"Temos toda a estrutura jurídica colocada em causa e temos o poder a cair na rua. E é isso que eu vejo que possa acontecer no período pós-eleitoral", afirmou numa entrevista à Lusa o académico que é também investigador não residente na Universidade de Joanesburgo e professor convidado do Institute of Indian Managment-Research.
Para Rui Verde, há hoje "vários sintomas de que as eleições [a realizarem-se no próximo ano em Angola] podem ser deslegitimadas". E há um cerco, que tem vários quadrantes, ao Presidente.
"Há um reforço da UNITA (União Nacional para a Independência Total de Angola, oposição), há um reforço do apoio aos jovens, às manifestações de jovens, e, por outro lado, há a tentativa de infiltração nas instituições fundamentais do Estado", considerou.
Na sua opinião, "a grande divisão" dentro do MPLA está a contribuir para o cerco a João Lourenço e para a grande instabilidade nas instituições do Estado.
"Creio que há uma grande divisão no MPLA" entre os `santistas`, "liderados pela Isabel [dos Santos, filha do antigo Presidente] e os lourencistas", apoiantes de João Lourenço.
Seja como for, reforçou: "claramente há uma grande clivagem", que se reflete "numa série de lutas que vão aparecendo. Há uma luta na Ordem dos médicos, há uma luta na magistratura. Há uma série de lutas entre as antigas elites, que às vezes não se percebe, até parece que tudo endoideceu, mas que serão as válvulas de escape dentro da guerra entre santistas e lourencistas".
"Acho que são lutas por procuração, que não se verificam no Bureau Político do MPLA, mas sim nestas instituições", defendeu.
Por exemplo, agora ocorrem manifestações todos os fins de semana, apontou. "O que pode acontecer depois das eleições é que se a tal população sentir que o resultado não corresponde ao que conversaram na rua, ou que viram na contagem, pode haver um daqueles momentos como houve na Bielorrússia. É após as eleições que os presidentes as perdem."