Depois de se licenciar em engenharia eletrotécnica, Isabel dos Santos trabalhou entre 1995 e 1997 como juniorconsultant na auditora e consultora Coopers & Lybrand, que viria a fundir-se na PwC. Não foi, como recorda um antigo sócio da Coopers & Lybrand, de uma grande dedicação às funções, com muitas ausências — mas também admite que tinha muitas solicitações relacionadas com Angola.
Em 1995, Isabel dos Santos regressou a Luanda, e, como explicou na Conferência sobre África na London Business School em abril de 2017, terá começado por vender o carro e, com 30 mil dólares no bolso, comprou dois camiões em segunda mão. Ao mesmo tempo, o seu sócio, um amigo que estudou nos Estados Unidos, alugou um armazém para fundarem uma empresa de distribuição de bebidas. A seguir importaram um sistema da Motorola baseado em walkie-talkies para controlar as encomendas, que viria a estar na base do seu novo negócio.
Em entrevista ao Observador, Isabel dos Santos explicou o que se seguiu: “Depois, tu és um provedor do sistema, montas uma rede onde tens um mecanismo de controlo e podes vender os serviços a terceiros. Então começámos a vender serviços a, por exemplo, empresas de construção civil — alugavam-nos 15 aparelhos. Ou a empresas de segurança — alugavam-nos 50 aparelhos. No fundo, eles faziam uma espécie de leasing dos equipamentos e nós geríamos a rede, geríamos as frequências, obtivemos frequências junto do Ministério das Telecomunicações. E foi aí que comecei a ter os meus primeiros contactos com as frequências e o Ministério das Telecomunicações e comecei a ouvir que havia uma vontade do governo em liberalizar o setor das telecomunicações, porque a empresa estatal móvel, que era a Movicel, já existia desde 1991, e estamos a falar agora de 1997 e 1998. E, quando ouvi isto fiquei muito curiosa e houve o lançamento de um concurso”.
Em 1997, foram dados os primeiros passos para o fim do monopólio da Angola Telecom na exploração das comunicações através do despacho n.º 65/97, mas não houve manifestações de interesse nesta liberalização. A Unitel foi constituída a 30 de dezembro de 1998 pelo círculo que detinha o poder de facto em Angola: Manuel Vicente, então presidente da estatal Sonangol; Leopoldino Fragoso do Nascimento, o general ‘Dino’, presidente do Grupo Cochan; o general Manuel Vieira Dias, ‘Kopelipa’; e Isabel dos Santos, através da Vidatel, uma empresa offshore. Aliás, nos seus primeiros tempos, a empresa Unitel foi alcunhada de ‘Isatel’.
A 19 de maio de 2000, a comissão permanente do Conselho de Ministros angolano concedeu à Unitel, através da resolução n.º 12/00, o direito de explorar, em todo o território nacional, o serviço complementar móvel de telefonia celular na norma GSM. A revista Forbes contou como tudo se passou: “O governo podia conceder tal licença sem um concurso público desde que o adjudicatário fosse um empreendimento conjunto com o Estado. Onze meses depois, o Presidente, apoiado pelo seu Conselho de Ministros, concedeu à Unitel o direito de ser a primeira operadora de telemóveis privada do país — na condição de ele ter o poder total de aprovar o projeto e decidir acerca da estrutura acionista da firma, uma vez que envolvia fundos estatais”.
Como revelou Isabel dos Santos, ela terá tentado atrair para a Unitel operadores de telecomunicações da África do Sul, da Suécia, e até a Vodafone Portugal. A 22 de dezembro de 2000, a Portugal Telecom adquiriu 25% da Unitel por 16,2 milhões de dólares, numa parceria para a instalação e operação de uma rede de telefonia móvel do sistema GSM. O comunicado ao mercado da Portugal Telecom era omisso em relação à participação de Isabel dos Santos e referia apenas: “O consórcio da Unitel é participado em 25% pela Portugal Telecom, em 25% pela Mercury, subsidiária da Sonangol, sendo os restantes 50% detidos por outros parceiros”. No site do grupo empresarial Cochan, do general ‘Dino’, fazia-se referência à participação na Unitel, feita através da GENI, holding que em Angola era conhecida como a sigla de ‘Generais Não Identificados’.
Segundo o documento da PT, a operação cobriria “numa primeira fase toda a cidade de Luanda e a província do Bengo” e depois seriam cobertas outras áreas do território, como Cabinda e Benguela. A rede teria uma capacidade inicial para 50 mil clientes, e seria posteriormente alargada para 150 mil, num investimento previsto de cerca de 150 milhões de dólares nos primeiros quatro anos de atividade. Em abril de 2001, a Unitel iniciou o serviço como operador de telecomunicações móveis. A revista Sábado de 19 de Julho de 2007 descreveu os contactos com a Portugal Telecom: “Isabel negociou a entrada da PT. Quem acompanhou o negócio recorda-se dela como uma hábil negociadora, uma verdadeira pantera. Atenta e prudente no discurso, nunca deixou de defender os seus argumentos com garra e soube usar os trunfos com astúcia. Quem a conhece confirma: é ‘incansável, trabalhadora e entra em tudo para ganhar’”.
