“Ficámos perplexos com esta decisão”, disse à agência Lusa a presidente da CCE, Luísa Rogério, para quem “não existe fundamento” que justifique esta tomada de posição.
Os canais estatais Televisão Pública de Angola (TPA) e TV Zimbo suspenderem a cobertura das atividades da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) na sequência de atos de intimidação que visaram os seus jornalistas durante uma manifestação, sábado, convocada pelo partido.
“A lei de imprensa salvaguarda o serviço público de informação que visa dar um tratamento com rigor, objetividade a todos os intervenientes da zona pública em Angola, sejam partidos políticos ou da sociedade civil” e, “salvo melhor informação, a TPA e a TV Zimbo não fundamentaram a medida”, afirmou.
Para Luísa Rogério, “boicotar a atividade de um partido político, com assento parlamentar e que provavelmente irá concorrer às eleições, numa altura em que se vive o período de pré-campanha eleitoral não é bom para o momento, uma vez que transforma os jornalistas em protagonistas de querelas políticas e, quando isso acontece, isso remete toda a sociedade para uma reflexão necessária sobre o estado da comunicação social em Angola”.
“Que legitimidade têm as duas televisões para suspenderem a cobertura da atividade política da UNITA? Que suporte legal sustenta esta decisão? Qual a motivação? O que justifica esta tomada de posição?”, questionou.
Luísa Rogério, jornalista angolana e membro da comissão executiva da Federação Internacional de Jornalistas (FIJ), referiu que este organismo vai pronunciar-se sobre o caso que levou já o Sindicato dos Jornalistas Angolanos (SJA) a apelar ao diálogo para tentar ultrapassar esta decisão dos canais públicos de televisão de suspenderem a cobertura de atividades da UNITA.
O SJA refere que o contexto político, a um ano das eleições gerais em 2022, exige “serenidade” e assinala que o presidente da UNITA, Adalberto da Costa Júnior, repudiou no mesmo dia as ameaças e obstrução à atividade dos jornalistas daqueles canais.
A decisão da TPA e da TV Zimbo foi anunciada na segunda-feira, no horário nobre das duas estações televisivas estatais, com os respetivos pivôs a anunciarem a decisão das administrações dos dois órgãos de abandonarem a cobertura das atividades promovidas pela UNITA, não entrevistar os seus dirigentes nem outros responsáveis ou militantes e exigindo a retratação e desculpas públicas da direção do partido.
No sábado, durante uma marcha convocada pela UNITA, que juntou em Luanda milhares de militantes, simpatizantes e apoiantes desta e de outras forças políticas, bem como membros da sociedade civil, em prol de eleições justas e livres, os jornalistas dos canais públicos foram alvo de intimidação e ameaças.
O MPLA, partido no poder em Angola há 45 anos, apelou na segunda-feira à justiça angolana para chamar à responsabilidade os autores do "ato bárbaro", que colocou em causa a integridade física e dignidade de profissionais da informação.
Angola tem eleições gerais previstas para 2022 e vive já um período pré-eleitoral marcado pelo crescendo de tensões entre o partido do poder, MPLA, e a UNITA que se juntou a outras forças políticas da oposição angolana numa Frente Democrática Unida para vencer a disputa eleitoral.