A decisão de exoneração do cargo da filha do ex-Presidente da República da administração da petrolífera Sonangol foi conhecida ao início da tarde, ao mesmo tempo que João Lourenço mandava cessar também o contrato com uma empresa de outros dois filhos de José Eduardo dos Santos para gestão de um canal da televisão pública, e rapidamente tomou conta de todas as conversas em Luanda.
"Quando me apercebi que a filha do [ex-] Presidente tinha sido exonerada eu fiquei bem contente meu irmão", contou, à Lusa, Adão Manecas, de 24 anos.
Motorista de profissão, soube da notícia pela rádio e não esconde a satisfação, essencialmente por agora acreditar que alguma coisa está a mudar no país, quando antes pensava que "era tudo farinha do mesmo saco".
"Queria que acontecesse mais exoneração, porque tem muita coisa que tem que se fazer mesmo neste país. Depois de Isabel, há muitas pessoas para exonerar", desabava.
Em 50 dias de governação, João Lourenço mexeu em praticamente todas as administrações que herdou de José Eduardo dos Santos, dos petróleos aos diamantes, passando ainda por todas as empresas públicas de comunicação social e bancos estatais.
"São coisas boas. E coisas melhores estão para vir", confidencia Vítor Lopes, de 39 anos, mais um ano do que o tempo que José Eduardo dos Santos esteve no poder em Angola.
"Foi coisa boa que fez", diz ainda, referindo-se, sem rodeios, às consecutivas exonerações decididas por João Lourenço.
Depois de lhe retirar a confiança política em pleno parlamento, João Lourenço também mudou o governador do Banco Nacional de Angola, deixando cair Valter Filipe, nomeado em 2016 por José Eduardo dos Santos, e colocando no seu lugar José de Lima Massano, que regressa após a exoneração em 2015, classificando-o como um "homem íntegro e trabalhador".
Mudanças que o estudante Anastácio Adão, de 22 anos, aplaude: "São necessárias para o país crescer". A mexida na Sonangol serviu, no seu entender, para o novo Presidente marcar uma posição e mostrar que de facto o país está a mudar.
"A exoneração [de Isabel dos Santos] foi no momento exato", atira, depois de consultar o Facebook, onde o tema do dia é a exoneração da administração da petrolífera estatal.
Nas redes sociais multiplicam-se comentários, partilhas de notícias, nacionais e estrangeiras, e todo o tipo de brincadeiras com as sucessivas exonerações, algumas replicando com João Lourenço um conhecido filme de Hollywood: "O Exonerador Implacável".
Rui Sebastião, de 24 anos, afasta-se das brincadeiras, até porque reconhece que o momento económico angolano é serio.
Depois de algumas dúvidas, nas eleições de agosto, a intervenção na Sonangol, e os primeiros dias de governação de João Lourenço, convencerem-no.
"Estou a gostar bastante. Está a fazer aquilo que prometeu", recordando o lema de campanha de João Lourenço e do MPLA, de "Melhorar o que está bem e corrigir o que está mal".
Uma opinião partilhada, como outros, por Bonifácio João, desempregado, de 35 anos, que gostou da "troca" na Sonangol e do exemplo que a decisão representa.
"É melhor para ver se há uma melhoria no nosso lado, que somos angolanos todos", rematou.
No caso da Sonangol, Carlos Saturnino será o novo presidente do conselho de administração da petrolífera e deverá ser empossado no cargo ainda esta semana.