Nos seus primeiros tempos, a empresa Unitel foi alcunhada de ‘Isatel’. No site do grupo empresarial Cochan, do general ‘Dino’, fazia-se referência à participação na Unitel, feita através da GENI, holding que em Angola era conhecida como a sigla de ‘Generais Não Identificados’.
Isabel dos Santos refere na mesma entrevista ao Observador que, no início do GSM, havia uma grande concorrência entre os diferentes vendors, como a Ericsson ou a Nokia. “E muitos desses vendors também ofereciam vendor financing, ou seja, eles vendem os equipamentos, nós pagamos um depósito e depois, em função do trabalho, da rede, pagaríamos o resto”. Garantiu ainda que tinha capitais, porque teria vendido ao sócio e amigo a sua participação na empresa de logística dos dois, que seria a segunda maior distribuidora da cerveja angolana Cuca.
Outras versões referem que, no regresso a Angola, Isabel dos Santos, que vivia no palácio presidencial com o pai, tornou-se também engenheira da Urbana 2000, uma empresa do grupo Jembas, a quem era adjudicada a recolha do lixo na zona de Luanda. Neste processo, esteve também envolvido o grupo alemão Nehlsen, através da Rodiek & Co., que desde 1988 vendia equipamentos e fazia consultoria nesta área. Foi nesta empresa que Isabel dos Santos participou no desenvolvimento de um sistema de walkie-talkies em que se baseavam as comunicações na Urbana 2000 e teve os seus primeiros contactos com a multinacional de telecomunicações Ericsson.
O seu primeiro negócio foi tornar-se sócia do Miami Beach Club, na ilha de Luanda. Segundo a revista Forbes, “em 1997 o proprietário, Rui Barata, tinha problemas com inspetores de saúde e das finanças”. A sua solução foi simples: “Envolver Isabel dos Santos, então com 24 anos, como sua sócia, pressupondo, dizem contemporâneos, que o seu nome afastaria controladores governamentais incómodos. O seu investimento inicial foi insignificante, de acordo com uma fonte conhecedora do negócio, e o restaurante singrou: dezasseis anos depois ainda é um hot-spot de fim de semana”. Diz-se ainda que Isabel chegou, nos seus primórdios empresariais, a ser “dona de um salão de cabeleireiro” na Maianga.
Que a filha de José Eduardo dos Santos tem um sentido empresarial e de negócio há vários testemunhos que o atestam. Ainda não tinha qualquer empresa e, por exemplo, antes do Natal, comprava meia dúzia de relógios, pulseiras e brincos de marcas como Louis Vuitton para vender em Luanda aos mais próximos.
A dada altura, surgiram os diamantes na vida de Isabel dos Santos. Em 2000 foi criada a empresa Ascorp (Angolan Selling Corporation), que terá sido uma ideia de Arcadi Gaydamak que já tinha contactado Lev Leviev em 1998 para este fim. Os passos seguintes foram contados por Gaydamak quando foi ouvido em tribunal em Israel a 7 de março de 2012: “Virar-se para os seus amigos, que tinham contactos e experiência na comercialização de diamantes na região de Angola e Zaire, como Elisabeth (Isabel) dos Santos, filha do Presidente de Angola. Através dela, Gaydamak encontrou-se com Ehud Laniado e o seu sócio, Silvian Goldberg, comerciantes de diamantes conhecidos em África, que negociavam através da companhia belga que possuíam, a Omega Diamonds”.
Arcadi Aleksandrovich Gaydamak [um dos sócios nas empresas de diamantes] tem cidadania israelita, russa, francesa, canadiana e angolana e ostenta dois passaportes diplomáticos, um deles angolano. Recentemente esteve preso na Suíça por dívidas a um treinador de futebol que treinou o seu clube, o Beitar de Jerusalém, que mudou de nome recentemente para Beitar Trump de Jerusalém.
Estes dois empresários tinham um relacionamento estreito com o Governo de Angola. Arcadi Aleksandrovich Gaydamak nasceu em Moscovo, em 1952, e, aos 20 anos abandonou a URSS, mudando-se para um kibutz em Israel. Mais tarde foi viver para França, onde fundou uma empresa de tradução. A partir de então a sua vida é uma aventura que parece um guião retirado dos livros de espionagem de John Le Carré. Tem cidadania israelita, russa, francesa, canadiana e angolana e ostenta dois passaportes diplomáticos, um deles angolano. Recentemente esteve preso na Suíça por dívidas a um treinador de futebol que treinou o seu clube, o Beitar de Jerusalém, que mudou de nome recentemente para Beitar Trump de Jerusalém.
