Nunca defendi a guerra. Antes, pelo contrário, desde o ano 2000, altura em que me iniciei no activismo (inicialmente comunitário), até o fim da guerra, participei em diversas iniciativas de apelo cidadão pelo fim da guerra que devastava o país desde à Independência. Um exemplo disso mesmo foi ter assinado uma petição nacional que exigia a libertação do cativeiro de dezenas de crianças que tinham sido raptadas em 2001 por militares da UNITA. Logo, é mentira a informação que está a ser propalada segundo a qual eu defendi que os cidadãos devem pegar em armas para viabilizar a queda do regime.
Sobre o assunto desse texto, é um facto que a fraude em andamento configura todo um esforço que visa manter no poder o mesmo grupo de indivíduos que tomou de assalto Angola em 1975.
Tal como em 1992, 2008 e 2012, a engenharia da fraude, combinada com diversos mecanismos complementares (mobilização de lobbies, cooptação de figuras críticas e opostas ao regime, retórica belicista etc.), o regime está novamente a levar a cabo toda uma fraude que visa dar ao partido gângster (mais conhecido por MPLA) uma maioria qualificada.
Entretanto, desta vez, o MPLA está a ver-se grego para se manter hegemónico. Além de cidadãos mais avisados, a surpresa aziaga do regime tem sido ver as suas titubeantes tentativas de imposição de resultados fraudulentos serem refutadas por uma UNITA e uma CASA-CE que criaram e puseram a funcionar seus próprios centros de escrutínio paralelos.
Os Angolanos simplesmente não acreditam nos resultados divulgados pela CNE, uma instituição que não tem credibilidade. Está efectivamente instalada a crise pós-eleitoral.
Entrementes, dois ou mesmo três dias depois das eleições começou a fazer corrente a sugestão de – em nome do combate à fraude – os partidos UNITA, PRS, FNLA e a coligação PRS levarem o Povo à rua.
Eu defendo que os partidos devem resistir na luta contra a fraude até às últimas consequências.
A presente crise pós-eleitoral, em tese, terá um desfecho imprevisível. Por um lado, o regime faz de tudo para impor os resultados fraudulentos (recorrendo à retórica barata – vociferada por líderes religiosos irresponsáveis e analistas da xaxa – de que os partidos querem guerra ao se recusarem a aceitar a mentira eleitoral, entre outros estratagemas). Por outro lado, os partidos concorrentes em referência mantêm uma postura até agora irredutível.
A pergunta é: caso o regime insista na fraude, UNITA, PRS, FNLA e CASA-CE irão levar os cidadãos à rua?
Para já, os partidos ainda têm de explorar as chamadas medidas formais, ou seja, reclamar e impugnar, por exemplo.
Entretanto, notemos que já se sabe que as acções de reclamação à CNE não têm surtido efeito nenhum. Quanto a acções de impugnação, também não darão em nada, pois a CNE e o Tribunal Constitucional são meras extensões do MPLA.
Então, o último recurso será os partidos levarem o povo às ruas do país, realizando gigantescas manifestações com o objectivo de o regime ceder.
Considerando que neste ponto estar-se-á perante um movimento de resistência e luta pela verdade eleitoral, é legítimo perguntar:
Os partidos estão cientes de que se se renderem, decepcionarão tremendamente os muitos cidadãos que estão à espera do “apito da alvorada”?
Os partidos vão resistir aos grandes aliciamentos que o regime já estará a engendrar?
“As ruas nos chamam”? Sim, elas nos chamam. Mas que sejam os partidos a assumir a liderança, e não deixarem o Povo a fazê-lo sozinho, pois concorrer às eleições implica também assumir a responsabilidade de lutar pela verdade eleitoral até às últimas consequências!
Atendendo o tipo de regime assassino que temos, que já está a dar sinais de que vai mesmo matar caso seja necessário para manter o MPLA no poder, fica claro que é enorme a responsabilidade da UNITA, do PRS, da FNLA e da CASA-CE.
Se realmente pretende ir até às últimas consequências, para salvaguardar o Interesse Nacional e salvar Angola da tirania, a oposição terá o meu apoio.