A delegação da Comissão para a Implementação do Plano de Reconciliação em Memória das Vítimas dos Conflitos Políticos (Civicop) entre 1975 e 2012 e o chefe do Serviço de Inteligência e Segurança do Estado (SINSE), General Fernando Garcia Miala, deixou Luanda na segunda-feira e seguiu para Menongue, capital do Cuando Cubango, dirigindo-se depois para Rivungo e daí para a Jamba, de helicóptero.
“Esta atividade insere-se na pacificação dos espíritos, na reconciliação, e o que se perspetiva com este esforço é que o país possa recuperar mais rapidamente a paz de espírito e as famílias pretendem realizar um funeral condigno aos seus entes queridos”, disse Aurélio Rodriges, médico legista que integra a missão, salientando que esta é uma sequência do trabalho que tem sido feito em Luanda.
O mesmo responsável afirmou ainda que a Civicop foi formalmente contactada pelos familiares das vítimas no sentido de solicitar a intervenção do Estado angolano para localizar as ossadas.
Fernando Garcia Miala, o chefe da “secreta” angolana e coordenador da subcomissão de segurança, logística e infraestruturas da Civicop comanda a missão, que integra também o porta-voz, Israel Nambi, e dois médicos legistas.
Os principais alvos da busca são membros da família Chingunji, Wilson dos Santos, cerca de 80 mulheres e filhos que terão sido alegadamente mortos por Jonas Savimbi, fundador da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), bem como outros familiares de militantes.
Mas os médicos legistas admitem que há pouco a fazer a nível de identificação, caso as mulheres tenham sido efetivamente queimadas, como acusam alguns detratores de Savimbi, como a antiga militante e atual presidente do Partido Humanista de Angola, Bela Malaquias.
A data coincide com o dia do aniversario de Jonas Savimbi, nascido em 03 de agosto de 1934 e morto pelas tropas governamentais do MPLA em 22 de fevereiro de 2002.
O Presidente angolano pediu, em maio de 2021, desculpas públicas e perdão às vítimas dos conflitos políticos em Angola, em particular os ocorridos em 27 de Maio de 1977, e anunciou a vontade de proceder à entrega de certidões de óbito e ossadas.
No entanto, a iniciativa de reconciliação foi posta em causa nos últimos meses, depois de alguns órfãos denunciarem que os exames forenses feitos às ossadas de vítimas do 27 de Maio de 1977 confirmarem que não correspondiam aos seus familiares.
Em 27 de maio de 1977, uma alegada tentativa de golpe de Estado, numa operação que terá sido liderada por Nito Alves — então ex-ministro da Administração Interna desde a independência (11 de novembro de 1975) até outubro de 1976 —, foi violentamente reprimida pelo regime de Agostinho Neto, primeiro Presidente de Angola.
Seis dias antes, o Movimento Popular de Libertação de Angola (MLPA, no poder) expulsara Nito Alves do partido, o que levou o antigo ministro e vários apoiantes a invadirem a prisão de Luanda para libertar outros simpatizantes, assumindo paralelamente o controlo da estação da rádio nacional, um movimento que ficou conhecido como “fracionismo”.
As tropas leais a Agostinho Neto, com apoio de militares cubanos, acabaram por estabelecer a ordem e prenderam os revoltosos, seguindo-se depois o que ficou conhecido como “purga”, com a eliminação das fações, tendo sido mortas cerca de 30 mil pessoas, na maior parte sem qualquer ligação a Nito Alves, tal como afirma a Amnistia Internacional em vários relatórios sobre o assunto. C/LUSA