Durante a segunda guerra civil angolana, de 1993 até 1998, era proibido pelo protocolo de Lusaka a venda de armas aos beligerantes em Angola. No entanto, Arcadi Gaydamak e Pierre Falcone venderam, através de França, mais de 790 milhões de dólares para o exército governamental angolano. Em 2000 tiveram início as investigações e foram emitidos mandados de prisão contra Pierre Falcone e Arcadi Gaydamak. Perseguidos pela justiça francesa, conseguiram escapar para Israel. Em 2011, o tribunal de Paris retirou as acusações de tráfico de armas e de influências mas condenou-os por fraude fiscal e branqueamento de capitais.
Numa carta que escreveu, pouco depois, a Nicolas Sarkozy, então Presidente francês, Gaydamak compara-se ao capitão Dreyfus e exige a restituição da Legião de Honra que recebera por ter conseguido, graças às suas ligações com os serviços secretos russos, a libertação de reféns franceses na Bósnia e na Tchetchénia. Recentemente foi afastado do processo de construção da nova refinaria da zona de Cabinda – apesar de ter ganho o respetivo concurso internacional através do consórcio United Shine Limited, que incluía investidores angolanos como o general José Tavares Ferreira, o segundo maior acionista, e o seu nome, na variante Arie Leb. Veio a perceber-se que este era o nome hebraico de Arcadi Gaydamak, como aliás o próprio explicou ao jornal angolano Expansão, embora o nome registado em Israel seja Aryeh Bar-Lev.
Por sua vez, Lev Leviev nasceu no Uzbequistão, mas é judeu e a sua família mudou-se para Israel em 1971. Foi próximo de José Eduardo dos Santos, com quem falava em russo, e de Isabel dos Santos, nomeadamente nos negócios dos diamantes, a partir de 1998, quando Gaydamak o introduziu no círculo presidencial. Lev Leviev afrontou a De Beers, conseguindo negociar diretamente em Angola e na Rússia. Tem a marca Leviev de joalharias de diamantes em Nova Iorque, Londres, Dubai e Singapura. “Lev Leviev, um dos maiores produtores de pedras polidas de Israel, estava a introduzir-se no mercado da Rússia, onde era politicamente bem relacionado. Em 1989, dois anos após Leviev se tornar um titular da De Beers, a atividade mineira da Rússia, regulamentada pelo Estado, e o grupo empresarial agora conhecido como Alrosa, iniciaram um empreendimento conjunto com Leviev para criar a primeira fábrica de corte do país, cujas pedras seriam fornecidas diretamente de minas russas, e não através da De Beers”.
Gaydamak diz que apresentou Leviev, um negociador de diamantes conhecido internacionalmente, para o representar, uma vez que ele, Gaydamak, estava a passar por problemas de reputação em França e noutros locais, desde dezembro de 2000, quando foi emitido um mandado internacional de captura em seu nome. Gaydamak afirma que Leviev concordou em manter metade do seu investimento na Ascorp para ele, e que ele e Leviev concordaram em dividir os seus interesses em todos os seus negócios angolanos em 50/50, em lucros e responsabilidades. Mas não foi assim. Lev Leviev usou também as suas ligações angolanas para fazer a ponte com os negócios com a China, nomeadamente com negócios da China Sonangol e da 88 Queensway Group.
Adquiriu a sua holding de investimentos, Africa-Israel Investments (AFIL), em 1997, que estava cotada em Bolsa. Através desta empresa construiu um império imobiliário nos Estados Unidos, Rússia e Europa Oriental, incluindo o antigo prédio do The New York Times e uma das casas mais caras da Grã-Bretanha. Como escreveu o Haaretz, “até comprou a Gottex, cujos trajes de banho minúsculos pareceriam estar em desacordo com sua ultraortodoxia”. Chegou a ter uma fortuna avaliada em mil milhões de dólares, mas, com a crise financeira, teve de fazer um acordo com os credores em 2010. Seis anos depois, a empresa e o próprio Lev Leviev entraram em incumprimento e tiveram de fazer acordos com os credores. Hoje vive em Moscovo e em janeiro de 2020, 47 anos depois da sua entrada, a AFIL foi retirada da Bolsa de Tel Aviv.
A Ascorp tinha como acionistas a estatal Sodiam (Sociedade de Comercialização de Diamantes de Angola), com 51%; a Welox, com 24,5%; e a Trans-African Investment Services – TAIS, com 24,5%. O memorando de acordo entre todos foi assinado a 11 de outubro de 1999 e, nele, a TAIS e a Welox asseguravam a compra de um mínimo de 150 milhões de dólares em diamantes. Lev Leviev tinha 50% da Welox, pertencendo a outra metade a Silvain Goldberg e a Ehud Laniado, sócios na Omega Diamonds, segundo dados revelados durante o processo em Londres que Arcadi Gaydamak colocou contra Lev Leviev. A associação entre estes dois empresários e o corte de relações foram confirmados com a revelação de documentação da filial suíça do HSBC.
