"Não sei o que é que vai haver (..) para o ano”, mas “começo a suspeitar que talvez a situação pandémica dificulte as eleições. Admito que a conjuntura atual, a manter-se, dificulte muito a sua realização", afirmou o autor de numerosos livros e vencedor de vários prémios literários, em declarações à Lusa em Lisboa.
Artur Carlos Maurício Pestana dos Santos, conhecido como Pepetela, nome pelo qual foi batizado em combate contra os portugueses, ainda admite que em relação às eleições presidenciais, que "devem ser lá para novembro de 2022", possa haver alguma hipótese de as realizar.
Mas, na opinião do escritor, o que será mais provável que aconteça é que Angola "junte tudo” num só ato eleitoral, porque "há um conjunto de fatores que não facilitam muito" a realização de eleições no próximo ano.
Para Pepetela, a situação no seu país "está complicada, parece que há uma conjunção de pragas que se abateram sobre Angola. A última são as chuvas, que normalmente são benéficas, embora às vezes tenham feito bastantes estragos, mas também há a dos gafanhotos".
"Tem acontecido tudo desde o ano passado, com a covid-19. É uma situação muito complicada que se alia à situação económica, a problemas com o petróleo, o preço que baixou, a produção que baixou", referiu.
A situação é tão difícil "que ninguém gostaria de ser hoje responsável por aquele país", afirmou.
Questionado se esse adiamento das eleições não poderia ter a ver também com o receio do Movimento Popular para a Libertação de Angola (MPLA, no poder desde a independência) de perder as autárquicas, Pepetela admitiu que a gestão existente não é consensual, até porque "sempre houve municípios onde o partido qual sempre esteve ligado não ganhou, apesar de ganhar as eleições”.
"Agora, há municípios em que a oposição, supostamente a UNITA (União para a Independência Total de Angola), se apresenta com mais possibilidades. Mas também pode haver surpresas da própria oposição”, considerou.
Neste momento, é “muito difícil de prever" o que vai acontecer, concluiu o escritor, admitindo que o programa do MPLA "certamente não pode ser cumprido".
"Aquele que foi apresentado na altura da tomada de posse pelo Presidente [João Lourenço], para os próximos cinco anos não será cumprido certamente. É impossível", concluiu.
Porque “há uma série de fatores extra-políticos que concorreram para ser impossível", defendeu.
Pepetela recebeu esta semana o prémio literário dstangola/Camões, das mãos do primeiro-ministro português, António Costa, com o livro “Sua Excelência, de Corpo Presente”, numa cerimónia no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, que assinalou também o Dia Mundial da Língua Portuguesa, 05 de maio.