São várias e diferentes as razões que mantêm os temas relacionados à petrolífera nacional na condição de incontornáveis. A começar pela nomeação, em Junho do ano passado, de Isabel dos Santos, para o mais alto cargo da instituição e pela polémica que se seguiu, muitos eventos ocorreram que, à guisa de consequência, tiveram influência no desfecho que se conhece.
Na quarta-feira, 15 de Novembro, o Titular do Poder Executivo, João Lourenço, exonerou Isabel dos Santos, do cargo de Presidente do Conselho de Administração da Sonangol, substituindo-a por Carlos Saturnino. A medida, longe de ser avaliada à luz de uma demonstração de força, como algumas mentes o fazem, deve ser analisada na perspectiva de se pensar e oferecer o melhor à gestão de uma empresa de cujas receitas o País depende, substancialmente.
Portanto, João Lourenço não faria recurso a um sentimento tão baixo, como o de revanche, para sustentar a substituição de Isabel dos Santos; nunca se socorreria de um expediente reles, como os atiçados pela vingança, para retirar “a nossa galinha dos ovos de ouro”, como lhe chama, da “quase paralisia” que caracteriza a “indústria petrolífera”.
A atitude do Titular do Poder Executivo foi inspirada pelo relatório que “descreve um conjunto de constrangimentos e práticas que prejudicaram, de modo assinalável, as operações do sector petrolífero, o mais penoso de todos eles o facto de a extrema burocracia imputada à gestão da Sonangol ter elevado à cifra de cinco mil milhões de dólares os processos que esperam aprovação na concessionária nacional”.
As palavras acima vêm no relatório da comissão encarregada de apresentar soluções para o sector no qual se incluem as empresas petrolíferas que operam em Angola. Portanto, amparado pelos poderes que lhe confere a Constituição, João Lourenço escolheu substituir o Conselho de Administração da Sonangol. É legítimo. Não há mal algum. O Titular do Poder Executivo tem todo o direito de o fazer, em defesa dos mais altos interesses da Nação.
Entretanto, em declarações tornadas públicas, na quinta-feira, e grande parte delas retomadas, ontem, em entrevista a um canal privado de televisão, Isabel dos Santos enumerou uma série de realizações, ao longo do período em que segurou o leme do “petroleiro”. Se correspondem à verdade, poucos reúnem os elementos que o confirmam. De qualquer forma, é natural que, enquanto cidadã angolana e pessoa interessada em que o País melhore, a empresária se esforçasse por fazer que o seu trabalho correspondesse às expectativas.
Na verdade, é desses esforços que se espera dos verdadeiros filhos da Pátria, que devem, também, estar preparados para consentir sacrifícios e ceder o lugar ao compatriota, quando quem decide pela troca opta por fazê-la. Isabel dos Santos agradece, na declaração que faz, o Executivo angolano, pela confiança que depositou ao Conselho de Administração cessante e testemunha, “com sentido de missão, o trabalho desenvolvido, desde o ponto em que encontrámos a empresa, quando nela ingressámos, até à situação em que deixámos a mesma, à data da nossa saída”.
De certeza que o Executivo actual também reconhece a entrega da empresária - que até seguiu por caminhos certos, até dada altura - à causa da Sonangol. Porém, porque os tempos são de “corrigir o que está mal e melhorar o que está bem”, a troca de Isabel dos Santos por Carlos Saturnino deve ser lida como uma alteração que se impõe, em defesa dos mais altos interesses da Nação. JA