Isabel dos Santos deteria 75% da Trans-African Investment Services (TAIS, Lda.), enquanto a mãe, Tatiana, que entretanto se tornou cidadã britânica, ficava com 25% da empresa criada em 1997 em Gibraltar. Segundo Gaydamak, TAIS é um acrónimo das iniciais de Tatiana e Isabel. De acordo com a revista Forbes, em 2013 “a Ascorp era uma galinha de ovos de ouro, rendendo milhões de dólares em dividendos por mês, segundo documentos judiciais britânicos”. Algum tempo depois, continua a Forbes, tornou-se imperioso fazer uma mudança: “Quando o negócio dos ‘diamantes de sangue’ atraiu a curiosidade internacional, em meados dos anos 2000, Isabel transferiu para a mãe o controlo total da TAIS, agora renomeada Iaxonh Limited, segundo o Registo Comercial de Gibraltar, consultado pela Forbes. É uma situação ideal: a empresa fica segura sob o controlo de uma cidadã britânica, enquanto Isabel dos Santos permanece comodamente em Angola como única herdeira da mãe”.
Tatiana Cergueevna Regan (“Tatiana Regan”) aparece na pesquisa da firma de Gibraltar como única acionista desta empresa. No entanto, Mordechai (Moti) Kramash, que foi diretor financeiro da Ascorp até julho de 2011, “negou saber na altura que a TAIS fosse propriedade de Tatiana Regan, ou que ela fosse a primeira mulher do Presidente Dos Santos”, escreveu ainda a Forbes.
Tatiana Kukanova surge no entanto nas contas divulgadas pelo denominado SwissLeaks, que se baseia nas listas de contas na filial suíça do HSBC, obtidas por Hervé Falciani, um ex-funcionário, em 2008. Na sua conta estavam, em 2006-2007, mais de 4,5 milhões de euros.
Nesta fase, Isabel dos Santos era considerada uma privilegiada pela relação com o pai, o que ela considerava quase um insulto — mas o que a levava à fúria, e até aos tribunais, era quando a consideravam a testa de ferro do pai. Nas raras entrevistas que dava, como uma ao Financial Times em 2013, argumentava: “Há muitas pessoas com ligações familiares, mas que hoje não são ninguém. Quem for trabalhador e determinado vai ter sucesso, e isso é o principal. Não acredito em caminhos fáceis”.
Por estratégia pessoal, ou porque acredita mesmo no que diz, Isabel dos Santos invoca como exemplo inspirador a avó, Jacinta José Paulino: “O meu referencial seria alguém como a minha avó, uma mulher africana que vendia no mercado. Ela acordava extremamente cedo de manhã, garantia que os seus filhos estavam alimentados e que iam para a escola e só depois ia para o mercado vender fruta e vegetais para garantir que havia dinheiro para pagar os custos da sua casa. Como ela temos milhares, milhões delas em todo o continente. São uma força fantástica. São elas que realmente intervêm na nossa economia”.
Porém, um telegrama da embaixada dos Estados Unidos, datado de 2009, contava uma versão diferente da história: “Isabel dos Santos é a mulher de negócios com mais sucesso em Angola (devido em larga medida ao apoio do pai)”. Para Rafael Marques, ativista e jornalista angolano, os grandes negócios de Isabel dos Santos “são forjados de duas formas”: “Participando de uma empresa estrangeira que precisa de licenças para abrir caminho em Angola ou por meio de uma concessionária, criada pelo decreto real de seu pai”.
Rafael Marques diz ainda que “foram vários os decretos presidenciais que permitiram o enriquecimento ilícito de Isabel dos Santos”: “Em Angola sabemos que Isabel dos Santos é uma testa de ferro do seu pai”. Nesta altura, o principal negócio que resultara oficialmente de um decreto presidencial fora contudo a concessão da Unitel.
Mas depois de 2013 sucederam-se outros casos, como o projeto da Corimba ou Masterplan de Luanda, como era conhecido, que teria como objetivo replicar o impacto do icónico empreendimento em forma de palmeira, o Palm Jumeirah, no Dubai; o turnaround da Sonangol, que implicava tornar a empresa petrolífera mais rentável e mais pagadora de impostos; ou as obras em duas barragens, a de Caculo Cabaça, avaliada em 4.532 milhões de dólares (3.874 milhões de euros), e o consórcio sino-angolano CGGC & NIARA Holding Limitada, este último, formado pela empresa de Isabel dos Santos para a reabilitação e o aumento da capacidade da Barragem de Luachimo na Lunda-Norte, que foi adjudicado à chinesa CGGC, que subcontratou a Efacec.
Quando estas afirmações surgiram em jornais como o La Stampa, em Itália, a revista Sábado, em Lisboa, ou a Forbes, nos EUA, Isabel dos Santos reagiu com veemência, o que aliás é um dos seus traços de personalidade. “Quando as coisas não se fazem como quer, tem tendência a exaltar-se”, refere o artigo “O Império da Filha do Presidente” da Sábado.
Nessa altura, num desmentido à revista, Isabel dos Santos escreveu: “Não existe nenhum grupo, empresa ou holding familiar. Não sou testa de ferro do Presidente da República de Angola nem participo, de qualquer forma, na expatriação de fundos para o estrangeiro. Não trabalho nem tenho parcerias com nenhum dos membros da minha família. Não represento nenhum interesse e não represento ninguém a não ser a mim própria. Sou uma pessoa independente. Há mais de uma década escolhi livremente uma carreira diferente e independente da minha família. Desenvolvi a minha própria atividade.”
