Num extenso relatório de dez páginas sobre o “massacre de Cafunfo”, apresentado hoje em conferência de imprensa, em Luanda, os deputados da União Nacional para Independência Total de Angola (UNITA, na oposição) pedem “responsabilidades aos atores do massacre”.
O documento, que contraria a versão de ato de rebelião e fala em protesto com 93 manifestantes, foi compilado por cinco deputados da UNITA que foram impedidos pelas forças de ordem e segurança de entrar para a vila mineira de Cafunfo e ficaram retidos durante quatro dias a cinco quilómetros da região.
Lamentam terem estado sob custódia, juntamente com as suas escoltas, motoristas e mais dois ativistas, e “proibidos de receber alimentação e água potável”, referindo que foram submetidos a “condições desumanas e inimagináveis para um Estado democrático e de direito”.
Apesar do “cárcere ilegal, abusivo e grosseiro de todos os membros da delegação”, dizem os deputados, a sociedade local, a igreja, as famílias das vítimas e os agentes dos órgãos de defesa e segurança patriotas, “tudo fizeram, mas absolutamente tudo”, para lhes “fazer chegar a sua solidariedade e dados importantes sobre a ocorrência do dia 30 de janeiro”.
A polícia angolana afirma que cerca de 300 pessoas ligadas ao Movimento do Protetorado Português Lunda Tchokwe (MPPLT), que há anos defende autonomia daquela região rica em recursos minerais, tentaram invadir, no sábado 30 de janeiro, uma esquadra policial, ação que levou as forças de ordem e segurança a defender-se, atingindo mortalmente seis pessoas.
A versão policial é contrariada pelos dirigentes do MPPLT, partidos políticos na oposição e sociedade civil local, que falam em mais de 20 mortos.
A falta de uma vida condigna para os jovens e adultos daquela vila mineira, a maior parte antigos funcionários das diamantíferas Diamang e Endiama, “abandonados à sua sorte”, é apontada pela UNITA como o principal motivo para as reivindicações na região devido ao “agravar do sofrimento de suas famílias”.
Os manifestantes que reivindicam a “injustiça social e extrema pobreza” naquela região, sublinham os deputados da UNITA, “eram apenas 93, e não 300 pessoas como alegaram as autoridades”.
A delegação de deputados da UNITA diz, neste relatório, ter apurado e constatado que as forças de defesa e segurança “massacraram mesmo de forma bárbara, hedionda e fria 23 cidadãos angolanos, devidamente identificados, mais cinco com apenas um nome no dia 30 de janeiro de 2021”.
“Tendo em posse todos os dados, em defesa do Estado Democrático e de Direito, o Grupo Parlamentar da UNITA predispõe-se a partilhá-los com as Autoridades Judiciais”, lê-se no documento apresentado pelo deputado e chefe da delegação parlamentar, Alberto Ngalanela.
Segundo o relatório, as forças de defesa e segurança provocaram 18 feridos com armas de fogo e, desse número, sete encontram-se a fazer tratamento tradicional “por receio de serem mortos, caso se apresentem a um hospital para tratamento convencional”.
A delegação do Grupo Parlamentar da UNITA diz ter apurado igualmente que as forças de defesa e segurança, “além do massacre cometido, também profanaram e ocultaram os cadáveres dos cidadãos fuzilados a tiro e que a maioria dos cadáveres foi atirada ao rio Cuango, ravinas e outros enterrados em locais inóspitos”.