UNITA acusa Governo de gastar 20 milhões de dólares para “distrair” povo com jogo de futebol

Post by: 21 Mai, 2025

A UNITA acusou hoje o Governo angolano de gastar 20 milhões de dólares (17,7 milhões de euros) para “distrair o povo angolano” com o jogo de futebol entre Angola e a Argentina, enquanto “milhares de crianças morrem diariamente de fome”.

Aludindo às celebrações dos 62 anos da proclamação da União Africana, que se assinala em 25 de Maio, Dia de África, o grupo parlamentar da UNITA,  considerou hoje que o sonho dos pan-africanistas sobre soberania política, económica, social e cultural “desvaneceu-se no firmamento”.

“Infelizmente, em pleno século 21, África vive uma crise profunda de liderança [...]. África clama por uma nova visão, uma nova forma de servir os seus países, os seus povos, as suas gentes com princípios que priorizem a valorização e dignidade da pessoa humana, liberdade, igualdade e justiça social”, afirmou a vice-presidente do grupo parlamentar da UNITA, Albertina Ngolo.

A este propósito apontou Angola, que celebra 50 anos de independência este ano, efeméride que o Governo vai assinalar gastando "mais de 20 milhões de dólares  em viagens, alojamentos, seguros, prémios, segurança e outras despesas, com o objetivo de distrair o povo” com o jogo de futebol entre as seleções de Angola e da Argentina.

Enquanto isto, "milhares de crianças angolanas continuam a morrer todos os dias, vítimas da fome, cólera, malária, desnutrição, falta de água, saneamento básico e higiene”, criticou, ao apresentar a declaração política do seu partido esta quarta-feira no parlamento.

Os adultos, “também, estão a morrer de fome, hipertensão, tumores, malária, doenças respiratórias, cancro e diabetes. Mais de 40% dos adultos morre de doenças cardiovasculares, por causa dos corações e vasos sanguíneos sufocados e desgastados pelos problemas da vida e pela má governação”, referiu.

Segundo a deputada da UNITA, o Governo angolano “vai deitar para os bolsos dos milionários” milhões de dólares que fazem falta ao país, quando o mesmo Governo não tem dinheiro para combater a cólera, que já provocou mais de 600 óbitos.

O mesmo Governo não paga desde maio de 2024, há um ano, aos empresários, seus fornecedores de bens e serviços, com destaque para as unidades hospitalares em todo o espaço nacional, instituições de ensino e outras”, apontou.

Na plenária que aprecia a Conta Geral do Estado (CGE) referente ao exercício económico de 2023, a deputada considerou também que a estrutura económica do país continua a ser limitada em termos de diversificação, por causa da sua dependência ao setor petrolífero.

O resultado disso é a instabilidade macroeconómica, que trava o crescimento económico, eleva os níveis de pobreza, eleva o custo de vida das famílias, aumenta a fome e as desigualdades”, criticou. Comentando os pressupostos da CGE 2023, disse que o balanço social do país “é vergonhosamente negativo” com a taxa bruta de natalidade situada nos 36%, “ao passo que a taxa de mortalidade infantil está nos 56%”.

Não há futuro para cerca de 15 milhões de crianças e jovens entre os 0 e os 14 anos de idade”, referiu, acrescentando que a falta de água, de saneamento e higiene “lideram as causas da mortalidade infantil”, seguidas por complicações decorrentes de partos prematuros e outros.

Albertina Ngolo considerou que Angola chegou ao “fundo do poço”, fruto de “políticas mal concebidas”, sobretudo nos últimos cinco anos, com degradação acentuada nos domínios da política, economia e da sociedade.

Na sua extensa declaração política hoje, a deputada da UNITA afirmou igualmente que a atual crise socioeconómica do país “resulta, principalmente, das políticas públicas erradas e prioridades invertidas de quem governa e da sua insensibilidade humana”.

Esta situação “poderia ser mitigada com a concretização da descentralização político-administrativa prevista na Constituição. Ou seja, com a implementação efetiva das autarquias locais”, realçou, observando que “não basta a desconcentração administrativa”.

“É imperativa a descentralização política, porque só ela permite a gestão descentralizada dos recursos. Só as autarquias locais permitem que a maioria dos cidadãos do país, os que não estão filiados nem dependentes do partido-Estado, sejam eleitos para administrar os assuntos públicos locais”, rematou Albertina Ngolo.

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