Isaías Samakuva, que discursava na abertura do XIII congresso ordinário da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), que hoje arrancou em Luanda, até sábado, com 1.150 delegados, disse que a reunião deve servir também para "construir, consolidar a unidade e a coesão interna do partido, sem deixar ninguém de fora".
O congresso tem como ponto mais alto a eleição do presidente do partido, cargo para o qual concorre apenas Adalberto Costa Júnior, eleito líder da UNITA em 2019, entretanto, destituído por imposição do Tribunal Constitucional, que anulou o congresso.
A abertura contou com a presença de representantes de partidos políticos, do corpo diplomático, entre os quais a embaixadora da União Europeia, Jeanette Seppen e membros da sociedade civil.
"Não é um exercício fácil na situação em que nos encontramos, exige coragem, humildade, patriotismo e sentido de missão", referiu Samakuva no discurso inicial.
"Coragem para nos olharmos olhos nos olhos e dialogarmos com franqueza. Humildade para colocarmos de lado os nossos egos, controlarmos as nossas emoções e as ambições. Patriotismo para colocarmos o interesse coletivo das legítimas aspirações e estratégias de grupo e sentido de missão para aceitarmos o facto de que só chegamos até aqui porque ao longo da nossa caminhada conseguimos contornar e ultrapassar unidos os obstáculos que nos apareceram à frente", acrescentou.
Isaías Samakuva frisou que o partido pode "perder tudo" o que conquistou se agir "de modo egoísta, revanchista e imediatista".
"Temos de nos reinventar todos, para encontrarmos saídas airosas que evitam o sequestro do património coletivo, que nos permitam honrar e dignificar a memória de todos os que, como o doutor Jonas Malheiro Savimbi, o nosso símbolo da unidade e coesão interna do partido, deram o melhor de si para que a UNITA chegasse onde chegou hoje", disse.
O líder cessante do partido avisou que "neste combate quem procurar atentar contra os pilares da unidade e da identidade da UNITA não terá sucesso".
"Temos que nos reinventar para encontrar caminhos, caminharmos juntos, alcancemos todos a nossa meta comum", disse, lembrando que a meta comum não "o poder pelo poder e muito menos alcançar riquezas materiais ou privilégios", mas sim "a construção da democracia angolana, a afirmação do Estado social e de direito para servir Angola, a elevação da cidadania, o desenvolvimento de uma nova cultura política".
Sobre as interferências externas, Isaías Samakuva disse que as forças envolventes têm utilizado estratégias e táticas diferentes "para levar a melhor sobre o seu adversário".
"Da mesma forma que, no campo militar, o avanço da ciência e da tecnologia determinou a utilização de novos instrumentos nas comunicações, na contra-inteligência, nas táticas de penetração, nas técnicas de combate, também na luta política, a força que detém o controlo do Estado há 46 anos passou a utilizar sem limites os órgãos e os recursos do Estado para executar as suas estratégias partidárias", salientou.
O presidente da UNITA considerou imperativo identificar as forças do adversário no terreno, mas é preciso saber também "e muito bem" o posicionamento das suas forças.
"Não vá uma manobra de simulação do nosso adversário levar-nos a atacar as nossas próprias forças, confundidas com as do adversário. No plano político precisamos de verificar bem o nosso adversário para que não abramos fissuras nas nossas próprias linhas, pois, a acontecer, a nossa unidade e a coesão interna do nosso partido ficam afetadas", sublinhou.
A direção da UNITA suspendeu três membros da Comissão Política, incluindo José Pedro Katchiungo, que disputou a liderança do partido no congresso realizado em 2019, que elegeu Adalberto da Costa Júnior, entretanto anulado pelo Tribunal Constitucional.
A decisão foi tomada na reunião estatutária que precede o XIII Congresso do partido do 'Galo Negro', principal força política da oposição angolana, agora dirigida por Isaías Samakuva, que esteve à frente da UNITA durante 16 anos e regressou na sequência do afastamento de Adalberto da Costa Juniór por força do acórdão do Tribunal Constitucional que anulou o congresso de 2019.
"Depois de analisar e discutir várias informações apresentadas sobre a atuação de alguns membros da Comissão Política fora dos trâmites disciplinares do Partido, a Comissão Política decidiu, por votação secreta, com 150 votos a favor (85%), 20 votos contra (11%) e 6 abstenções (4%), suspender preventivamente, nos termos do número 1 do artigo 21º. dos Estatutos do Partido, os membros Estêvão José Pedro Katchiungo, José Eduardo e Altino Kapango.
Katchiungo disputou a corrida eleitoral à liderança da UNITA que Adalberto da Costa Júnior venceu em 2019, sendo o menos votado entre os restantes candidatos (Adalberto Costa Júnior, Alcides Sakala, Abilio Kamalata Numa, Raul Danda), com apenas 10 votos.
Na terça-feira a UNITA tinha já decidido suspender preventivamente outros sete militantes que recorreram ao Tribunal Constitucional (TC) para inviabilizar a data do congresso, que decorre entre hoje e sábado.
Em causa está uma iniciativa de um grupo de militantes que pediram a impugnação do congresso junto da direção do partido do 'Galo Negro' e acionaram uma providência cautelar junto do TC, alegando que a marcação do conclave foi feita num clima de intimidação, o que a UNITA rejeita.