Juliana Kafrique foi morta por um agente da polícia angolana a 12 de março, numa intervenção da chamada "Operação Resgate". A zungueira tinha 28 anos, estava casada e tinha três filhos, incluindo um bebé de seis meses.
"Estamos chocados com a morte da nossa querida irmã", diz José Kassoma, presidente da Associação Nacional de Vendedores Ambulantes.
Este está longe de ser o primeiro caso de violência policial contra zungueiras, denuncia este responsável: "Em todas as operações que visam a organização da mulher zungueira e a venda ambulante, tem havido excessos. Por isso é que há mortes e cada vez mais vendedoras com ferimentos. Há vendedoras que têm sido empurradas de pontes aéreas para peões e acabam com deficiências físicas."
Acusações de brutalidade
"Estamos cansadas. Nós somos angolanos também", afirma uma vendedora ouvida pela DW África.
Há muito que a polícia angolana é acusada de cometer excessos, seja durante demolições nos municípios de Belas, Cacuaco e Viana ou contra ativistas cívicos em manifestações de rua, na anterior governação.
Depois de João Lourenço assumir a Presidência, em setembro de 2017, a polícia deixou de reprimir protestos em Luanda. Mas em junho do ano passado, por exemplo, dois cidadãos foram mortos à queima-roupa e dois ficaram gravemente feridos, em consequência de vários disparos efetuados pela polícia, alegadamente para dispersar algumas pessoas que tinham ocupado de forma ilegal uma parcela de terra na Zona Económica Especial (ZEE).
As zungueiras também dizem que continuam a sentir a mão pesada dos efetivos da polícia, no âmbito da "Operação Resgate", lançada em novembro do ano passado.
"O polícia, quando vem, não tem aquele amor, destrói o nosso negócio", afirma uma zungueira. "Eles têm que mobilizar bem as pessoas, não é estragar o negócio. Tem que se conversar com as pessoas e não é começar a bater nas senhoras".
Será que violência policial terminará?
Na sequência da morte de Juliana Kafrique, o comandante-geral da Polícia Nacional instou, no princípio desta semana, os seus agentes a estarem preparados para conviver com vicissitudes derivadas do "comportamento muitas vezes inadequado" de alguns cidadãos, que tendem a resistir às orientações dos efetivos na rua.
Na mesma ocasião, o comandante Paulo de Almeida lamentou a morte da zungueira, a 12 de março, sublinhando que a arma de fogo é um instrumento de defesa e proteção, que não deve ser usado para atacar pessoas inofensivas. "Nem em toda a atitude repressiva o polícia deve fazer uso da arma", acrescentou.
José Kassoma, da Associação Nacional de Vendedores Ambulantes, não prevê para breve o fim da violência policial. E apela ao envolvimento de todos para pôr fim a esta situação.
"Pedimos o apoio de toda a população angolana e não só, também de alguns parceiros internacionais, para que se juntem à causa da Associação Nacional de Vendedores Ambulantes, para que haja paz nessa atividade e organização", diz Kassoma.
"Basta de mortes da mulher zungueira, como têm acontecido no nosso país!", exige ele.
O partido no poder, o Movimento Popular para a Libertação de Angola (MPLA), condenou na semana passada o assassinato da vendedora Juliana Kafrique, tal como o maior partido da oposição em Angola, a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA). Mas militantes de ambos os partidos acusaram-se mutuamente de usarem o caso para aproveitamento político. DW África