarações à Lusa, que questões de segurança devem pontificar a agenda de João Lourenço na condução dos destinos a UA, recordando a situação no Sahel.

Na áfrica central, (...) João Lourenço “saberá, porque conhece efetivamente quais são os problemas que aí se vivem, como por exemplo no Sudão do Sul e no Sudão onde dois generais desavindos continuam a semear a guerra a e discórdia, aqui também é um problema que deve ser resolvido, estamos a falar de um conflito que tem fatores endógenos e exógenos”. Recordou também a instabilidade na África Austral, particularizando o conflito entre a República Democrática do Congo e o Ruanda, acreditando que João Lourenço deverá colocar na agenda o reconhecimento jurídico da Conferência Internacional sobre a Região dos Grandes Lagos (CIRGL).

Henriques considerou, por outro lado, que a questão da integração económica africana constitui um “calcanhar de Aquiles” para o continente, referindo que, na prática, não existe. Porque “Estados desavindos do ponto de vista de segurança económica e política não podem produzir ou criar uma estabilidade conjunta, porque a questão de segurança sub-regional deve-se refletir na paz interna, e os Estados da União Africana grosso modo vivem conflitos internos, que fragilizam as políticas de integração regional”, notou.

“Assinalamos também os golpes de Estado e acreditamos que será uma das notas fundamentais tratadas em muitas cimeiras sobre como os Estados devem respeitar os seus ordenamentos jurídicos, respeitar as suas constituições”, rematou. Agostinho Sicato, também analista político, referiu que a liderança angolana na UA expõe a imagem do país na mais alta tribuna africana.

O aprofundamento da democracia em África deve ser, para este analista, uma prioridade na agenda: “Angola tem uma oportunidade de ouro para, com a presidência da UA, fazer ecoar a sua voz e demonstrar na prática o exercício da democracia participativa, transparência na governação e respeito à identidade cultural”.