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Angola só tem um médico para cerca de 4.400 habitantes

25 Janeiro, 2018

Angola conta atualmente com 6.400 médicos para uma população de cerca de 28 milhões de habitantes, número que a ministra da Saúde angolana considera insuficiente, defendendo por isso uma maior aposta na formação de quadros.

Sílvia Lutukuta, que falava à imprensa no final da sessão de abertura do XII Congresso Internacional de Médicos em Angola, que hoje arrancou em Luanda, recordou a recomendação da Organização Mundial de Saúde (OMS), que para cada mil habitantes exista um médico.

Nessa estatística, Angola deveria ter 28.000 médicos ao serviço, quando no quadro atual existe apenas um para cerca de 4.400 habitantes.

"Ainda só temos 6.000, isso significa que temos que continuar a formar, mas formar com qualidade e diferenciar os médicos nas várias áreas de saber", disse a ministra, à margem do congresso, organizado pela Ordem dos Médicos de Angola e subordinado ao tema "Os médicos e a criação de um ambiente favorável para a saúde".

Questionada sobre o facto de em Angola enfermeiros exercerem o papel de médicos, para colmatar essa deficiência, Sílvia Lutukuta defendeu que o problema precisa de ser visto noutra vertente, ou seja, é preciso mais trabalho para que diminuam as enchentes nas unidades centrais.

"Nós precisamos de trabalhar mais nos nossos cuidados primários de saúde, para evitarmos as enchentes nas unidades centrais. Claro que os enfermeiros também têm o seu papel dentro dos padrões existentes, de acordo com a lei, e nós temos que valorizar o seu trabalho", referiu.

A titular da pasta da Saúde em Angola disse que os médicos são elementos fundamentais no sistema de Saúde e os desafios atuais que o setor enfrenta têm que ser tratados de forma integrada, através da partilha de conhecimentos.

"É o que se está a fazer aqui e discutindo profundamente os problemas do setor e dando um contributo para a solução dos problemas", salientou, defendendo ainda a prestação de cuidados de saúde de forma mais humanizada, não só aos utentes, mas também aos pares.

Sílvia Lutukuta recordou que durante dois dias, neste congresso que termina na sexta-feira, a classe médica terá a oportunidade de abordar casos específicos de estudo já realizados, partilhando desse modo experiências entre si, e com profissionais, portugueses, brasileiros, cubanos, moçambicanos, cabo-verdianos, guineenses e são-tomenses.

Segundo a ministra, é necessário que se alie a prática da medicina à investigação, contudo são necessários mais recursos para a sua realização.

Por sua vez, o bastonário da Ordem dos Médicos de Angola, Carlos Alberto Pinto, referiu que as reclamações atuais dos médicos são a formação contínua, o recrutamento de médicos para os serviços nacionais de saúde e questões ligadas à sua proteção social.

Carlos Alberto Pinto disse que houve uma redução significativa do problema com falsos médicos, vividos há alguns anos, graças a uma intervenção mais cuidada da ordem.

"Graças à ação da ordem e de outros órgãos que permitiu uma redução drástica", disse o bastonário, sublinhando que não deve haver, dentro do Serviço Nacional de Saúde, pessoas que não estejam habilitadas a exercer medicina.

"É um risco muito grande e nós vamos continuar a fazer esforços para detetarmos esses falsos médicos. O apelo aqui também à população para que denuncie a existência e os órgãos que tomem as medidas necessárias", disse.

Instado também a comentar o facto de enfermeiros atuarem como médicos nos hospitais do país, Carlos Alberto Pinto disse que o assunto está a ser revisto e estudado, mas o "médico tem o seu papel", assim como o enfermeiro, cuja atividade é "complementar".

"E não vejo aqui nenhum problema, porque as normas, regulamentos e documentos institucionais definem claramente qual é o papel do médico e qual do enfermeiro", salientou.

Sobre o congresso, o bastonário disse que o evento permite a unificação dos médicos, a troca de experiência, sendo um espaço de formação contínua, de atualização do estado de arte e de debate sobre assuntos ligados à saúde e à classe médica.

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