A investigação foi realizada por biólogos da EcoAngola e dos Guardiões da Costa Mwangolé, entre domingo e segunda-feira, para analisar as causas do afloramento de algas e avaliar os seus impactos.
De acordo com os resultados preliminares hoje divulgados, consultados pela Lusa, a espécie ‘Noctiluca scintillans’ é conhecida por causar florações bioluminescentes e deterioração da qualidade da água quando cresce excessivamente. “Na noite de 16 de setembro de 2024, sinais de bioluminescência foram confirmados, reforçando a hipótese de que Noctiluca scintillans é a espécie responsável.
Embora a pesquisa bibliográfica sobre bioluminescência em Angola seja limitada, estudos sugerem que condições oceânicas na região podem favorecer a proliferação dessa alga”, salienta-se no relatório. Relatos de pescadores indicam uma diminuição nas capturas, além de um odor desagradável em áreas afetadas, e a análise de imagens de satélite mostrou um aumento significativo nas florações a partir de junho, coincidindo com as denúncias da população local.
Em causa está um problema de contaminação marinha visível ao longo da costa de Luanda, causado por um afloramento de algas. “Este fenómeno, que se estende por uma grande área, gera preocupações sobre a saúde do ecossistema marinho, a qualidade da água e o impacto nas atividades locais, como a pesca e o turismo”, lê-se no relatório.
Os especialistas utilizaram técnicas de microscopia e observação para identificar as espécies predominantes no afloramento, conversaram com pescadores e moradores da zona, que ajudaram a reunir informações sobre a evolução do fenómeno e seu impacto nas atividades diárias, bem como revisaram imagens de satélite entre 01 de maio e 16 de setembro, para identificar picos de afloramento e corroborar denúncias de contaminação.
“Embora a pesquisa bibliográfica sobre bioluminescência em Angola seja limitada, estudos sugerem que condições oceânicas na região podem favorecer a proliferação dessa alga”, salientam, aconselhando, para o aprofundamento da pesquisa, a realização de ações de monitoração da temperatura da água ao longo dos meses, a identificação de outros microrganismos nas amostras e a coleta em mais locais, como a província de Benguela, a avaliação dos parâmetros de qualidade da água, incluindo nutrientes e clorofila, e a melhoria da qualidade das imagens de satélite utilizadas.
Para prevenção e mitigação, estas organizações recomendam a implementação de sistemas eficientes de tratamento de águas residuais, regulamentação do uso de fertilizantes nas áreas costeiras, criação de zonas tampão vegetadas e melhoria da infraestrutura de saneamento.
“É fundamental realizar campanhas de sensibilização sobre os impactos da poluição, replantar mangais e implementar monitoramento contínuo da qualidade da água. Também é importante incentivar a aquicultura sustentável e criar zonas de proteção marinha, além de, se necessário, realizar a remoção física de algas em áreas críticas”, recomendam.
A ministra do Ambiente de Angola, Ana Paula de Carvalho, anunciou, na semana passada, que foram recolhidas amostras para análise e que foi criado um grupo multissetorial formado por representantes de várias instituições governamentais e entidades relevantes, para garantir uma abordagem integrada e eficaz para identificar a origem do fluído e implementar medidas necessárias para mitigar os impactos.
O fenómeno associado a ‘Noctiluca scintillan’s pode ser classificado como uma ‘red tide’ (maré vermelha), caracterizada pela proliferação de algas que pode alterar a cor da água, que, embora não seja tóxico, pode causar irritações na pele e reações alérgicas, gerando preocupações de saúde pública e diminuição de atividades recreativas e turísticas.