Uns esmagadores 91 por cento dos inquiridos consideram que os dirigentes, nos seus actos governativos, apenas atribuem prioridade os seus interesses pessoais, em detrimento dos interesses do Estado e da população..
A FNLA e o PRS ficam-se com apenas um por cento do eleitorado cada. A categoria “outros partidos” recebe dois por cento das atenções, enquanto um por cento manifesta ser “impossível determinar” o partido em que votar.
A sondagem foi realizada pela empresa brasileira Sensus, Pesquisa e Consultoria, nas 18 províncias do país. Ao todo, segundo os resultados a que o Maka Angola teve acesso, foram abrangidos 9155 indivíduos recenseados, classificados como eleitores “com diferentes níveis de escolaridade e de diferentes classes sociais”. A Sensus tem prestado serviços à Presidência de José Eduardo dos Santos, bem como ao MPLA e à Sonangol, desde 2012.
De certo modo, as sondagens eleitorais servem apenas de barómetro para aferir o estado de espírito dos grupos-alvo e a sua inclinação de voto. Muitas vezes, as sondagens são falíveis: em 2014, por exemplo, a Sensus deu uma vitória folgada ao candidato Aécio Neves nas presidenciais brasileiras ganhas por Dilma Rousseff. Os outros institutos de pesquisa, como o Datafolha e o Ibope, acertaram nessas mesmas previsões, conforme estudo do Pragmatismo Político.
O prenúncio da derrocada
Para um partido que ganhou as últimas duas eleições com 82 por cento (2008) e 72 por cento (2012) dos votos, ter uma preferência do eleitorado abaixo dos 40 por cento pode ser o prenúncio da derrocada política do MPLA, caso a fraude eleitoral seja mínima. A sondagem apresenta uma margem de erro de quatro pontos percentuais, o que coloca o MPLA numa posição potencialmente ainda mais próxima da UNITA.
A Constituição angolana – atípica – permite que um partido político sem maioria qualificada governe sem fazer alianças, enquanto a oposição detém a maioria dos assentos na Assembleia Nacional. Isto é possível porque, de acordo com a Constituição, o presidente da República e simultaneamente chefe do Executivo corresponde ao cabeça de lista, pelo círculo nacional, do partido político (ou coligação de partidos políticos) mais votado nas eleições gerais (artigo 109.º n.º 1 da Constituição). E não é exigida qualquer maioria absoluta para essa “eleição”. Se os valores da sondagem se confirmassem, com 38 por cento dos votos, João Lourenço seria eleito presidente da República e chefe do Executivo, mas o seu partido não teria maioria na Assembleia Nacional. Por agora, fica a pergunta: que legitimidade política teria Lourenço para ser presidente da República e como faria aprovar o Orçamento Geral do Estado e outras propostas legislativas sem maioria na Assembleia?
Não faz sentido comparar esta situação com aquilo que a Constituição dos EUA estipula. Aí, também pode existir um presidente pertencente ao Partido Republicano e um Congresso dominado pela oposição do Partido Democrático. Só que o presidente é eleito em acto próprio e tem de ter a maioria absoluta do Colégio Eleitoral. Há duas eleições que exigem maiorias absolutas, e não, como em Angola, uma única eleição que ainda por cima não exige essa maioria.
O controlo político estalinista da sociedade e o medo que a população sente têm resultados bem visíveis na sondagem: os angolanos estão profundamente descontentes em relação a José Eduardo dos Santos e ao MPLA.
De acordo com a avaliação da Sensus, “a crise económica que actualmente assola o país alargou a separação previamente existente entre os ricos e pobres. A população é da opinião que as oportunidades e a redistribuição é quase inexistente. A corrupção e o nepotismo continuam a ser os maiores factores de preocupação”.
Os escândalos de corrupção
A Sensus destaca os escândalos de corrupção do triunvirato presidencial constituído pelo vice-presidente Manuel Vicente e os generais Hélder Manuel Vieira Dias Júnior “Kopelipa” e Leopoldino Fragoso do Nascimento “Dino”, bem como do próprio presidente, como a maior fonte de descontentamento dos eleitores.
“O declínio do serviço de saúde pública, a crescente onda de criminalidade e a crise económica que por consequência induziu um aumento significativo na inflação e no desemprego também pesou nos resultados da insatisfação da população com o governo”, considera a Sensus.
Para os eleitores, as manobras do MPLA para continuar a impedir a realização das realizações autárquicas e a descentralização do poder politico “afectaram severamente a confiança no governo”, conforme resultados da pesquisa.
“Grande parte da população sente-se desassociada com os dirigentes e os dados colhidos neste estudo revelam que na sua grande maioria, acredita que o país não está no bom caminho. Este sentimento de desassociação, em grande parte reforçado pelos actos negativos dos políticos e pelos escândalos dos mesmos, tem surgido mais pela degradação dos alicerces essenciais da sociedade”, nota a pesquisa.
Uma das perguntas colocadas aos eleitores que melhor ilustram a imagem que estes têm dos dirigentes é a seguinte:
Maka Angola