Isabel dos Santos invoca como exemplo inspirador a avó, Jacinta José Paulino: “O meu referencial seria alguém como a minha avó, uma mulher africana que vendia no mercado. Ela acordava extremamente cedo de manhã, garantia que os seus filhos estavam alimentados e que iam para a escola e só depois ia para o mercado vender fruta e vegetais."
Em 2013, o artigo da revista Forbes referia, entre a denúncia e a maledicência: “Para o Presidente Dos Santos, é uma forma infalível de retirar dinheiro do seu país, ao mesmo tempo que mantém um suposto distanciamento. Se o mandatário de 71 anos de idade sair do Governo, pode recuperar os ativos que estão com a filha. No caso de morte, ela mantém o tesouro na família. Se for generosa, Isabel pode optar por partilhar com os seus sete meios-irmãos conhecidos. Ou não. Todos em Angola sabem que os irmãos se desprezam uns aos outros.” A seguir, a Forbes transcrevia uma declaração oficiosa: “A senhora Isabel dos Santos é uma empresária independente e uma investidora privada que representa unicamente os seus próprios interesses. Os seus investimentos em empresas angolanas e/ou portuguesas são transparentes e foram feitos através de transações realizadas em condições de concorrência envolvendo entidades externas, como escritórios de advocacia e bancos idóneos.”
Depois da publicação do artigo, um comunicado de Isabel dos Santos desmentiu as alegações de enriquecimento ilegítimo publicadas pela revista norte-americana e garantiu que “nunca o Presidente nem o governo angolanos transferiram ilegalmente ações de empresas para Isabel dos Santos ou para quaisquer empresas controladas por esta empresária”.
Quatro anos depois, a 26 de fevereiro de 2007, o Diário de Notícias publicou um artigo intitulado “‘Furacão’ apanha filha do Presidente de Angola”, com uma foto de José Eduardo dos Santos acompanhada da legenda: “Eduardo dos Santos. Sociedade ligada à filha mais velha do Presidente angolano aparece envolvida no processo.” No texto, escrevia-se: “Uma sociedade criada nos EUA através da empresa fiduciária PIC International Consultants foi um dos alvos da mais recente busca efetuada pelo Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) no âmbito da ‘Operação Furacão’. A referida sociedade está em nome do marido de Isabel dos Santos e foi utilizada pelo casal para comprar um apartamento em Lisboa”. Acrescentava-se ainda que todos os impostos relativos à aquisição do apartamento tinham sido liquidados.
Esta notícia levou a Procuradoria-Geral da República a divulgar a 28 de fevereiro de 2007 um esclarecimento em que referia: “O DCIAP esclarece que não corresponde à verdade a notícia divulgada pela comunicação social de que a Sr.ª D. Isabel Santos, filha de Sua Excelência o Sr. Presidente da República de Angola, seja objeto de suspeita ou de investigação no âmbito do processo conhecido por ‘Operação Furacão’”. A 1 de março de 2007, o DN publicou uma outra notícia intitulada “‘Operação Furacão’ – MP confirma ligação de filha de PR angolano a offshore”, salientando que a PGR não desmentia “que no início de fevereiro tenha sido recolhida documentação relativa à constituição de uma sociedade offshore” ligada a Isabel dos Santos, acrescentando-se: “Na nota enviada ao Diário de Notícias, o Ministério Público não esclarece, então, qual o destino a dar à documentação apreendida e porque foi a mesma apreendida”. O próprio advogado acabou por confirmar à Lusa a informação veiculada pelo jornal: “Todos os impostos relativos à aquisição do apartamento foram liquidados”.
A 16 de março de 2007, deu entrada na ERC uma queixa formulada por Isabel dos Santos contra o Diário de Notícias por causa destas notícias. A 8 de agosto de 2007, a ERC considerou “reprovável a atuação adotada por parte do jornal, instando-o a assegurar de futuro, no exercício da sua atividade editorial, a estrita observância das exigências aplicáveis em sede de rigor informativo e, bem assim, o rigoroso cumprimento das normas relativas à imagem e ao bom nome e reputação”.
Em meados de julho de 2007, Isabel dos Santos veria serem publicados dois perfis. Em Itália, no jornal La Stampa, e em Portugal, na revista Sábado. Os dois farão com que reaja novamente com veemência.
No primeiro, de 15 de julho de 2007, o jornal italiano publicou uma investigação da jornalista Giulia Vola, intitulada ‘La dea nera degli intrighi’ (‘A deusa negra da intriga’), que alegava que Isabel dos Santos seria a testa de ferro de José Eduardo dos Santos como administradora de um grande império de negócios, incluindo petróleos, diamantes e banca, e que estes ativos resultavam de atos de corrupção, desvios de dinheiro e favoritismo enquanto filha do Presidente de Angola. Começava com a descrição de Isabel dos Santos na ilha de Luanda a beber Moët & Chandon, dizendo que esta administrava “a totalidade do seu património angolano distribuído por petróleo, diamantes e bancos” e que essas “rédeas do império financeiro mudaram para Isabel ainda ela não tinha trinta anos e a guerra civil terminara pouco antes.”
