Pulsação do debate político em Angola mede-se nas redes sociais - analista

Jornalistas e especialistas em comunicação defenderam que a pulsação do debate político em Angola se mede hoje nas redes sociais e que estas são um espaço do qual os políticos não podem estar ausentes.

“Se quisermos medir a pulsação do debate político em Angola, o quão agitadas estão ou não as águas, temos necessariamente de ir para as redes sociais por intermédio das quais os partidos políticos se projetam", disse a jornalista e presidente da Comissão da Carteira e Ética, Luísa Rogério, à margem de um encontro sobre o tema, promovido pelo Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA, partido no poder).

“Se quisermos avaliar o pensamento de um partido político, tanto dos governantes como da oposição basta ir às redes sociais”, continuou Luísa Rogério, sublinhando que há militantes que são estratégicos.

Para a jornalista, os militantes que têm maior proeminência nas redes sociais e um grande número de seguidores são precisamente um reflexo da importância que as redes sociais tem num contexto como o angolano.

Notou, por outro lado, que Angola se encontra num ano pré-eleitoral que se vive já “praticamente em ritmo de campanha” e que “o ambiente começa a aquecer”.

A jornalista assinalou, por isso, a necessidade de uso responsável das redes: “Todos nós devemos usar as redes sociais com muita responsabilidade também".

"Quando alguém faz uma determinada publicação, uma determinada afirmação, sobretudo se tiver proeminência, os seus seguidores irão tomar essas declarações como um posicionamento do seu partido”, acrescentou.

Para Luísa Rogério, as redes sociais são uma “extensão do pensamento político e ideológico dos partidos políticos em Angola”, acentuando-se, por isso, a necessidade de “responsabilização pessoal” pelo seu uso.

A opinião foi também partilhada pelo comunicólogo e ex-secretário de Estado para a Comunicação Social, Celso Malavaloneke, também presente no encontro “Termómetro” que visa recolher contributos da sociedade civil.

O também professor universitário destacou que, ao mesmo tempo que representam um contributo importante para a democratização da informação, as redes sociais quase não tem mecanismos de regulação, “salvo aqueles que a consciência individual e coletiva possa impor”.

Por outro lado, o anonimato protege e encoraja práticas menos positivas como a ofensa gratuita, a disseminação de ‘fake news’ e o assassínio de caráter, alertou, acrescentando ainda assim que este é o caminho para fazer política hoje.

Celso Malavaloneke notou que a interação dos políticos já não se faz só “olhos nos olhos” e presencialmente, passando agora pela interação virtual em que os próprios comícios já são substituídos por 'lives' onde governantes e governados trocam impressões de forma bastante próxima.

“É quase imperativo que um político esteja presente nas redes sociais, interaja, comente, proponha temas de debate e reflexão, preste contas e até exerça o seu charme no sentido de conquista do voto”, enfatizou.

Na abertura do encontro, a vice-presidente do MPLA, Luísa Damião, considerou que as redes sociais transformaram-se num dos principais fóruns de discussões publicas e politicas, colocando vários desafios aos partidos, entre os quais a Tendência de diminuição da influência dos partidos como instancia de mediação entre a sociedade e o poder politico.

Criticou, por outro lado, o “estilo reprovável dos que faltam com a verdade” e o “uso incorreto das redes sociais por alguns indivíduos” que impede o bom aproveitamento deste métodos de interação, dando como exemplo a criação de falsos perfis para difundir 'fake news', violência gratuita e inverdades.

“Notamos, entre nós, certa tendência para trazer para o debate político e partidário e principalmente nas redes sociais formas violentas de fazer politica de outras paragens que observamos em ambientes políticos eleitorais, usando o discurso do ódio, diabolização das instituições do estado, violação gratuita dos direitos fundamentais, minando os nossos bons usos e costumes, a unidade e reconciliação nacional”, lamentou.

A vice-presidente do MPLA frisou que nas redes sociais todos podem ser vitimas do ódio, salientando que o seu partido vai responder às provocações “com respostas e medidas à altura do MPLA”.

O encontro Termómetro vai ser realizado mensalmente em todo o país.

Contou hoje com figuras como Luísa Rogério e Celso Malavaloneke, bem como a jornalista e comunicóloga, Paula Simons, e o jornalista José Kaliengue.

Last modified on Quarta, 19 Mai 2021 20:50
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