ACJ, candidato único à liderança da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), foi hoje eleito com 96,43% dos votos dos mais de mil delegados presentes, depois de ter sido afastado na sequência de uma decisão do Tribunal Constitucional que declarou nulo o XIII Congresso realizado em novembro de 2019, onde tinha sido eleito representante máximo do partido.
Do total de eleitores, foram validados 1081 votos (96,43%), tendo sido contabilizados 26 votos em branco (2,32%) e três nulos (0,27%).
No seu discurso após a tomada de posse, já depois das 21:00, que marcou o encerramento do XIII Congresso e o culminar de mais uma jornada longa depois de três dias de trabalho, o dirigente sublinhou que este “dia de festa” provou o “desagrado” dos angolanos perante o acórdão que ditou a anulação do conclave realizado dois anos antes
“Este segundo XIII congresso ordinário mostrou também que o partido pertence aos seus militantes e são estes que decidem democraticamente o que o partido quer e o que partido fará”, destacou o político, avisando: “não será o governo [MPLA] ou qualquer grupo minoritário que poderá impor as suas decisões”, numa alusão aos militantes suspensos preventivamente por questões disciplinares.
Ao celebrar esta segunda vitória, ACJ afirmou que esta pertence também “a todos os angolanos, que anseiam pela mudança, pela alternância democrática e por uma verdadeira democracia” e declarou que a UNITA é um partido de jovens e do futuro.
Dirigiu-se ainda ao povo angolano, dizendo que “chegou a hora da esperança, de abraçar uma vida diferente, de construir uma Angola nova e melhor”, exortando não os militantes mas todos os angolanos: “venham connosco”.
O presidente da UNITA diz que “chegou a hora de uma Angola sem corrupção e sem roubos” e lembrou o fundador do partido do “Galo Negro”, Jonas Savimbi, que nesta mesma data, há 55 anos, protagonizou o seu primeiro combate, “o seu batismo de fogo”, no Moxico
“Hoje, com a mesma determinação de 1966, renovamos o nosso compromisso de servir Angola e os angolanos em primeiro lugar”, disse ACJ, realçando que se recandidatou com o propósito de liderar a Unita para a governação do país
“Este é um novo começo, dois anos depois de ter vencido um congresso plural e democrático”, prosseguiu, acrescentando que hoje os desafios do país apresentam-se mais difíceis, face à degradação do tecido político, económico e social.
“Nós permanecemos calmos, tudo faremos para, no melhor da nossa tradição angolana, nos sentarmos no Ondjango (espaço de reunião) com o nosso Presidente da República”, salientou.
“O nosso futuro começa em agosto de 2022 (data prevista para as eleições gerais) mas tem de ser conquistado todos os dias”, continuou o líder da UNITA, renovando o seu compromisso de liderar a ampla Frente Patriótica Unida (plataforma eleitoral que junta à UNITA outras duas forças políticas) para a alternância.
ACJ deixou ainda uma palavra de apreço ao presidente cessante que “herdou uma ingrata missão”, tendo Isaías Samakuva também declarado o seu apoio ao presidente reeleito.
Samakuva, que discursou antes de ACJ, afirmou que a UNITA deu neste congresso “mais uma prova de vitalidade” e que “apesar das interferências externas” conseguiu ultrapassar uma fase muito complicada da sua historia, da qual saiu “com mais força, mais vitalidade e mais pujança”
Felicitou ACJ pelo êxito que lhe permitiu retomar o cargo de presidente da UNITA, depois de quase dois meses, apontando a larga maioria de militantes que o escolheu e “que através do seu voto exprimiram a confiança para continuar ao leme desse grande barco que se chama UNITA”
Depois da metáfora náutica, Samakuva avançou para uma metáfora aeronáutica. A propósito das eleições gerais previstas para o próximo ano, apelou ao aparelho partidário que esteja “em prontidão para arrancar a vitoria que há muito os angolanos esperam em 2022”, pois é altura de “pôr o avião a voar, com todas as suas turbinas em alta rotação” para aterrar na Cidade Alta, o centro do poder político em Angola, daqui a pouco mais de oito meses.
Desejou que o avião atravesse as nuvens sem turbulência e com “um piloto firme no seu comando”, garantindo a ACJ que pode contar consigo.
O XIII Congresso Ordinário da UNITA decorreu entre quinta-feira e sábado no complexo SOVSMO em Viana (Luanda) e contou com a participação de 1140 delegados dos 1150 previstos, já que nove militantes foram entretanto suspensos.
A direção da UNITA suspendeu na quarta-feira três membros da Comissão Política, entre os quais José Pedro Katchiungo, que disputou a liderança do partido no congresso realizado em 2019, que elegeu Adalberto da Costa Júnior, sendo o menos votado dos cinco candidatos com apenas dez votos.
Na terça-feira, a UNITA tinha já decidido suspender preventivamente outros sete militantes que recorreram ao Tribunal Constitucional (TC) para inviabilizar a data do congresso, alegando que a marcação do conclave foi feita num clima de "intimidação, o que a UNITA rejeitou.
Isaías Samakuva, que esteve à frente da UNITA durante 16 anos, regressou em outubro à presidência até à realização de novo congresso, na sequência do afastamento de Adalberto da Costa Júnior.
O Tribunal Constitucional deu razão a uma queixa de um grupo de militantes que alegaram irregularidades, entre as quais o facto de o candidato vencedor ter concorrido sem renunciar à nacionalidade portuguesa - algo que Costa Júnior sempre negou.