O Jornal de Angola soube de uma fonte policial que, dos quatro presumíveis autores, dois foram detidos na sexta-feira e dois na madrugada de ontem.
A esta informação junta-se um outro elemento, avançado pela TVZimbo, no telejornal emitido às 13h00, no qual a estação televisiva revela que os quatro são estrangeiros, mas sem fazer referência à nacionalidade.
A existência de um segundo cadáver no interior da viatura da jornalista Beatriz Fernandes vem baralhar o trabalho do Serviço de Investigação Criminal (SIC) que, por esta razão, não pode ignorar qualquer linha de investigação para a identificação do verdadeiro móbil do duplo homicídio.
Quando o alerta sobre o desaparecimento, caracterizado como rapto, de Beatriz Fernandes esteve a circular nas redes sociais, na quarta-feira, não havia nenhuma informação sobre a existência de uma quarta pessoa a bordo da viatura, referindo-se apenas que se encontravam no interior do veículo a jornalista e dois filhos seus, deixados, não se sabe ainda por quem, numa esquadra da Polícia Nacional, localizada na via expresso.
A viatura foi encontrada quinta-feira abandonada no Quilómetro 30, município de Viana, e, no seu interior, estavam dois cadáveres, o da jornalista e de uma outra pessoa, identificada como Jomance Muxito.
A presença do segundo cadáver não foi relatada na quinta-feira, dia em que a Televisão Pública de Angola (TPA) comunicou, através do seu programa “Ecos & Factos”, a morte, por assassinato, de Beatriz Fernandes.
A presença do segundo cadáver foi confirmada na sexta-feira pela Polícia Nacional, cujo porta-voz na província de Luanda, Mateus Rodrigues, em declarações à Rádio Luanda, não deu mais elementos para não comprometer o andamento da investigação, além de que o caso ainda está em segredo de justiça.
O “puzzle” fica ainda mais difícil para ser desmontado pelo Serviço Provincial de Luanda de Investigação Criminal, que deve estar preparado para levar todo o tempo do mundo a fim de esclarecer o duplo assassinato que se tornou mediático ainda na altura em que se falava apenas do rapto da jornalista Beatriz Fernandes, que, na quarta-feira, se havia deslocado à Clínica Sagrada Esperança, na Ilha de Luanda, para visitar o pai, internado na unidade sanitária pertencente à diamantífera Endiama, empresa a que a jornalista esteve profissionalmente ligada até à data da sua morte.
Ao que tudo indica, o interesse dos órgãos operativos do Ministério do Interior, no caso, o Serviço de Investigação Criminal (SIC) e a Polícia Nacional, em esclarecer rapidamente o mediatizado duplo homicídio é grande, chamuscada que está ultimamente a sua imagem, face à onda de raptos, com vítimas maioritariamente mulheres, que ocorrem na província de Luanda.
Sentimento de segurança
O porta-voz do Comando Provincial de Luanda da Polícia Nacional, intendente Mateus Rodrigues, desdramatiza a preocupação com a aparente falta de segurança pública, espelhada em comentários de centenas de pessoas nas redes sociais, com o argumento de que “os casos violentos que alteram o sentimento de segurança dos cidadãos, com realce para três casos de sequestro, não colocam em causa a segurança pública, num universo de sete milhões de cidadãos que vivem na província de Luanda”.
No entender de Mateus Rodrigues, em termos efectivos, o reduzido número de casos reportados “não tem grande impacto na segurança pública”, uma declaração que colide com o pensamento de Divaldo Júlio Martins, especialista em Segurança Pública, para quem “não se pode negligenciar nenhum crime, sobretudo quando esse crime altera o sentimento de segurança”.
Ontem, num contacto telefónico feito pelo Jornal de Angola, Divaldo Júlio Martins, também licenciado em Direito, preocupado com o estado actual da segurança pública, avisou que “a questão da segurança não é só estatística, mas também emocional”.
“Há mulheres que já não querem sair à rua, que já não querem conduzir com medo de serem raptadas”, acentuou o especialista em Segurança Pública, que deu ênfase ao facto de que “a segurança tem a ver com qualidade de vida”.
O conhecido especialista em Segurança Pública foi abordado pelo Jornal de Angola devido a um texto sintético que publicou na sua página do Facebook, depois da confirmação do assassinato de Beatriz Fernandes e de Jomance Muxito.
“Há anos que defendo a reforma do nosso sistema de segurança pública”, afirma, no texto, Divaldo Júlio Martins, para quem “o modelo operacional, o modelo organizacional, o modelo de formação, a forma, os instrumentos, tudo tem de ser repensado”.
A identificação da segunda vítima mortal não foi tornada pública pela Polícia Nacional, mas veio a saber-se através do Facebook, por via do qual um familiar de Jomance Muxito lamentou o facto de os órgãos de comunicação social terem noticiado apenas a morte da jornalista.
O familiar, que no Facebook se identificou como irmão da vítima, disse acreditar que “não foi um sequestro, mas sim um ajuste de contas” e acentuou que, “se querem apanhar os bandidos investiguem bem”.