De acordo com uma análise de longo prazo da situação estrutural das finanças públicas angolanas, enviada aos clientes e a que a Lusa teve acesso, esta consultora detida pelo mesmo grupo que é dono da agência de `rating` Fitch estima que o desequilíbrio nas contas públicas se mantenha, pelo menos, até 2028.
"O colapso nos preços do petróleo entre 2014 e 2016 deixou o Governo de Angola com um peso da dívida estruturalmente mais alto, que acreditamos vai pesar na posição orçamental durante o nosso período de análise mais prolongado", escrevem os analistas, acrescentando que "a dívida pública, incluindo a detida pela companhia petrolífera nacional, era de apenas 39,8% do PIB em 2014, mas vai rondar os 82,6% durante a próxima década".
O relatório alerta que "as finanças de Angola continuam altamente vulneráveis a choques futuros", já que "uma grande parte do total da dívida pública é dívida externa, que representa, em média, 49,4% do PIB nos próximos dez anos".
Servir esta dívida pode ser problemático "se os preços do petróleo enfrentarem novos choques negativos ou se o banco central for forçado a fazer mais desvalorizações da moeda".
No documento, os analistas da Fitch Solutions avisam também que apesar de anteciparem uma ligeira subida nos preços do petróleo, "uma tendência descendente de produção nos vários campos petrolíferos que gradualmente estão a secar significa que qualquer queda abrupta nos preços colocaria uma pressão substancial na capacidade do Governo de cumprir as suas obrigações relativamente à dívida".
Sobre o crescimento da economia, as previsões apontam para uma recessão de 0,2% em 2020 e um gradual regresso ao crescimento positivo durante a próxima década, com uma estimativa de 2,3% em 2024 e depois acelerando até aos 2,5% até 2028.
No que diz respeito às contas públicas, o resultado "vai continuar ligado à evolução da indústria petrolífera nos próximos anos, apesar da retórica do Governo de apoio à diversificação da economia", escreve a Fitch Solutions, que diz mesmo que os eventuais ganhos da aposta noutros setores da atividade económica correm o risco de ser mínimos.
"Apesar da ineficiência da coleta fiscal deixar algum espaço para o Governo fortalecer as receitas, como com a introdução do IVA desde 1 de outubro, a pobreza generalizada e a concentração de riqueza nas mãos das elites políticas e económicas significa que os eventuais ganhos das receitas da diversificação vão ser limitados", conclui-se na análise de longo prazo à economia angolana.