Confederação sindical angolana (UNTA) vai apresentar ao Governo caderno reivindicativo

Post by: 22 Agosto, 2023

A União Nacional dos Trabalhadores Angolanos (UNTA) disse hoje que está em preparação um caderno reivindicativo a propor ao Governo que baixe os níveis da inflação ou aumente o salário, devido ao agravamento da situação socioeconómica e salarial.

O secretário-geral da UNTA, uma confederação sindical, citou, em conferência de imprensa, vários aspetos que afetam a vida dos trabalhadores nos últimos anos, principalmente o que está em curso, marcado por um “cenário que não é saudável”.

Segundo José Laurindo, a prioridade é o diálogo com o Governo, “mas se esse diálogo for de surdos, naturalmente pode redundar em greves, a última arma que o trabalhador tem para se defender”.

“Nós temos estado a acautelar e a ponderar positivamente os efeitos de uma greve, mas estamos numa situação em que as coisas estão insustentáveis”, referiu, reiterando que não é desejo da UNTA que haja paralisação, “mas pode ser inevitável”, lembrando que “todos os setores ministeriais têm muitas dificuldades”.

José Laurindo frisou que a vida dos trabalhadores angolanos está a ser afetada pelas consequências da inflação galopante, o acentuado desemprego, a lenta recuperação de empregos, a redução do nível de rendimentos real das famílias, o elevado custo das divisas, a desaceleração da atividade económica, a fragilidade fiscal que o país regista, que são “efeitos de políticas públicas não muito bem concebidas pelo executivo angolano”.

Para exemplificar a situação, José Laurindo contou que apenas a nível da UNTA-CS existem acima de 30 cadernos reivindicativos, “porque não há diálogo efetivo em vários departamentos ministeriais”.

“Aquilo que nós estamos a assistir não tem comparação possível na história de Angola. Os salários perderam totalmente o seu valor em função da elevada inflação que se regista”, disse.

De acordo com José Laurindo, afetou também as famílias angolanas a decisão de retirada de subvenção aos combustíveis, mais concretamente da gasolina, em junho deste ano, que “agudizou a situação socioeconómica dos trabalhadores em todas as vertentes”, por não ter sido acompanhada com outras medidas complementares para atenuar o seu impacto negativo.

“Na realidade, é imperativo uma reforma política que reduza a incerteza e estimule o investimento privado, quer nacional quer estrangeiro, principalmente no setor agrícola para a produção de bens e consumo rumo à autossuficiência alimentar de que o país tanto precisa”, referiu.

Por outro lado, prosseguiu José Laurindo, é preciso também o avanço da reforma tributária, que “só visa o aumento da arrecadação de receitas como prioridade”, considerando a mesma “uma política que sufoca o trabalhador”, devido ao seu baixo salário, que lhe retira poder de compra e de “aquisição de bens e serviços para a sua sobrevivência”.

O sindicalista adiantou que na declaração conjunta, deste ano, das principais organizações sindicais do país, alusiva ao Dia Internacional do Trabalhador, foram apresentadas ao Presidente angolano, João Lourenço, algumas exigências que devem ser tomadas para a melhoria das condições dos trabalhadores angolanos.

No documento, as organizações sindicais frisaram que se o Governo não respondesse às questões apresentadas a declaração poderia evoluir para um caderno reivindicativo, tendo-se já passado três meses sem qualquer sinal do executivo.

O sindicalista disse que a UNTA não pode “estar impávida e serena” a olhar para a situação dos trabalhadores, que “cada vez mais se agudiza”, sendo o caderno reivindicativo a via para um diálogo com o Governo, já que o Conselho de Concertação Social, espaço para abordarem “muitos assuntos”, nos últimos seis anos reuniu apenas uma vez, ao invés de uma vez por ano como era previsto.

José Laurindo realçou que as suas propostas visam que o executivo, na preparação do Orçamento Geral do Estado para 2024. “tenha em consideração esses elementos”, nomeadamente a atenuação da "inflação galopante” ou como alternativa, que não é o objetivo da UNTA, “porque isso não resolve”, o aumento substancial dos salários.

“Esta situação que o país vive está a levar que até o setor privado esteja a reduzir trabalhadores, mais gente a ir para o desemprego”, salientou o dirigente, lamentando que “as empresas vão diminuindo o seu pessoal de trabalho e algumas delas provavelmente podem abrir falência”.

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Last modified on Terça, 22 Agosto 2023 13:36
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