"A recente descida dos preços foi outro golpe para a já de si fragilizada economia angolana", escrevem os consultores, numa análise sobre o impacto da evolução do preço do barril de petróleo em várias economias africanas produtoras de matérias-primas.
"A produção petrolífera em Angola estabilizou em outubro, mas manteve-se muito baixa pelos padrões recentes; se os volumes de produção ficarem estáveis em novembro, então prevemos que as exportações de petróleo tenham provavelmente caído cerca de 20%, ou 700 milhões de dólares, o que equivale a 0,6% do PIB", lê-se no relatório enviado aos investidores, e a que a Lusa teve acesso.
A produção petrolífera de Angola caiu do equivalente a 3.780 milhões de dólares (3.325 milhões de euros), em outubro, para 3.050 milhões de dólares (2.683 milhões de euros) em novembro, precisou à Lusa um dos analistas que escreveu o relatório, acrescentando que na Nigéria a queda ainda foi maior, passando de 4.400 milhões de dólares (3.872 milhões de euros) para 3.300 milhões de dólares (2.900 milhões de euros).
Mesmo com esta queda em Angola, sublinham os consultores no relatório, "as receitas petrolíferas foram provavelmente mais elevadas em novembro deste ano do que há um ano", mas o problema é que "uma descida nas receitas pressiona ainda mais a moeda local, que continuou a desvalorizar-se" em novembro.
Mesmo antes da queda nos preços do petróleo, as reservas em moeda externa caíram para o valor mais baixo da década, para 11.600 milhoes de dólares (10.200 milhões de euros), notam os consultores.
O Governo de Angola tem acompanhado de perto a queda dos preços do petróleo, e o próprio Presidente admitiu que o petróleo mais barato é "mau" para o segundo maior produtor petrolífero no continente africano, podendo levar a uma aceleração do programa de privatizações.
"Nós temos um calendário de privatizações que (...) pode vir a ser influenciado caso o preço do barril de petróleo siga esta tendência baixista. Se seguir essa tendência baixista, com certeza que o calendário deverá ser ajustado com mais facilidade", explicou João Lourenço durante a recente visita de Estado a Portugal, admitindo que o processo venha a ser mais rápido.
A produção de petróleo bruto em Angola deverá cifrar-se em 2019 nos 573 milhões de barris, garantindo receitas fiscais para o Estado de 5,158 biliões de kwanzas (14.600 milhões de euros), segundo a previsão do Governo.
De acordo com dados do relatório de fundamentação da proposta de OGE para 2019, em discussão na Assembleia Nacional angolana até dezembro, o Governo estima a exportação de cada barril de crude a um preço médio a 68 dólares, face aos 50 dólares inscritos nas contas de 2018.
Na previsão do Governo, a produção média diária de petróleo bruto em 2019, em Angola, será de 1,57 milhões de barris -- em linha com a média dos últimos dois anos -, acrescida de 100.000 barris diários de LNG (gás natural).
Angola é o segundo maior produtor de petróleo em África, atrás da Nigéria, e tem vindo a apresentar um declínio de produção em alguns campos.