O militar que fez o disparo mortal, o primeiro sargento José Tadi, 36 anos, foi condenado a 18 anos de prisão e a pagar uma indemnização de um milhão de kuanzas (3.344 euros) aos familiares do menor Rufino António.
Os outros três réus no processo foram condenados a um ano de prisão e pagamento das taxas de justiça, pelo crime de uso e ameaça de arma de fogo.
Os quatro réus são todos militares das Forças Armadas Angolanas afetos à Região Militar Luanda e cumpriam, em julho de 2016, a missão de demolir residências e casebres, na zona do Zango III, na reserva fundiária da Zona Económica Especial (ZEE) Luanda/Bengo.
A 06 de agosto, o menor, juntamente com dezenas de moradores juntaram-se para contestar as demolições, que provocaram o desalojamento de muitas famílias.
Em resposta à manifestação, os militares terão disparado tiros com armas de guerra, do tipo AKM, contra a multidão, matando o menor.
O julgamento dos militares teve início em julho e, segundo o acórdão, os réus estavam autorizados pelo tenente-general Simão Carlitos Wala, à época comandante da Região Militar Luanda, sob anuência do então Chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas Angolanas, Geraldo Sachipengo Nunda.
De acordo com o juiz, Lourenço Pereira, a missão encontrou alguma resistência por parte dos populares, que se opondo às demolições muniram-se de paus e pedras, investindo contra os réus e os operadores das máquinas, criando pânico.
Durante a leitura do acórdão, o juiz sublinhou que aos réus foram alertados pelo seu comandante de que existiriam possibilidade de encontrar situações "adversas no terreno" e que "na qualidade de militares saberiam como as ultrapassar", mas que "não fizessem recurso à arma de fogo, que empunhavam contra a população".
No local, segundo o juiz, os réus, vendo-se confrontados pelos populares, "começaram a disparar indiscriminadamente e impiedosamente contra a população, como se estivessem num campo de batalha e que os populares fossem verdadeiros inimigos".
O juiz referiu ainda que José Tadi mostrou-se o menos preparado do grupo, “entrou em pânico e com as suas mãos trémulas, premiu o gatilho, de cuja arma saiu o projétil que atingiu o menor" na cabeça.
Em declarações à imprensa, José Tadi manifestou-se inconformado com a sentença, considerando-se injustiçado, alegando que tiro que matou Rufino António, de 14 anos, não foi disparado por si.
"Fui condenado injustamente, porque eu não me encontrava naquele local, estou a ser injustiçado, somos quatro que fizemos os disparos, são quatro armas", disse José Tadi, em convergência com a sua defesa, que lembrou, em declarações à imprensa, que "não há nenhuma correspondência entre o projétil e arma dos réus".
"Vamos recorrer da decisão tomada", disse Francisco Sousa Augusto.