O artigo também fazia referência ao suposto conluio entre a classe política e militar angolana e figuras internacionais de reputação duvidosa, entre as quais o mafioso siciliano Victor Palazzolo, um prófugo da justiça italiana. Segundo o jornal, “os negócios de Victor Palazzolo, que também usa o nome de Robert Von Palace-Kobaltschenko, ter-se-ão cruzado também com os de Isabel e de generais-empresários, entre outros, no setor dos diamantes”, escreveu Rafael Marques.
A 3 de agosto de 2007, o La Stampa teve de publicar a retificação ao artigo, por causa do “direito de resposta enviado pela senhora Isabel dos Santos.”
“A informação contida no artigo ‘A deusa negra da intriga’, assinado por Giulia Vola, publicado a 15 de julho de 2007, está errada. Angola é uma república parlamentar e José Eduardo dos Santos é o Presidente, não ditador, legitimamente eleito em 1979 e reeleito em 1992. Foi através da sua liderança que Angola se transformou numa democracia multipartidária. Não existe nenhum império financeiro na mão do Presidente e consequentemente a alegação de que Isabel dos Santos, filha do Presidente, geria tal império financeiro é absolutamente falsa. Não existe nenhuma sociedade chamada Futungo e, de forma geral, nenhuma empresa executa as funções que lhe são atribuídas. A Sonangol é uma empresa totalmente detida pelo Estado. O Banco Nacional de Angola é um banco do Estado que não efetua operações bancárias comerciais. A afirmação de que Isabel dos Santos, através da (inexistente) sociedade Futungo, teria colocado em contas no exterior entre quatro a oito mil milhões de dólares é absolutamente falsa. Como é falsa a acusação, lançada pelas ONG, de que em 2001 teriam desaparecido dois mil milhões de dólares: informação desmentida depois de apurado controlo da empresa KPMG. O Presidente de Angola não tem qualquer responsabilidade na questão do ‘Angolagate’, escândalo provocado pelas intrigas entre homens de negócios franceses e russos. Isabel dos Santos nunca foi amiga do negociante russo Lev Leviev. Isabel dos Santos e a sua família nunca conheceram, e muito menos tiveram relações comerciais, com o mafioso Victor Roberto Palazzolo, nem com quem quer que seja relacionado com a criminalidade organizada. O comércio de petróleo faz-se através de procedimentos públicos e transparentes sem qualquer envolvimento direto do Presidente e muito menos da sua filha.”
A 2 de outubro de 2007, Isabel dos Santos apresentou no consulado italiano, em Luanda, queixa formal contra a jornalista Giulia Vola, contra o diretor do jornal La Stampa, Giulio Anselmi, e contra Luca Ciarrocca, diretor do jornal Wall Street Italia, que também publicou o artigo. Nessa queixa argumenta que o texto “tem um conteúdo altamente difamatório”: “É lesivo à minha honra e à minha reputação, assim como para a reputação da minha família e da instituição Angola”. Isabel dos Santos repudiava ainda o facto de ser considerada a administradora de um império: “Eu sou a filha do Presidente José Eduardo dos Santos e não administro qualquer património e muito menos um ‘império’ financeiro do Presidente, ‘império’ que simplesmente não existe.” Salientava ainda não ser “verdade que a subscritora se tem ocupado do petróleo” e “com a supervisão do seu pai” e que “dos cofres do Estado desaparecem milhões de dólares” que deveriam ter sido usados para “alimentos, medicina e infraestruturas”: “Na realidade, em Angola, o comércio do petróleo tem passado por procedimentos públicos, transparentes e controlados, sem qualquer envolvimento direto do Presidente da República e muito menos da subscritora.”
Logo depois, na edição de 19 de julho de 2007, a Sábado publicou um artigo intitulado “O Império da Filha do Presidente”, assinado por Helena Cristina Coelho, Nuno Tiago Pinto e Ricardo Marques. A 27 de julho de 2007, Isabel dos Santos enviou também um texto de direito de resposta, que foi publicado na edição da Sábado de 16 de agosto de 2007. Dois dias antes, a 14 de agosto, dera entrada na ERC uma queixa formulada por Isabel dos Santos contra a revista. Nesta queixa, a angolana referia que o artigo estava “repleto de incorreções, exageros e falsidades, que denotam a total ausência de rigor jornalístico por parte dos seus autores”. Falava de “diversas considerações desonrosas sobre o caráter e vida”, bem como “imputações totalmente falsas que ferem gravemente a sua honra e consideração.”
