Paulino Jerónimo falava à agência Lusa, em Luanda, no final da sessão de abertura da 2.ª Conferência e Exposição sobre Conteúdo Local na Indústria do Petróleo e Gás em África, promovida pela Organização dos Produtores de Petróleo Africanos (APPO).
Questionado pela Lusa sobre se o Orçamento Geral do Estado (OGE) para 2019, atualmente em discussão na especialidade no Parlamento, pode obrigar a uma correção nos números, Paulino Jerónimo indicou que o Governo de Luanda está a tomar um conjunto de medidas para a diversificação económica, de forma a que o petróleo "possa, no futuro, empatar menos o normal funcionamento da economia".
O secretário de Estado angolano defendeu, porém, ser necessário aguardar pela reunião da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), prevista para 06 de dezembro, para se ter uma ideia mais clara sobre o que pode ser feito.
"O preço do barril de petróleo tem estado a oscilar, nunca temos um preço em definitivo. O OGE [para 2019] foi projetado com base num preço de referência de 68 dólares, e isso porquê? Porque todas as empresas que fazem a avaliação do preço indicavam que o petróleo estaria no mínimo a 70 dólares, incluindo o FMI [Fundo Monetário Internacional] e BM [Banco Mundial]. Daí os 68 dólares", explicou.
Na altura em que o Governo angolano apresentou no Parlamento a proposta do OGE, os mercados internacionais ainda transacionavam o preço do barril de petróleo em torno dos 80 dólares, tendo, desde então, descido significativamente, estando hoje de manhã o Brent, o de referência para Angola, cotado nos 59,98 dólares.
Paulino Jerónimo defendeu também que a queda dos preços do crude nos mercados internacionais se deve ao "impacto da pressão norte-americana" sobre a produção.
"É por isso que temos de esperar um bocado pela resposta da OPEP em relação a esta produção e só depois poderemos analisar e avaliar", adiantou, lembrando, por outro lado, a decisão da Arábia Saudita ter reduzido recentemente a produção em 500 mil barris/dia para estimular o preço.
"Nesta altura, e como é do vosso conhecimento, a Arábia Saudita resolveu, por si só, reduzir a produção em 500 mil barris por dia e, naturalmente, os outros países vão começar a seguir também os passos da Arábia Saudita", vaticinou.
Questionado pela Lusa sobre o facto de o Presidente angolano, João Lourenço, se ter manifestado, em Lisboa, preocupado com um eventual impacto do preço do crude no OGE angolano, propondo como eventual solução o acelerar do processo de privatizações em curso no país, Paulino Jerónimo preferiu não comentar.
Sobre os objetivos da conferência de Luanda, o secretário de estado dos Petróleos angolano destacou a importância da exposição das potencialidades dos países produtores de petróleo em África na matéria do conteúdo local, ou seja, o desenvolvimento das comunidades próximas de projetos de prospeção de petróleo e gás.
"Para nós, o conteúdo local inclui o treinamento de pessoal local, a capacitação de empresas locais para o fornecimento dos produtos à indústria, bem como também o fabrico de equipamento, que nesta altura a se verifica em Angola, embora estejamos a viver um momento de crise. Com a queda do preço do barril de petróleo, muitos projetos ficaram empatados, pararam. Menos projetos, menos trabalho, menos empresas de conteúdo local, de tal maneira, que muitas delas tiveram de dispensar pessoal", disse.
"Mas o executivo já tomou uma série de medidas para ajudar o relançamento da indústria e esperamos que, com essas medidas, possamos pôr a funcionar vários projetos que estavam parados devido à sua não economicidade. Daí que há essa oportunidade para as empresas locais fazerem as suas exposições, vermos a troca de experiências entre os vários países membros", concluiu.
A segunda conferência, a primeira decorreu também em Angola há dois anos, centra-se na abordagem de aspetos geopolíticos estratégicos, técnicos, jurídicos e financeiros inerentes à promoção do "Conteúdo Local" na indústria de petróleo e gás em África, em particular nos 18 países que integram a APPO.
Criada há 30 anos, em 1998, a APPO integra, além de Angola, a África do Sul, Argélia, Benim, Camarões, Chade, Costa do Marfim, Egito, Gabão, Gana, Guiné Equatorial, Líbia, Mauritânia, Níger, Nigéria, República do Congo, República Democrática do Congo e Sudão.