Em declarações à agência Lusa, um dos organizadores da "Marcha Contra o Elevado Índice de Desemprego", José da Silva Alfredo, licenciado em Filosofia e sem trabalho, realçou que o objetivo é pressionar o Governo do Presidente angolano, João Lourenço, a olhar com maior atenção para as questões relacionadas com a juventude.
"O objetivo é pressionar o nosso executivo a criar políticas de emprego ou ainda a criar mais parcerias com empresas privadas para que se dinamize o mercado de emprego, numa altura em que é escasso", disse, lembrando que João Lourenço, na campanha para as eleições presidenciais de agosto de 2017, prometeu criar 500 mil empregos no país.
Para José da Silva Alfredo, natural de Belas, Luanda Sul, João Lourenço "conhece muito bem a realidade do país", pois pertenceu a governos anteriores, pelo que "não é cedo" para continuar com os protestos dos jovens a pedir emprego, 14 meses depois de assumir o poder.
"[O Presidente angolano] deveria saber onde pegar assim que assumisse o poder, mas estamos a ver que está a pegar em partes que não são importantes para nós, jovens. Podemos dizer que sim, que é cedo, e não, que não é cedo. Sim, por ele [João Lourenço] é novo. Não, porque já é um Governo antigo, um governo do MPLA que nos governa há quarenta e tal anos. Portanto, não podemos dizer que é totalmente novo", explicou.
"No Governo anterior, João Lourenço conhecia muito bem o que se prometeu fazer e não se cumpriu e, por isso, não podemos dizer que ainda é cedo para se contestar", argumentou José da Silva Alfredo, defendendo que o Presidente angolano "tem de ter vontade política" para mudar a situação.
"Acredito [em João Lourenço], mas só se houver vontade política da parte do executivo. Às vezes não são só as políticas, são as vontades para que as coisas aconteçam. Por mais parcerias que possa criar, se não tiver vontade de dar emprego, de dar estabilidade social à juventude, não vai ajudar", sustentou.
Questionado pela Lusa se sente se há uma vontade de João Lourenço em mudar Angola, José da Silva Alfredo indicou tratar-se de uma questão muito complicada", mas que sente que "ainda falta um pouco de sal na sopa".
"Isso é uma questão muito complicada. Se tem vontade ou não, uns dizem que sim, outros dizem que não, mas, na minha forma de ver, ainda falta um 'salzito' nessa sopa para eu gostar", acrescentou.
Por seu lado, e também à Lusa, Jurema Alberto, 19 anos, natural de Luanda, desempregada, mãe de dois filhos, realçou que a marcha é para chamar a atenção para o facto de o desemprego estar a afetar muitos jovens, situação que se agravou com a implementação da "Operação Resgate", que visa repor a autoridade do Estado em todo o país e acabar com a venda ambulante, entre outras medidas.
"A 'Operação Resgate' não vai só aumentar o desemprego. Vai também aumentar a delinquência. Se eu, como mãe, não tenho o que comer o que vou fazer? Vou roubar um quilograma de arroz para dar às crianças? Não vou ficar parada a ver morrer os meus filhos de fome", sublinhou.
Nesse sentido, Jurema Alberto criticou a decisão de João Lourenço, realçando que lançou a "Operação Resgate", mas não apresentou contrapartidas.
"Se fosse cedo para isso, [João Lourenço] também não poderia mandar acabar com a venda ambulante. Ele só apresentou o discurso ao povo da eliminação da venda ambulante, mas não apresentou soluções. Há gente que só sobrevive com os seus negócios na rua.
No final da marcha, que terminou junto ao Largo das Heroínas Nacionais e que foi acompanhada por efetivos da Polícia angolana, José da Silva Alfredo leu um "manifesto" em que lembrou que a contestação à política de João Lourenço começou a 21 de julho último, quando o mesmo grupo de jovens cidadãos desempregados exigiu mais políticas de emprego. Na altura, a marcha realizou-se em seis cidades e hoje ocorreu em 12.
No manifesto, os organizadores da marcha, além de exigirem emprego, apelaram a João Lourenço para ter em atenção a gravidade do problema do desemprego entre os jovens.
"De que [os desempregados] se alimentarão? Como ficarão as famílias? Como se vai resolver o problema da delinquência se não existem políticas públicas efetivas para todos os cidadãos? É com corrupção, com desigualdades, irresponsabilidade governativa e desvios de fundos públicos que se vai resolver o problema e combater as consequências do desemprego?", questiona-se no manifesto.
Segundo o documento, em 14 meses de Governação, o desemprego aumentou.
"Se queremos combater a delinquência devemos ocupar os jovens para que não tenham tempo para pensar em coisas negativas, mas sim em trabalhar para o progresso. Só assim se corrigirá o que está mal e se vai melhorar o que está bom", termina o manifesto, aludindo ao principal "slogan" do Governo angolano.