Depois, na formulação da queixa contestava vários exemplos do artigo, em concreto as referências “à putativa influência da visada nas estratégias da Sonangol, face ao BCP Millennium; à utilização abusiva, por esta, de recursos estatais angolanos, enquanto suposta representante da Sonangol; à existência de parcerias de uma sua empresa com o BES, em Angola; ao papel que a mesma desempenharia na expatriação de capitais da família; às suas qualificações académicas; ao estilo de vida boémio alegadamente praticado pela queixosa e, bem ainda, a ilegalidades e excessos ocorridos nas suas festas de aniversário e de casamento.”
Acentuava-se ainda na queixa que todo o artigo da Sábado “foi deliberadamente elaborado de forma a deturpar a imagem [de Isabel dos Santos], retratando-a [e, em certa medida, também a seu pai] como alguém que atua à margem ou acima da lei e que não se coíbe de utilizar em proveito próprio os recursos estatais a que tem acesso por ser filha do Presidente da República de Angola”. Em síntese, dizia, “o artigo inventa factos, deturpa acontecimentos, formula suspeitas e carateriza a Queixosa através de referências totalmente enganosas, atuação essa que, no entender da Queixosa, não só denota falta de rigor e de isenção, como se traduz numa verdadeira acusação com consciência da sua falsidade, consubstanciando-se, assim, em um conjunto de falhas deontológicas de extrema gravidade.”
A 19 de Janeiro de 2020, numa troca de tweets com a jornalista Fernando Câncio, Isabel dos Santos escrevia: “A minha ‘fortuna’ nasceu com o meu carácter, minha inteligência, educação, capacidade de trabalho, perseverança. Hoje com tristeza continuo a ver o ‘racismo’ e ‘preconceito’ da SIC-Expresso, fazendo recordar a era das “colónias” em que nenhum Africano pode valer o mesmo que um “Europeu””. Fernanda Câncio respondeu: “Certo, inteligente é certamente, terá capacidade de trabalho, teve uma boa educação. Mas gostava mesmo de perceber como é que numa família sem fortuna conhecida e sem nenhuma invenção que explicasse a súbita fortuna se transformou em menos de 10 anos num potentado económico”. Isabel dos Santos fechou a conversa: “Está disposta a ouvir sem preconceito? Pergunto-lhe a Refriango, empresa de um português em Angola que fez a Blue, como se tornou este senhor bilionário em Angola? Quando é português é possível, e quando é angolano é impossível?”.
A 5 de junho de 2015, Isabel dos Santos viajava por Itália com o marido, que, nesse dia, lhe ofereceu um ramo de rosas para recordar o seu primeiro encontro em 2001. Foram apontados vários namorados a Isabel dos Santos, como o de Juan Barazi, que é um dos seus grandes amigos na Suíça, mas a filha do ex-Presidente de Angola acabou por se casar com Sindika Dokolo, que conheceu em 1999. Desde então, pareciam inseparáveis, na vida e nos negócios, até à sua morte inesperada aos 48 anos, num acidente de mergulho no Dubai, no final de outubro de 2020.
Filho de Augustin Dokolo Sanu, empresário congolês, e Hanne Taabbel Kruse, uma enfermeira dinamarquesa, Sindika Dokolo nasceu a 16 de março de 1972, em Kinshasa, onde passou a infância. Os amigos recordam que o seu nome, Sindika, em kikongo significa “enviar, atirar, mandar alguém”. Por isso, quando era miúdo, os colegas e amigos gozavam com ele “mandando-o buscar um refrigerante à loja de esquina”.
Em 1965, Dokolo Sanu foi preso e teve de ceder ao Banco Central as ações que tinha no Banque de Kinshasa, na Cofiki, empresa financeira por onde passavam os financiamentos às dezenas de empresas do Groupe Dokolo, e ainda as ações detidas pelo filho menor Dokolo Sindika da Cofiki. Com a expropriação do grupo económico familiar, instigada pelo presidente Mobutu Sese Seko, que governou entre 1965 e 1997, Sindika Dokolo foi viver, com os pais e os irmãos, para a Bélgica e a França. Em Paris, estudou no Lycée Saint Louis de Gonzague e depois na Université Paris VI.
Em 1995, voltou com o pai ao Congo para retomar a gestão do grupo económico, mas o clima de guerra civil que levou à morte e deposição de Mobutu Sese Seko e à ascensão de Laurent Kabila, pai do atual presidente Joseph Kabila, não o permitiu. Este período de guerra civil e instabilidade congolesa cruzou-se com a segunda guerra civil angolana (1992-2002), tendo as tropas angolanas apoiado o regime de Kabila contra a subversão ruandesa, uma forma também de tentar cortar as linhas de abastecimento à UNITA.
Estes factos levaram a uma circulação e ao encontro das elites congolesas e angolanas, altura em que Isabel e Sindika se terão conhecido. Ainda recentemente, como se escrevia no site Maka Angola, “João Lourenço já tinha desempenhado um papel influente na transição pacífica no Congo entre Kabila e Tshisekedi”: “Várias fontes confirmam o seu papel fundamental em convencer Kabila a afastar-se, garantindo-lhe refúgio em Angola, se necessário, e no apoio que tem dado ao novo presidente congolês, quer no fortalecimento do seu poder, quer a lidar com o Ruanda”.
