UNITA diz que busca de ossadas na Jamba é “propaganda política” e contraria pacificação

Post by: 04 Agosto, 2023

A UNITA, oposição angolana, afirmou hoje ter sido apanhada de surpresa pela operação de busca de ossadas na Jamba lançada pelo Governo, que descreve como “propaganda política” e contrária ao “apaziguamento dos espíritos”.

Na quinta-feira, a Televisão Pública de Angola anunciou que uma delegação da Comissão para a Implementação do Plano de Reconciliação em Memória das Vítimas dos Conflitos Políticos (Civicop), dirigida pelo chefe da “secreta” angolana se encontrava na Jamba, antigo quartel-general de Jonas Savimbi, em busca de ossadas de militantes alegadamente assassinados pelo fundador da UNITA.

Numa nota do Secretariado Executivo do Comité Permanente da Comissão Política, a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) afirma ter tomado conhecimento pelos seus representantes na Civicop que esta “não reuniu os seus membros” e que estes foram surpreendidos pelas notícias passadas pelos órgãos de comunicação social públicos angolanos.

“A equipa em operação no referido território incorre em violações técnicas, metodológicas, científicas, de falta de transparência, porque os sítios ficam viciados e sem as necessárias testemunhas no quadro da Civicop, que deveriam validar os resultados dessa operação”, critica a UNITA, principal partido da oposição angolana.

“A operação que decorre na Jamba neste momento parece-se mais com uma atividade de propaganda política e não a busca do apaziguamento de espíritos, de acordo com os princípios abraçados pela Civicop, cujo lema é: Abraçar e Perdoar”, prossegue-se na nota de imprensa.

A UNITA apela ainda à Civicop que “recupere o objeto da sua criação, no âmbito da pacificação dos espíritos e de reconciliação e retomar a metodologia já aprovada, a fim de se credibilizar os resultados da sua criação”.

Por outro lado, acusa as instituições angolanas de estarem “mal servidas de intérpretes, que não se reconciliam consigo próprios e que se mostram incapazes de construírem um verdadeiro Estado Democrático e de Direito, com uma cultura de diálogo e de paz”.

Os principais alvos da busca, segundo a TPA, são membros da família Chingunji, Wilson dos Santos, cerca de 80 mulheres e filhos que terão sido alegadamente mortos por Jonas Savimbi, fundador da (UNITA), bem como outros familiares de militantes.

Criada por decreto presidencial, em abril de 2019, a Civicop tem por missão elaborar um plano geral de homenagem às vítimas dos conflitos políticos ocorridos em Angola, no período de 11 de novembro de 1975 a 04 de abril de 2002.

A UNITA e o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), partido no poder desde 1975, travaram uma longa guerra de quase 30 anos que terminou com a morte de Savimbi em fevereiro de 2002, num ataque das tropas governamentais.

O Presidente angolano, João Lourenço, fez um apelo à reconciliação e pediu, em maio de 2021, desculpas públicas e perdão às vítimas dos conflitos políticos em Angola, em particular os ocorridos em 27 de Maio de 1977, manifestando vontade de proceder à entrega de certidões de óbito e ossadas.

No entanto, a iniciativa de reconciliação foi posta em causa nos últimos meses, depois de alguns órfãos denunciarem que os exames forenses feitos às ossadas de vítimas do 27 de Maio de 1977 confirmarem que não correspondiam aos seus familiares.

Em 27 de maio de 1977, uma alegada tentativa de golpe de Estado, numa operação que terá sido liderada por Nito Alves — então ex-ministro da Administração Interna desde a independência (11 de novembro de 1975) até outubro de 1976 —, foi violentamente reprimida pelo regime de Agostinho Neto, primeiro Presidente de Angola.

Seis dias antes, o Movimento Popular de Libertação de Angola (MLPA, no poder) expulsara Nito Alves do partido, o que levou o antigo ministro e vários apoiantes a invadirem a prisão de Luanda para libertar outros simpatizantes, assumindo paralelamente o controlo da estação da rádio nacional, um movimento que ficou conhecido como "fracionismo".

As tropas leais a Agostinho Neto, com apoio de militares cubanos, acabaram por estabelecer a ordem e prenderam os revoltosos, seguindo-se depois o que ficou conhecido como "purga", com a eliminação das fações, tendo sido mortas cerca de 30 mil pessoas, na maior parte sem qualquer ligação a Nito Alves, tal como afirma a Amnistia Internacional em vários relatórios sobre o assunto.

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