A informação foi hoje avançada pelo ministro da Justiça e dos Direitos Humanos de Angola, Francisco Queiroz, em declarações à imprensa no final da reunião da Comissão de Reconciliação e Memória das Vítimas dos Conflitos Políticos (Civicop), que analisou o ponto de situação dos exames de ADN e perspetiva de entrega dos ossos às famílias residentes no país e no exterior.
Francisco Queiroz anunciou a entrega também na quarta-feira dos restos mortais de Jacob João Caetano “Monstro Imortal”, de Arsénio José Lourenço Mesquita “Sianuk” e de Ilídio Ramalhete, numa cerimónia, de caráter político, que vai decorrer no Quartel General do Exército.
Segundo o ministro, as ossadas destas quatro pessoas encontravam-se junto dos restos mortais de cerca de 20 outros indivíduos, estando ainda a decorrer o processo de análise genética para determinar o ADN.
O governante angolano frisou que muitos deles já têm o registo concluído, faltando apenas cruzar os dados com as famílias, algumas delas a residir em Portugal.
“O registo não veio com os técnicos de Portugal, porque as famílias indicaram especialistas em quem confiam para que fossem ser eles a trazer o sangue para Angola”, disse Francisco Queiroz, citado pela agência noticiosa angolana, Angop.
O ministro adiantou também que foram já cadastrados outros lugares, a maioria na província de Luanda, capital de Angola, para início dos trabalhos.
De acordo com o ministro, as equipas de trabalho estão divididas em quatro subgrupos, o primeiro de micro localização e exumação dos ossos, o segundo de análise forense, o terceiro responsável pelas certidões de óbitos e o quarto da comunicação social.
Desde o início dos trabalhos foram já entregues mais de 2.000 certidões de óbito às famílias enlutadas, informou o ministro, que agradeceu a colaboração dos familiares para a execução desses processos.
O 27 de maio refere-se aos acontecimentos sangrentos que tiveram lugar, em 1977, após um alegado golpe falhado contra o primeiro Presidente de Angola, António Agostinho Neto, que resultaram em milhares de mortos durante o combate ao chamado "fracionismo" dentro do MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola), segundo sobreviventes e analistas.
Em abril de 2019, o Presidente angolano, João Lourenço, ordenou a criação de uma comissão para elaborar um plano geral de homenagem às vítimas dos conflitos políticos que ocorreram em Angola, entre 11 de novembro de 1975, ano da independência de Angola, e 04 de abril de 2002, data que simboliza o fim de décadas de guerra no país.
O Plano de Reconciliação em Memória às Vítima de Conflitos Políticos prevê, entre outras questões, a emissão de certidão de óbito, a entrega dos restos mortais às famílias e a construção de um memorial único para todas as vítimas dos conflitos políticos registados no país.
Em 2021, nas vésperas da data do alegado golpe de Estado, a primeira vez em que foi feita uma homenagem às vítimas do evento e de outros conflitos políticos, João Lourenço pediu desculpas públicas em nome do Estado angolano pelas execuções sumárias levadas a cabo após o 27 de maio de 1977, salientando que era "um sincero arrependimento".
"Não é hora de nos apontarmos o dedo procurando os culpados. Importa que cada um assuma as suas responsabilidades na parte que lhe cabe. É assim que, imbuídos deste espírito, viemos junto das vítimas dos conflitos e dos angolanos em geral pedir humildemente, em nome do Estado angolano, as nossas desculpas públicas pelo grande mal que foram as execuções sumárias naquela altura e naquelas circunstâncias", disse, então, o chefe de Estado angolano.