Em declarações à agência Lusa, Lucas Ngonda reagia à realização do V congresso ordinário da FNLA, que elegeu, na terça-feira, em Luanda, Pedro Dala líder do partido.
“Nós estamos num Estado de direito, ele fez o que fez e eu tenho o direito de repor a legalidade das coisas, vamos impugnar, porque é um congresso ilegal”, disse Lucas Ngonda, reafirmando que o congresso do partido terá lugar de 16 a 18 de setembro, data que o Tribunal Constitucional tem conhecimento.
Segundo Lucas Ngonda, candidato à sua sucessão, com outros sete candidatos, Pedro Dala, antigo secretário-geral do partido, destituído das funções em 2020, pretende “a todo o custo ser presidente da FNLA”.
“Para se chegar a presidente da FNLA tem que se obedecer os ditames dos estatutos e das normas do ordenamento jurídico angolano, não vamos chegar à presidência assim de qualquer maneira. Ele quis me destituir, eu o suspendi das funções e daí foi criar uma ala para combater a direção do partido, não é normal. Esse tipo de espetáculo só se pode dar em Angola”, criticou.
O político sublinhou que Pedro Dala não reúne consenso e não tem qualquer apoio interno, argumentando que o comité central do partido tem 411 membros e participaram no congresso pouco mais de metade.
“Nem sequer o comité central todo estava no congresso e além disso, segundo os resultados que me foram transmitidos, creio que 170 é pouco para o dito presidente e 26 para o que não obteve a maioria, isto tudo somado dá 200 e poucas pessoas que lá estiveram. A ser um congresso com 500 pessoas como noticiaram as rádios (…) quer dizer que a maioria não votou, que validade tem este congresso?”, questionou.
Para Lucas Ngonda, “tudo isto é mais um espetáculo, que é triste, que não satisfaz a ninguém”.
Segundo Ngonda, outros fatores também intervêm para a atual situação do partido, nomeadamente financeiros.
“Este é um partido que ficou numa miséria quase total, os outros fizeram tudo e conseguiram coisas, mas a FNLA ficou fora das instituições do país e consequentemente todo o batalhão de desempregados e pessoas desesperadas estão aqui e pensam que a FNLA é que lhes vai dar a recompensa da luta de libertação que eles fizeram e vão fazendo confusão, não sabendo que estão a prejudicar-se a si próprios se não deixarem avançar o partido”, frisou.
Questionado se estará aberto a acolher os grupos desavindos caso vença a eleição, Lucas Ngonda sublinhou que foram essas pessoas que fugiram dessa possibilidade.
“Todos eles estavam no quadro do espírito da unidade que eu abri, mas fugiram à unidade, porque viram que há debilidades. O secretário-geral que agora se intitula presidente, o comité central o quis expulsar do partido por três vezes, a última vez até ia passar à ação física com ele, tive que impedir isto”, vincou.
O também deputado à Assembleia Nacional sublinhou que várias vezes tentou a união no partido, tendo sido iniciativa sua o “Pacto de Unidade e Reconciliação e Coesão Interna do Partido”, assinado em 2019, com o objetivo de colocar fim às divisões internas que há mais de 20 anos afetam o partido.
Lucas Ngonda acusa Pedro Dala de ter sabotado o pacto, considerando infundados os argumentos de que estaria a violar o acordo voltando a candidatar-se para mais um mandato.
“Eu não disse isso no pacto, o que eu disse é que seria uma transição, que foi ideia minha. Eu disse que tinha intenção de deixar as minhas funções e fazer outra coisa, então vamos preparar uma transição que iria até 2022 e nessa transição vamos ver quem será o cabeça de lista [às eleições gerais], quem será o presidente do partido, mas eu já não farei parte das instituições”, explicou.
A ideia de transição, segundo Ngonda, foi aceite por todos e estiveram em discussão por cinco meses, tendo depois o grupo de Ngola Kabangu, seu opositor na liderança do partido, desistido das negociações.
O presidente da FNLA, na liderança do partido desde 2010, concorre à sua sucessão com os candidatos Carlito Roberto, filho do defunto líder fundador Holden Roberto, Álvaro Manuel, Fernando Pedro Gomes, Laiz Eduardo, Joveth de Sousa, Fernando José Fula “Tozé” e Tristão Ernesto, garantindo que vai deixar o partido unido, porque “a luz está a nascer no fundo do túnel”.
“Nesta comissão preparatória com o grupo que mais me contestou todo este tempo que estou à cabeça do partido, que é o grupo de Ngola Kabangu, estamos em conversações irmanadas, espero que não seja uma faixada também, mas acredito que não. Acredito que os homens estão connosco a negociar para se tirar de facto a FNLA da situação vergonhosa em que se mergulhou, por causa das confusões internas e por causa de recusa de inovações no seio do partido, conservando-se naquele cariz dos anos 60”, observou.