Norberto Garcia, também antigo secretário para a Informação do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), partido no poder em Angola, foi acusado dos crimes de associação criminosa, tráfico de influência e de auxílio à imigração ilegal, mas, nas alegações finais do julgamento, o Ministério Público pediu sua absolvição por falta de provas.
Em declarações à imprensa, Norberto Garcia, que esteve em prisão domiciliária desde setembro de 2018 até hoje, disse que viveu "uma situação difícil", agradecendo a Deus, que "iluminou os homens que aplicaram a lei".
Norberto Garcia, que se não fosse político seria pastor de igreja, como afirmou, referiu que o dinheiro que lhe caberia com a indemnização deveria servir para melhorar as condições sociais da população, nomeadamente construção de mercado, escolas ou fornecimento de medicamentos aos hospitais.
"Mas não vou pedir indemnização, porque não vou aproveitar uma circunstância de um erro processual que se cometeu para tirar proveito", garantiu.
Segundo Norberto Garcia, a situação que viveu serve para perceber que "Angola tem gente séria".
"Sempre expliquei que a minha ida à UTIP, em 2015, se deveu ao facto de combater a corrupção. Quando lá fomos, foi este o nosso propósito e todas as pessoas que nos conhecem sabem que somos anticorrupção", declarou.
"Não tenho raiva de ninguém, qualquer rancor, mesmo daqueles que, nas redes sociais, queriam que eu fosse fuzilado em hasta pública, que apodrecesse na cadeia. Pelo contrário, saio de coração aberto", frisou.
Questionado se teve algum apoio do partido durante o processo, o ex-porta-voz do MPLA disse que nunca esperou qualquer ajuda, por entender que a organização política "não se deve meter nestas coisas".
"A partir da altura que alguém tem esse tipo de problema, tem de provar aquilo que eu provei. Penso que, em relação ao meu partido, as questões que se colocam são tratadas intramuros, é uma questão do partido e penso que, se cada um de nós é trazido a esta sala, tem de provar que é inocente. Foi aquilo que fiz", realçou.
Norberto Garcia afirmou, contudo, sentir-se "triste" com o facto de, ao longo do processo, não ter contado com o apoio de nenhum "camarada do partido", manifestando a sua "tristeza" relativamente a isso.
"Eu lembro que, dias antes de ser preso, estava no partido. Estava numa mesa na sede do partido a tratar do congresso do partido, sentado com presidentes. De repente, vejo-me enjaulado num carro celular e ainda por cima a chamarem-me 'marimbondo', que não tenho nada a ver com isso", adiantou.
"Portanto, fico triste quando os meus camaradas do partido - e este é um apelo que faço - independentemente do problema que nós estejamos a viver, temos de ser solidários", disse.
De acordo com Norberto Garcia, logo após a sentença, já recebeu "milhares de telefonemas" de manifestação de apoio.
"É esse cinismo que eu não acho bom. No dia que fui preso, todo o mundo zombou de mim. Hoje, já estou a receber duas mil e tal chamadas", referiu o político, salientando que, com isso, hoje sabe quem são os seus amigos.
O antigo porta-voz do MPLA recordou que o seu compromisso político vem desde o tempo do Presidente António Agostinho Neto e que está a ponderar se vai mesmo continuar na vida política ou se vai tornar-se pastor da sua igreja.