Testemunhos recolhidos pela Lusa dão conta dos receios, por exemplo, de empregadas de limpeza, que contactaram os seus patrões pedindo para não irem trabalhar, prevendo dificuldades nos transportes e confusão nos principais acessos à capital angolana.
Uma empresa de limpezas ao domicílio disse à Lusa que preferiu antecipar os seus serviços para sexta-feira, já que decidiu encerrar no sábado, devido à realização da marcha convocada pela sociedade civil para protestar contra a subida dos preços do gasolina, o fim da venda ambulante e a proposta de lei de alteração dos estatutos das organizações não-governamentais (ONG).
Perto de um hipermercado, um guarda deu também conta das suas preocupações enquanto tentava reunir alguns "trocos" para apanhar um táxi e regressar mais cedo a casa.
“Quero ir para casa cedo amanhã, antes de começar a guerra”, disse a um cliente.
Para as empresas de segurança privada, esta acaba por ser uma oportunidade de aumentar a faturação, já que muitas recomendam um “reforço” de segurança aos seus clientes, para salvaguarda do património e dos funcionários, como disse à Lusa um responsável de uma construtora.
Entretanto, as embaixadas dos Estados Unidos, Reino Unido e França publicaram alertas de segurança no seus 'sites' e redes sociais advertindo os seus cidadãos para as manifestações, aconselhando-os a evitarem multidões e deslocações e a manterem-se vigilantes nos próximos dias.
A embaixada de Portugal não tinha, até às 17:00, qualquer alerta de segurança nas suas redes sociais, nem na página do portal diplomático.
Entretanto, apesar de a Polícia Nacional ter dito que na capital angolana não está a ser preparado qualquer dispositivo especial, são visíveis em vários pontos da cidade veículos da Polícia de Intervenção Rápida (PIR) a circular e um reforço do patrulhamento.
Os temas, sobretudo o aumento da gasolina devido à retirada parcial das subvenções aos combustíveis, suscitaram já protestos e confrontos com a polícia em várias províncias angolanas, que resultaram em, pelo menos, cinco mortos e dezenas de feridos e detidos.
Um manifesto divulgado na página da rede social Facebook da organização cívica Mudei apela à "solidariedade social" e à cidadania sob a forma de ações coletivas para combater as "injustiças" que consideram estar a afetar várias classes, das 'zungueiras' (vendedoras ambulantes) aos taxistas que “não receberam a isenção anunciada ao aumento do preço da gasolina”.
A nota destaca a "crise humanitária à escala nacional" apontando a "omissão" do Estado angolano "que recorre à repressão e à violação explícita de direitos fundamentais quando as vozes cidadãs se fazem ouvir".
O manifesto sobre a manifestação nacional de 17 de junho é subscrito por 16 organizações cívicas espalhadas pelo país e por 46 ativistas e membros da sociedade civil.
Duas organizações partidárias – a JURA, braço juvenil da UNITA (maior partido da oposição) e o Bloco Democrático – anunciaram que apoiam a iniciativa e convidaram os seus militantes e simpatizantes a participarem.