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Há quase 10 anos que o Banco Nacional de Angola não vendia tão poucas divisas

Post by: 17 Novembro, 2017

O Banco Nacional de Angola (BNA) disponibilizou 384 milhões de euros em divisas aos bancos comerciais angolanos em setembro, o valor mensal mais baixo em praticamente 10 anos, de acordo com dados compilados hoje pela Lusa.

Este valor contrasta com os 1.003 milhões de euros de divisas que o banco central injetou só agosto, mês em que Angola realizou eleições gerais, ou com o pico de 1.962 milhões de euros vendidos em março e de 1.938 milhões de euros em janeiro, ambos máximos de dois anos.

Desde as eleições gerais de 23 de agosto que a venda de divisas aos bancos comerciais está em queda, tendo diminuído mais de 60% só entre agosto e setembro.

É preciso recuar a julho de 2008, na altura também com o país a ser afetado por uma crise petrolífera internacional, para encontrar valores mensais semelhantes nas vendas de divisas pelo BNA, que foram então de 422,7 milhões de dólares (365 milhões de euros).

Angola enfrenta desde finais de 2014 uma profunda crise financeira, económica e cambial, decorrente da baixa prolongada da cotação do barril de petróleo no mercado internacional, com os bancos a dependeram quase exclusivamente do BNA para comprarem divisas (euros e dólares), limitando posteriormente a venda a clientes.

Sem acesso a divisas nos bancos e com receios de uma forte desvalorização da moeda angolana a curto prazo, a conjuntura fez disparar a cotação do dólar norte-americano para 430 kwanzas nos últimos dias, quase três vezes mais do que a taxa oficial definida pelo BNA, que está há um ano e meio fixa nos 166 kwanzas.

Entre janeiro e setembro, o BNA vendeu aos bancos comerciais mais de 9.070 milhões de euros em divisas, uma média superior a 1.000 milhões de euros mensais. Nos 12 meses de 2016, as vendas totais de divisas pelo banco central rondaram os 9.980 milhões de euros, equivalente a uma média mensal de 985 milhões de euros.

Esta forte injeção de divisas que se verificou até às eleições de agosto levou as Reservas Internacionais Líquidas (RIL) angolanas a renovarem mínimos todos os meses, caindo em setembro para 15.087 milhões de dólares (12,9 mil milhões de euros), metade do valor contabilizado antes da crise, no início de 2014.

Estas reservas são necessárias nomeadamente para garantir divisas para importações de alimentos, maquinaria ou matéria-prima para as indústrias e já perderam, em valor, desde janeiro, mais de 5.700 milhões de dólares (4.920 milhões de euros).

O novo Presidente angolano, João Lourenço, exonerou já em outubro o governador do BNA, Valter Filipe, fazendo regressar ao cargo José de Lima Massano, que esteve em funções até janeiro de 2015.

A 16 de outubro, o chefe de Estado alertou mesmo para a necessidade de as reservas serem "protegidas", mas sem que isso "prejudique" a recuperação económica.

"Vamos encontrar os melhores mecanismos para que as escassas divisas disponíveis deixem de beneficiar apenas a um grupo reduzido de empresas e passem a beneficiar os grandes importadores de bens de consumo e de matérias-primas e de equipamentos que garantam o fomento da produção nacional", enfatizou.

"Importa impedir que a venda direta de divisas seja uma forma encapotada de exportação de capitais, sem o correspondente benefício para o país", acrescentou.

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