O pedido para que Lourenço aceitasse se encontrar com uma missão liderada pelo deputado Marcos Pereira (Republicanos-SP), bispo licenciado da Universal, foi feito pelo vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB), que se encontrou com o líder angolano na semana passada.
Mourão viajou a Luanda para a cúpula da CPLP (Comunidades dos Países de Língua Portuguesa) e teve uma reunião bilateral com Lourenço.
O governo Jair Bolsonaro tem sido cobrado pela Universal e pela bancada evangélica para se engajar na defesa da instituição em Angola, onde a igreja liderada pelo bispo Edir Macedo enfrenta uma crise.
Religiosos locais se rebelaram, acusaram missionários brasileiros de crimes financeiros e tomaram o controle de templos.
Preocupado com a perda de apoio na base evangélica, Bolsonaro escalou Mourão, como mostrou o jornal O Estado de S. Paulo, para fazer um apelo diretamente a Lourenço, aproveitando para tanto a agenda da CPLP. Os países do grupo debateram durante a cúpula temas como reforma da entidade e segurança regional, como o avanço de jihadistas no norte de Moçambique.
De acordo com interlocutores, foram dois os pedidos do vice a Lourenço sobre a Universal: que o governo angolano garantisse um tratamento justo à igreja nos processos judiciais que correm contra a denominação no país e que o presidente de Angola recebesse uma missão de parlamentares evangélicos.
Mas o vice não encontrou qualquer disposição de Lourenço de atender os pleitos da ala brasileira da igreja.
Lourenço justificou que não era adequado que uma delegação de congressistas fosse recebida pelo Poder Executivo local. Disse que uma missão de congressistas brasileiros seria sempre bem-vinda para se reunir com deputados angolanos, sempre que devidamente convidada pelo Congresso do país.
Na prática, Lourenço fechou as portas, ao menos no curto prazo, para a visita almejada pela bancada evangélica.
O líder angolano tem forte influência sobre o Congresso local e não deu sinais de que pretende apoiar um convite nesse sentido.
Na avaliação de pessoas que acompanham o tema, ficou claro após a visita de Mourão que o governo de Angola não tem interesse político em fazer gestos ao comando brasileiro da igreja.
A irritação de Lourenço com a Universal hoje é praticamente irreversível, segundo interlocutores.
A gota d’água foram comentários feitos em telejornal da Record no Brasil vinculando a primeira-dama de Angola, Ana Dias Lourenço, a casos de corrupção —episódio que ganhou repercussão em veículos de imprensa europeus.
A Igreja Universal controla no Brasil a TV Record e o Republicanos, partido que dá apoio a Bolsonaro no Congresso.
A formação de uma missão de congressistas evangélicos a Angola foi decidida após reunião no Itamaraty, em maio, em que deputados ligados a igrejas se queixaram de falta de apoio do governo Bolsonaro no tema.
O encontro ocorreu poucos dias depois de 34 brasileiros ligados ao trabalho missionário da Universal receberem notificação de autoridades em Luanda de que seriam deportados.
Desde então, Bolsonaro tem tentado mostrar a lideranças evangélicas que está empenhado em defender a Igreja Universal na crise no país africano.
O principal gesto feito até o momento foi a escolha do ex-prefeito do Rio de Janeiro Marcelo Crivella como novo embaixador do Brasil na África do Sul. Crivella também é bispo licenciado da Universal.
A designação de Crivella gerou queixas de autoridades do governo de Angola, que temem que ele transforme a missão diplomática em um posto avançado da igreja no continente africano.
Bolsonaro enviou uma consulta formal à África do Sul sobre o nome de Crivella, mas ela ainda não foi respondida. Depois da manifestação sul-africana, a indicação de Crivella deve ser oficialmente enviada ao Senado, responsável por avalizar a escolha. Folha de S.Paulo