Industriais angolanos alertam para fecho de fábricas devido à "instabilidade monetária e cambial"

A Associação Industrial de Angola (AIA) disse hoje que a instabilidade monetária e cambial está a levar ao encerramento de várias indústrias, "dependentes da importação de matéria-prima", lamentando a suspensão de atividades de algumas empresas de bebidas.

Para o vice-presidente da AIA, Eliseu Gaspar, o cenário de encerramento e suspensão de atividades das indústrias angolanas "é consequência de uma produção nacional não diversificada, porque até aqui a economia angolana girou em torno do petróleo".

O responsável recordou que quando se iniciou a guerra na Ucrânia o petróleo estava em alta, "mas, ultimamente, o preço baixou ultrapassando o nível proposto no OGE [Orçamento Geral do Estado]" realçou.

"Portanto, há essa consequência, não há exportações, não há produção interna que sirva de balanço para as divisas que são provenientes da venda do petróleo e o resultado é esse", afirmou Eliseu Gaspar, em declarações à Lusa.

"É sim preocupante, porque há empresas a fecharem e, na sua maioria, as indústrias que constituem o nosso tecido empresarial vivem de importações, as matérias-primas são todas importadas e para importar é preciso divisas, estamos a falar de indústrias e até da própria população", frisou.

A cervejeira angolana Nocal, pertencente ao grupo francês Castel, que produz também a Cuca, suspendeu temporariamente a sua atividade por falta de divisas para a importação de matéria-prima e a Eka, do mesmo grupo empresarial, deve igualmente parar por tempo indeterminado, noticiou o semanário angolano Expansão.

De acordo com a publicação económica, a falta de divisas para a importação de matéria-prima condiciona a manutenção da produção em ambas as fábricas e constituem as razões da suspensão das atividades.

A Lusa tentou contactar o grupo Castel para obter mais informações, sem resposta até ao momento.

A AIA diz estar a par da realidade de ambas as cervejeiras, uma preocupação que, segundo Eliseu Gaspar, "não é de agora".

"Portanto, isso é só uma consequência desta instabilidade monetária cambial que o nosso país está a atravessar neste momento", salientou, admitindo que a atual situação pode levar ao encerramento de mais empresas.

"Se não se tomarem medidas preventivas e arranjar-se soluções para estabilizar a oferta de cambiais poderemos assistir a outras indústrias a fecharem ou a suspenderem a sua atividade", observou.

Defendeu também a intervenção do Banco Nacional de Angola no mercado, como medida preventiva para travar a escassez de cambiais, bem como a necessidade de as empresas petrolíferas que operam no país fazerem compras no mercado local.

"O que se assiste agora é que todas as compras das empresas petrolíferas são feitas lá fora e também os pagamentos, tudo em moeda estrangeira, aqui fazem apenas despesas residuais, mas o grosso das divisas não se vê", apontou.

"E, por último, partirmos de facto para a diversificação da economia, devidamente orientada, com uma informatização de procedimentos obedecendo uma sequência lógica das ações a desenvolver nos mais variados ramos da atividade para se ter a situação estabilizada", rematou o vice-presidente dos industriais de Angola.

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