Segundo o angolano Novo Jornal avançou a 18 de outubro, o procurador-geral da República de Angola, Hélder Pitta Grós, emitiu um despacho a determinar a abertura de um processo-crime contra a gestão de Isabel dos Santos na Sonangol, em 2016/2017.
Em causa estará uma alegada transferência de 38 milhões de dólares (34 milhões de euros), um dia após a empresária ser exonerada da presidência da petrolífera estatal angolana, o que aconteceu em novembro de 2017.
Ao Jornal Económico, Isabel dos Santos explica que “como já foi demonstrado em documento bancário, não houve ordem de transferência depois da minha exoneração e não existem transferências ou ordens de transferência com datas posteriores à minha saída da Sonangol, a 16 de Novembro de 2017. Dizer que houve ordens de transferência depois da minha exoneração é simplesmente falso”.
“O próprio comprovativo de pagamento do banco confirma que a operação interbancária ocorreu no dia 15 de Novembro de 2017, pelo que a instrução para os serviços executarem a ordem de pagamento foi dada um ou dois dias antes. A data de passagem de pasta e a entrada do novo Conselho de Administração ocorreu no dia 16 de Novembro de 2017. As datas são claras e evidentes”, destaca a empresária.
“Está-se deliberadamente a usar a proximidade destas datas para confundir a opinião pública e criar suspeições a meu respeito, com o objectivo de atingir a minha idoneidade e reputação e executar uma política de vingança”, afirma Isabel dos Santos.
Documentação e consultores
“Em primeiro lugar, é falso que tenha autorizado qualquer transferência após a minha exoneração. E basta consultar a documentação da Sonangol relativa à autorização de pagamento para se constatar tal facto”, diz a empresária na nota enviada ao Jornal Económico.
“Em segundo lugar, é falso que a empresa seja de “fachada”/”fantasma” ou que não tenha prestado serviços à Sonangol. Para se constatar isso, basta também consultar a vasta documentação produzida e apresentada, bem como questionar os múltiplos consultores envolvidos num trabalho muito importante e que produziu resultados efectivos na Sonangol, curiosamente muitos dos quais estão a ser aproveitados pelo Conselho de Administração actual”, destacou.
A empresária defende que a “luta contra a corrupção não deve ser usada para alimentar uma agenda de perseguição e de “caça às bruxas”. Angola enfrenta actualmente um conjunto de problemas económicos e sociais muito graves, sendo urgente a sua resolução e isto é perder tempo e usar mal o dinheiro dos contribuintes”.
A antiga presidente do conselho de administração da petrolífera estatal angolana refere que “se a intenção de lutar contra a corrupção fosse séria, já se teria investigado o porquê de terem existido quase 20 mil milhões de dólares (17,97 mil milhões de euros) de dívida na Sonangol em final de 2015, e como este dinheiro foi usado e perdido, e já haveria transparência sobre as transações de venda do petróleo Angolano dos últimos 10/12 anos”.
Críticas ao Executivo de João Lourenço
Isabel dos Santos lança assim uma dura crítica ao Governo de João Lourenço que sucedeu ao seu pai, José Eduardo dos Santos, no poder em Angola.
“O actual executivo não investiga isto porque não existe uma real vontade de combate à corrupção. Há apenas uma agenda política de perseguição e manobras de diversão da opinião pública”.
A seu favor, a empresária diz que durante os 18 meses em que presidiu à Sonangol “houve equipas de dezenas de consultores e muitas centenas de horas de trabalho relatórios e documentos apresentados”, gastando menos de um quarto do valor gasto em consultoria em 2015.
Isabel dos Santos dá também o exemplo de que depois da sua saída da Sonangol, o seu sucessor no cargo, Carlos Saturnino, “adjudicou directamente um contrato de reestruturação/regeneração da Sonangol a uma empresa consultora no valor de mais de 43 milhões de euros”.
A empresária admite que todos os seus atos de gestão na Sonangol podem ser questionados pelo acionista da empresa, o Estado angolano. Mas garante que todos os atos de gestão que praticou foram no “cumprimento” dos seus “deveres enquanto administradora, de boa-fé, transparentes e de acordo com o que a cada momento nos pareceu ser o melhor interesse da empresa”.
“Não tenho a mais pequena dúvida que não praticámos qualquer ilicitude, muito menos de carácter criminal”, argumenta.
Isabel dos Santos diz que apesar da sua “curta passagem pela administração da Sonangol”, entende que deixou um “legado” de que se pode honrar, tendo iniciado o “caminho da sustentabilidade da empresa”.
“Cumpri esta missão com orgulho, mas também com custo profissional e pessoal inclusive, num momento em que estava grávida do meu quarto filho, com todo o sacrifício físico que qualquer mulher conhece nesta fase da sua vida”, remata a empresária.