Em declarações à Lusa, o porta-voz da organização da marcha, que se intitula como de repúdio à gasosa escolar, fez saber que a marcha surge na sequência de descontentamentos de estudantes e encarregados de educação sobre a "disseminação do fenómeno gasosa nas escolas", em que muitos são obrigados a fazer pagamentos por exemplo para terem vaga no ano escolar.
"Para que possamos chamar a atenção aos encarregados, alunos e em especial às direções das escolas, para que não possam pactuar na questão da gasosa, para transição de classe ou acesso às matrículas que tem sido uma das questões muito desastrosas a nível do sistema de ensino", afirmou Donito Carlos.
A marcha, cujo pedido já deu entrada no governo provincial de Luanda, surge, explicou, em "função de um trabalho de campo" feito entretanto pelos organizadores e apesar de os diretores das escolas negarem as acusações.
"Temos constatações em grande parte dos institutos médios de Luanda e em várias escolas de ensino geral, de cobranças ilegais", apontou.
Segundo o estudante, a marcha convocada para as 12:00 de sexta-feira, e que deve juntar estudantes de vários níveis de ensino, encarregados de educação e membros da sociedade civil deverá decorrer "em conformidade com a lei".
"Deveremos concentrar-nos no largo do cemitério da Santa Ana e daí marcharmos com palavras de ordem até à sede da direção de Educação de Luanda, onde vamos ler o manifesto desta marcha de repúdio", adiantou.
Nesse manifesto, observou, serão apontadas "várias chamadas de atenção à sociedade e às autoridades de Luanda, para que estejam mais atentas ao fenómeno da gasosa e para punir as pessoas implicadas".
"E aqui também a meia culpa do Governo, porque não há escolas suficientes", sustentou.
Nos últimos dias, e tal como em anos anteriores, voltaram a surgir relatos de cobrança - ilegal - por inscrições em algumas escolas públicas de Luanda, tendo a Polícia Nacional confirmado a detenção, há cerca de uma semana, de um subdiretor de um estabelecimento de ensino nos arredores de capital, por esta prática.
Já o Sindicato dos Professores Angolanos (Sinprof) admitiu hoje à Lusa que vários milhares de alunos deverão ficar este ano fora do sistema de ensino, porque o crescimento dos alunos não foi acompanhado do crescimento da infraestrutura de ensino.
"O que acontece é que o número de alunos que termina o ciclo primário não encontra vaga no ensino secundário, quer os que entram para a 7.ª classe, bem como os que entram para a 10.ª classe, segundo ciclo", afirmou o presidente do Sinprof, Guilherme Silva.
Falando no quadro da preparação do ano letivo 2018, que no ensino geral arranca no início de fevereiro, o sindicalista exortou também os seus filiados a "não estarem expostos à tentação da gasosa" devido a exiguidade de vagas nas escolas para o ano letivo 2018.
"Porque quando os lugares são escassos a pressão é maior e as pessoas ficam expostas a tentações. Aconselhamos os colegas a evitarem a exposição a tentações que ocorrem geralmente neste período, aquilo que tem a ver com venda de vagas ou a receção de material", admitiu.
Para o porta-voz da organização da marcha de sexta-feira, esta ação surge igualmente na sequência dos apelos do Presidente angolano, João Lourenço, para o combate à corrupção.
"A Lei de Base do ensino em Angola faz referência a gratuitidade no ato das matrículas e não podemos ficar de braços cruzados quando existem casos evidentes de cobranças ilícitas em várias escolas de Luanda, violando a lei", rematou.
O ano letivo 2018 em Angola arranca na primeira semana de fevereiro e deve estender-se até 15 de dezembro, envolvendo cerca de 10 milhões de estudantes no ensino geral.