O presidente do partido no poder na África do Sul, que é também Presidente da República, Cyril Ramaphosa, anunciou hoje que a organização pretende também instituir uma ação disciplinar caso Magashule ignore a decisão até um determinado período, que não especificou.
Ramaphosa, que falava no final de uma reunião de dois dias da direção do ANC sobre a suspensão de Ace Magashule, que foi proibido de participar na reunião do coletivo, disse que o seu secretário-geral não tinha autoridade para o suspender da liderança do partido.
O líder do ANC referiu que a atual secretária-geral adjunta Jessie Duarte, que suspendeu na quarta-feira o secretário-geral do partido, vai acumular as funções de Ace Magashule de forma interina.
Ace Magashule respondeu no dia seguinte com uma carta de suspensão do presidente do ANC, alegando que "suspendeu Cyril Ramphosa, porque enfrenta acusações de compra de votos durante a sua campanha política ‘CR17' para a presidência do partido no poder".
A suspensão de Magashule, em vigor desde 03 de maio, foi tomada pelo Comité de Trabalho Nacional do ANC, que reafirmou a decisão da direção nacional do partido de que "todos os membros acusados de corrupção ou outros crimes graves devem afastar-se das suas funções no prazo de 30 dias", segundo o canal público SABC.
Magashule é acusado de 20 crimes por fraude, corrupção e lavagem de dinheiro num caso de corrupção pública relacionado com um projeto de amianto de mais de 255 milhões de rands (14,5 milhões de euros), na província do Estado Livre, centro do país, onde exerceu o cargo de governador do partido no poder até à sua nomeação para o cargo de secretário-geral do partido.
Em novembro, o tribunal sul-africano de Bloemfontein concedeu-lhe liberdade condicional mediante o pagamento de uma fiança de 200.000 rands (10.842 euros).
Nas últimas 72 horas, o "braço de ferro" entre Ace Magashule, aliado do ex-presidente Jacob Zuma, e Cyril Ramaphosa, ameaçou a integridade do partido no poder na África do Sul, cujos dirigentes enfrentam múltiplos escândalos de corrupção pública no país após cerca de três décadas de governação desde a queda do anterior regime do ‘apartheid'.
Na reunião, o ex-presidente Thabo Mbeki, que foi o segundo presidente do país de 1999 a setembro de 2008, sem terminar o segundo mandato, advertiu o ANC para se preparar para uma divisão do antigo movimento de libertação, devido a "ideologias irreconciliáveis", sublinhando que "o movimento está à beira do colapso", segundo uma gravação da reunião que transpirou para a imprensa.
O anterior presidente da África do Sul Jacob Zuma, que liderou o país entre 2009 e 2018, foi afastado pelo seu partido, o ANC, antes de terminar o mandato depois de múltiplos escândalos relacionados com corrupção, desde quando era vice-presidente da República.
Zuma está atualmente sob investigação no âmbito de uma comissão que averigua a grande corrupção no Estado sul-africano, chefiada pelo juiz Raymond Zondo.
O ex-chefe de Estado foi substituído no cargo por Cyril Ramaphosa, que era vice-presidente de Zuma.
Ramaphosa afirmou na semana passada, perante a 'comissão Zondo' que os membros do ANC envolvidos em corrupção não podem contar com apoio e proteção do partido, no poder na África do Sul desde 1994.