O vice-presidente do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) e ministro da Defesa discursava para milhares de apoiantes no centro da cidade do Lobito, província de Benguela, de onde é natural, começando por acusar o maior partido da oposição, por apresentar aos eleitores um programa de Governo 2015/2030.
"Mas quem é que lhes disse que estas eleições são para eleger um Presidente [da República] e um Governo para ficar até 2030", questionou João Lourenço, sempre sem nunca referir diretamente o nome de qualquer outra das forças políticas concorrentes.
"Estranha-nos que algumas formações políticas, que até se arvoram dizendo ser líderes da oposição, não conheçam a Constituição. Porque o voto que estão a pedir aos eleitores é um voto para 13 anos. Quer dizer que durante 13 anos, se eles vencessem hipoteticamente as eleições, não voltariam a chamar o povo para decidir nas urnas, porque já teriam um mandato para governar durante 13 anos, o que é contra a Constituição e a Lei", afirmou o candidato do MPLA.
O general, na reforma, que tenta suceder à liderança de 38 anos de José Eduardo dos Santos como chefe de Estado angolano, dedicou parte do discurso de uma hora à oposição: "Se há razoes para votar no MPLA e no seu candidato, há razões para não votar nos outros. E sobre isso, poucas vezes temos falado".
"Nós sabemos que o voto que estamos a pedir aos eleitores tem um prazo de validade de cinco anos", insistiu Lourenço, acusando - sem referir o nome - a UNITA de querer "enganar os eleitores" com as referências do plano de governação até 2030, que, ironizando, diz ter sido "cozinhado a correr, às pressas".
"Essa gente não é séria, não merece sequer liderar a tal oposição", disse
Na mesma tónica, João Lourenço recordou que a Constituição não prevê o federalismo, como defendeu, no seu programa, o Partido de Renovação Social (PRS), atualmente com três deputados eleitos, entre 220, pelo que necessitaria de dois terços dos parlamentares para alterar a Constituição.
"Esse milagre não há de acontecer nunca", disse, classificando-o como "partidozito" e voltando a pedir uma maioria qualificada, de dois terços dos deputados, para o MPLA, nas eleições gerais de 23 de agosto.
Para isso, João Lourenço passou a pedir o voto "na bandeira mais famosa do país", aludindo ao símbolo do partido, semelhante à bandeira de Angola, com as cores preta e vermelha.
"Saímos daqui com uma certeza: Com a certeza que vamos dar 5-0 [número de deputados a eleger em cada província] em Benguela, porque por muito alto que o 'galo voe' [lema da UNITA] jamais alcançará a estrela brilhante do MPLA", concluiu.
O encerramento da campanha eleitoral do MPLA está previsto para sábado, nos arredores de Luanda, num comício que além do candidato deverá juntar, pela primeira vez, também o chefe de Estado e líder do MPLA, José Eduardo dos Santos.
Angola vai realizar eleições gerais a 23 de agosto deste ano, às quais concorrem o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), Convergência Ampla de Salvação de Angola - Coligação Eleitoral (CASA-CE), Partido de Renovação Social (PRS), Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA) e Aliança Patriótica Nacional (APN).
A Comissão Nacional Eleitoral de Angola constituiu 12.512 assembleias de voto, que incluem 25.873 mesas de voto, algumas a serem instaladas em escolas e em tendas por todo o país, com o escrutínio centralizado nas capitais de província e em Luanda, estando 9.317.294 eleitores em condições de votar.
A Constituição angolana aprovada em 2010 prevê a realização de eleições gerais a cada cinco anos, elegendo 130 deputados pelo círculo nacional e mais cinco deputados pelos círculos eleitorais de cada uma das 18 províncias do país (total de 90).
O cabeça-de-lista pelo círculo nacional do partido ou coligação de partidos mais votado é automaticamente eleito Presidente da República e chefe do executivo, conforme define a Constituição, moldes em que já decorreram as eleições gerais de 2012.