“Foi uma luta que valeu a pena, aqueles que se entregaram de corpo e alma fizeram muito bem, eu sou um deles, tudo não foi feito, nós cometemos muitos erros e provámos o sabor do sangue”, disse Ngola Kabangu, 82 anos, em declarações à Lusa sobre o jubileu da independência de Angola, que se completa no próximo dia 11.
O nacionalista angolano, que se filiou em 1958 à FNLA, um dos três movimentos de libertação de Angola, admitiu que foram cometidos na altura “muitos erros”, mas agora “com um pouco mais de sabedoria, sobretudo as gerações mais jovens”, aprendendo com o passado e os erros dos mais velhos, “vão ter que caminhar com olhos de ver”.
“Portanto, 50 anos de uma independência duramente conquistada, agora restam outras tarefas: a reconciliação nacional, a reconstrução do país, consolidar a paz, aquela paz social, dos corações, a paz das famílias”, referiu, considerando ainda que se fecham 50 anos e abre-se outra página, para se caminhar como país, rumo a uma nação.
Para Ngola Kabangu, que exerceu cargos de relevância na FNLA, como secretário-geral adjunto, entre 1970 e 1971, “Angola ainda não é uma nação”, frisando que esta deve ser formada com atos e práticas e é fundamental “uma reconciliação genuína”, que esqueça o passado, se vire a página, se criem novas esperanças e se tenha um novo discurso.
O político considerou que é preciso “acabar com o discurso de ódio, de rancores, decalques políticos inúteis”, porque divergências políticas não retiram a irmandade.
“Vivemos no mesmo espaço físico que é Angola, e assim vamos caminhando, a nação constrói-se passo-a-passo, como se constrói um edifício, vamos caminhando de mãos dadas”, destacou.
À juventude, o nacionalista deixa “um apelo muito martelado”, no sentido de ver e ouvir mais, e, sobretudo, “não repetir os erros dos mais velhos do passado”, para “construir uma Angola nova, um novo espírito, novas esperanças”.
“Sei que não é fácil, mas é o caminho, esquecer o passado, ter um discurso novo, novas aberturas, é assim que se constrói uma nação. Nós os mais velhos cometemos os nossos erros, foram tempos muito duros, muito difíceis, agora os que querem corrigir devem corrigir com mais sabedoria, com mais cuidado”, expressou.
Questionado sobre o que seria um discurso novo para a juventude, o político referiu que os jovens devem, no quadro das suas reivindicações, pedir mais educação, mais formação, melhores condições de vida, mas também participar mais, salientando que é isso que significa democracia.
“Participar não é só entregar-se a ações de vandalismo, não! [É] Reivindicar, protestar e também apresentar ideias, projetos. Nas organizações juvenis, na sociedade civil, também há jovens [que podem contribuir]”, realçou.
Para a juventude contribuir, acrescentou o político, é preciso que o Governo abra espaço. “É bom falar-se em democracia, mas será que há espaços de intervenção democrática? Tem de haver mais abertura, mais honestidade, mais debates e receber contribuições daqueles que não governam efetivamente”, notou.
Para os próximos 50 anos, Ngola Kabangu pretende uma Angola transformada, mais desenvolvida, mais unida, mais solidária com todos os povos do mundo, com todos os povos africanos, com uma boa vizinhança, afastando tudo que é conflito, e, internamente, “que os angolanos vivam melhor e bem, no país que os seus avôs, os seus pais, libertaram”.
Sobre os festejos para os 50 anos de independência, Ngola Kabangu considerou que o programa procurou congregar diferentes setores da sociedade, mas podia-se “esperar melhor”, saudando a decisão do Presidente angolano, João Lourenço, em condecorar todos os subscritores dos Acordos de Alvor.
A decisão de João Lourenço veio diminuir as críticas sobre a ausência dos nomes dos líderes fundadores da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), Jonas Savimbi, e da FNLA, Holden Roberto, ambos subscritores dos Acordos de Alvor, juntamente com António Agostinho Neto, líder do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) e primeiro Presidente de Angola.
“Acho que foi o possível que se conseguiu e como bom cidadão, vamos contribuir, vamos participar, para dar uma dinâmica, para dar um significado a estes 50 anos. Somos parte integrante de todo esse processo, que hoje completa 50 anos”, frisou.