Com a morte do pai em 2001, Sindika Dokolo retomou os negócios no Congo, que tiveram altos e baixos devido aos problemas com Joseph Kabila e à maior proximidade com o atual presidente Félix Tshisekedi.
A 20 de dezembro de 2002, pelas 16 horas, nos jardins do Palácio Presidencial, Isabel e Sindika casaram-se pelo civil. No dia seguinte, sábado, 21 de dezembro, pelas 16h30, teve lugar na Sé Catedral de Luanda a cerimónia católica. É que, apesar da adesão aos princípios marxistas-leninistas, José Eduardo dos Santos teve uma formação católica. Entre os 800 convidados estiveram Joseph Kabila e Sam Nujoma, presidentes da República Democrática do Congo e da Namíbia. Foi considerado o casamento do ano e gerou polémica por ter sido tratado como se fosse uma cerimónia de Estado.
O copo d’água realizou-se no Palácio Presidencial e na ementa do jantar foi, nas palavras da própria Isabel dos Santos, “dada preferência” aos produtos angolanos: “As entradas foram à base do maravilhoso marisco da costa atlântica angolana, a famosa lagosta do Kwanza-Sul e as gambas e o caranguejo do Namibe. Para o prato principal, foi servida a fresquíssima e saborosa garoupa pescada na costa de Luanda. Quanto às sobremesas, a bavaroise de abacaxi e a mousse de maracujá do Uíge foram propostas aos convidados. Nas pastelarias foi usada uma diversidade de frutas tropicais como a papaia, a banana e a manga”.
Os dados sobre o casamento são muito diferentes e impossíveis de confirmar, ainda que não haja dúvidas sobre a grandeza da cerimónia. Num texto da época, escrevia-se que foi “considerado pela imprensa local como o casamento do ano”, “coloriu as capas das publicações locais”, sobretudo devido aos valores sobre os gastos e o número de convidados.
“As entradas foram à base do maravilhoso marisco da costa atlântica angolana, a famosa lagosta do Kwanza-Sul e as gambas e o caranguejo do Namibe. Para o prato principal, foi servida a fresquíssima e saborosa garoupa pescada na costa de Luanda. Quanto às sobremesas, a bavaroise de abacaxi e a mousse de maracujá do Uíge foram propostas aos convidados. Nas pastelarias foi usada uma diversidade de frutas tropicais como a papaia, a banana e a manga”, escreveu Isabel dos Santos sobre a ementa do seu casamento.
A partir daqui não faltam números e detalhes, mas poucos confirmados ou confirmáveis, a não ser os que a própria Isabel dos Santos admitiu num direito de resposta enviado à revista Sábado. “Quem já tenha visitado o Palácio Presidencial saberá com certeza que para se instalar três mil convidados sentados em trezentos metros seria necessário destruir boa parte do jardim, cortar todas as árvores, arrancar todas as flores e plantas, e, mesmo assim, dificilmente seriam instalados confortavelmente as três mil pessoas. Para esclarecimento dos autores, os convidados foram oitocentas pessoas (e não três mil), das quais quatrocentas eram familiares diretos do noivo e da noiva”.
Disse ainda que na ementa foi dada preferência aos produtos angolanos e ironizou em relação à quantidade de comida: “Quererão os autores do artigo afirmar que cada convidado comeu quase 67 quilos de comida num jantar? Seguramente (…) se basearam no Guinness Book of Records. No meu casamento não foi”. Confirmou que os convidados do marido, amigos e familiares que vivem no Congo se deslocaram na TAAG, única companhia aérea que então assegurava os voos entre Kinshasa e Luanda, e que cada bilhete de ida e volta custou 200 euros.
Foi com o incentivo do pai e do colecionador belga Jean Cambier que aos 10 anos Sindika começou uma coleção de armas africanas antigas: “Ofereciam-me as peças e encorajavam-me a pesquisar o contexto em que eram feitas”. Mas o marido de Isabel dos Santos só chegou à arte contemporânea quando se cruzou com a peça “Pharynx”, de Jean-Michel Basquiat, em casa de um colecionador.
Claro que acabou por adquirir o quadro. Depois, em 2005, Sindika comprou a coleção de arte africana contemporânea do homem de negócios alemão Hans Bogatzke, vendida pela viúva. Desde 2004, a Fundação que entretanto criou realizou exposições no IVAM de Valência (Espanha), e foi responsável pelo primeiro pavilhão africano na 52.ª Bienal de Veneza em 2007 (que foi patrocinado pela Sonangol). Com uma coleção de mais de três mil obras de arte, Sindika Dokolo tornou-se assim um dos maiores colecionadores de arte africanos contemporâneos e um nome bem conhecido entre a elite da arte global. Era convidado VIP em várias feiras de arte contemporânea e esteve na gala da Société des Amis du Musée National d’Art Moderne, em outubro de 2019. Observador. CONTINUA