A marcha de protesto, organizada pela Associação Nova Aliança dos Taxistas de Angola (ANATA), juntou, durante a manhã de hoje, no largo do cemitério da Santana, em Luanda, mais de 200 taxistas, estudantes e demais pessoas que marcharam até ao Largo das Escolas, dizendo "não à subida do preço dos combustíveis".
"O objetivo desta marcha é pura e simplesmente mostrar o nosso descontentamento face à opinião do FMI, para o Governo angolano, no sentido de subir os combustíveis, para ajudar as questões económicas do país, e nós, como 'fazedores de táxi', não concordamos", explicou Francisco António.
Para o taxista, que respondeu afirmativamente ao apelo da ANATA, a crise económica, financeira e cambial que o país atravessa agravou o nível de vida dos cidadãos, e uma possível subida do preço dos combustíveis, que o Fundo Monetário Internacional (FMI) estimou para dobro, agravará o preço daquele transporte coletivo de passageiros.
"O atual preço da corrida são 150 kwanzas [50 cêntimos de euro] e, [com] uma subida dos combustíveis, estaríamos a cobrar aos passageiros 300 kwanzas [um euro]. Valores que penso não estarem ao alcance dos cidadãos, olhando para os salários que auferem. Somos humanos e não aceitamos isso", acrescentou.
O Governo angolano terá de duplicar o preço do litro de gasolina, atualmente nos 160 kwanzas, e de gasóleo, nos 135 kwanzas, em oito meses, para eliminar os subsídios que atribui a petrolífera estatal Sonangol para manter os preços baixos, conforme estima o FMI, com a possibilidade de aumento já em estudo pelo Governo angolano.
Se esta recomendação fosse atendida, o preço do litro de gasolina em Angola subiria para 320 kwanzas (1,10 euro) e, o do gasóleo, para 270 kwanzas (0,90 cêntimos).
"O povo diz basta" era uma das frases estampados nos cartazes exibidos durante a marcha de protesto, vigiada e acompanhada de perto pelos efetivos da polícia angolana.
O taxista Lourenço Quimbungo também marcou presença na marcha, para demonstrar, explicou, o seu descontentamento face ao possível aumento do preço dos combustíveis em Angola.
"Estamos aqui não só em nome dos taxistas, mas em nome de toda a população do país. Porque, se o combustível sobe, quem sofrerá é povo, [e] haverá necessidade de se criar um equilíbrio", afirmou, enquanto já faz contas às tarifas, que, explica, terão também de duplicar.
O Movimento de Estudantes Angolanos (MEA) também se solidarizou com este protesto, receando os efeitos da escalada de preços.
"Nós, enquanto estudantes e principais parceiros dos taxistas, temos muita dificuldade para chegar à escola. O Governo, durante este tempo, não criou condições para que nós estudássemos próximos das nossas residências, então somos nós que usamos os táxis", explicou o presidente do MEA, Francisco Teixeira.
Se com 150 kwanzas, observou, os estudantes já enfrentam "várias dificuldades" para chegarem às escolas, o receio agrava-se com a perspetiva de aumentos: "Essa eventual subida vai afetar o aproveitamento dos estudantes e ainda trazer um elevado índice de desistências das escolas", alertou.
O presidente da Associação Nova Aliança dos Taxistas de Angola, Geraldo Wanga, garante que o país vai assistir a uma escalada nos preços, se estes aumentos se confirmarem.
"Se sobe o preço do combustível, as coisas ficam apertadas, porque temos a plena certeza de que todos os preços de bens e serviços praticados em Angola [têm] o ponto de partida no preço praticado na venda de combustível. Tudo vai subir. Infelizmente, os salários é que não sobem", atirou.
O responsável acrescentou que esta marcha surgiu igualmente para alertar para a "necessidade de se dialogar com os cidadãos, antes de se avançar para qualquer medida", face aos "reflexos na sua vida".
"Estamos em crer, e tudo indica, olhando para os últimos discursos dos políticos, [que] o preço não deverá subir. Mas se eventualmente, de forma teimosa, insistirem na subida do preço do combustível, haverá manifestações em todo o território nacional, com o bloqueio das principais vias", assumiu.
O ministro das Finanças de Angola, Archer Mangueira, admitiu, no princípio do mês de julho, um cenário de aumento do preço dos combustíveis no país, mas em paralelo com medidas para mitigar efeitos negativos na vida das famílias.
"Se o combustível subir, quem sofre é o povo" foi uma das frases mais ouvidas hoje, durante o trajeto da marcha de protesto, que decorreu sem incidentes.